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A lenda diz que os japoneses não podiam se alimentar da carne de animais com quatro patas

por Francisco Woolf
Segunda-feira, 11 de março de 2013 -15h16

Há alguns dias apresentamos neste espaço um modelo de negócio australiano bem sucedido na criação da raça bovina japonesa wagyu. Para ler este artigo clique na conexão (link).


http://www.scotconsultoria.com.br/noticias/artigos/28673/carne-bovina:-a-materia-prima-japonesa-e-o-modelo-de-negocio-australiano.htm


No Brasil também há um modelo bem sucedido. Os mercados são diferentes e, consequentemente, a forma como o gado wagyu é criado e comercializado também é diferente.


O que não muda é o sabor, a maciez e a lenda por trás da raça. Essa lenda diz que os japoneses não podiam se alimentar da carne de animais com quatro patas, e que o consumo somente foi permitido no final do século XIX, dando início à criação de wagyu. Essa história faz parte do marketing da raça.


E no Brasil, onde está o wagyu? A raça é encontrada em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná.  A estimativa do tamanho do rebanho brasileiro de wagyu puro é de cinco mil cabeças. Um número muito pequeno se comparado ao tamanho do rebanho brasileiro, que está estimado em 212 milhões de cabeças (Pesquisa Pecuária Municipal, 2011).


Essa "raridade" em quantidade, explica em certa medida os preços conseguidos na venda da carne.  Normalmente, por um boi terminado se obtém, R$1.750, normalmente da raça nelore ou anelorado, com o wagyu se obtém R$12mil.


Pioneira na criação de wagyu no país, a fazenda Yakult, em Bragança Paulista - SP, cria a raça desde 1993. Há uma grande diferença no manejo da Yakult em relação ao sistema de produção tradicional brasileiro. Para começar, os bovinos wagyu são confinados desde o desmame até o abate. Já dá para perceber que os custos de produção são mais altos.


Com 30 a 36 meses são abatidos e o rendimento médio de carcaça é de 56,7%. A Yakult possui escala de BMS 3,84, que é o grau de marmoreio da raça wagyu. Esta escala, comparativamente, é bem menor que a encontrada no modelo de negócio australiano (veja a conexão). O mercado brasileiro de carne de wagyu com certeza passará por um processo onde os consumidores buscarão graus de BMS mais elevados e os produtores buscarão alternativas para atender a essa demanda.


A fazenda Yakult possui um rebanho de wagyu puro com 600 cabeças e o abate é de 60 animais por ano. O mercadoé pequeno. Porém, os preços no mercado consumidor da carne de wagyu são elevados e dependem do grau de marmoreio e do corte, podendo variar de R$15,00 a R$250,00/ kg. Geralmente, as carnes mais caras são destinadas a restaurantes e hotéis e as mais baratas aos consumidores pessoas físicas, que compram a carne embalada a vácuo na própria fazenda.


Considerações finais


Se a Mayura Station, da Austrália, aposta em três diferentes marcas para atingir os diversos nichos de consumo daquele país, a Yakult, com seu trabalho pioneiro, adaptou-se ao ainda pequeno mercado brasileiro produzindo em pequenas quantidades, com grande agregação de valor, atendendo o varejo e o consumidor final.


Dois modelos de negócios utilizando a mesma matéria prima, porém, ajustados às exigências de mercados diferentes. Exemplos a serem seguidos por toda a cadeia.


*Colaboraram Mariana Queiroz, médica veterinária e pesquisadora da Scot Consultoria, e Rogério Uenishi, da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu.