Foto por: Scot Consultoria
Em Paranaguá-PR, a saca de 60 quilos encerrou 2024 negociada em R$145,50.
No último trimestre de 2023, o mercado esteve atento à quebra de produção no Brasil, em função do fenômeno climático El Niño e atraso das chuvas em regiões no Centro Norte.
O potencial produtivo da safra diminuiu, mas, apesar da redução, a produção nacional somou 153 milhões de toneladas - a segunda maior de sua história.
Os preços caíram de janeiro a abril.
Entre abril e junho, com dúvidas no mercado internacional sobre a safra estadunidense 2024/25, em fase de semeadura e desenvolvimento, menor pressão da oferta na safra brasileira e um dólar mais forte, os preços subiram.
No segundo semestre, a cotação pouco oscilou, tendo a cotação trabalhado, entre R$140,00 e R$145,00/saca, base porto.
Na figura 1 está o preço médio mensal da soja brasileira.
Figura 1.
Preço médio da soja em grão, em Paranaguá-PR, em R$/saca de 60kg.
*até 8/12
Fonte: Scot Consultoria
Apesar da melhora nos preços no segundo semestre, a referência vigente é praticamente a mesma de igual período de 2023.
A demanda no Brasil - e no mundo, detalhes adiante - esteve aquecida em 2024.
A exportação, até novembro, foi de 96,8 milhões de toneladas, volume 1,3% menor que em 2023 – ano recorde.
Figura 2.
Exportação de soja, até novembro, em milhões de toneladas.
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
No mercado interno, o esmagamento da soja aumentou, impulsionado pela alteração do teor de biodiesel no diesel, que passou de 12% para 14% em 2024 e, a partir de 1 de março de 2025, passará para 15%.
O óleo de soja é a principal matéria-prima da produção do biodiesel, a participação maior do biodiesel no diesel em 2024, estimulou a demanda no Brasil.
Além disso, a exportação do farelo de soja esteve aquecida em 2024. O embarque foi de 21,8 milhões de toneladas até novembro, volume 3,0% maior em relação ao mesmo período em 2023.
No mercado doméstico, a produção de aves e suínos em 2024, até o terceiro trimestre, aumentou em relação a 2023. O setor é o principal consumidor de farelo de soja e colaborou com o escoamento da produção.
Para a safra 2024/25, a produção global, em dezembro/24, estava estimada em 425,4 milhões de toneladas (USDA), produção 7,8% maior que a de 2023 e, se confirmada, será a maior da história.
A semeadura na América do Sul, que trouxe dúvidas quanto ao potencial da safra em função do atraso das chuvas no Centro Oeste do Brasil em outubro, não deve apresentar mudanças robustas quanto à oferta por aqui.
A safra brasileira, para o ciclo em desenvolvimento, está estimada em 169,0 milhões de toneladas.
Na Argentina, a produção se recuperou em 2023/24, após forte quebra em 2023. No ciclo atual – safra 2024/25, a produção está estimada em 51,0 milhões de toneladas – com a expectativa de uma área maior e manutenção da produtividade no país.
Tabela 1.
Produção de soja, em milhões de toneladas, por país.
País | 2019/20 | 2020/21 | 2021/22 | 2022/23 | 2023/24 | 2024/25* |
Argentina | 48,8 | 46,2 | 43,9 | 25,0 | 48,2 | 51,0 |
Brasil | 128,5 | 139,5 | 130,5 | 162,0 | 153,0 | 169,0 |
China | 18,1 | 19,6 | 16,4 | 20,3 | 20,8 | 20,7 |
Índia | 9,3 | 10,5 | 11,9 | 12,4 | 11,9 | 12,6 |
Outros | 40,0 | 38,8 | 36,2 | 42,7 | 47,5 | 50,7 |
Estados Unidos | 96,6 | 114,7 | 121,5 | 116,2 | 113,3 | 121,4 |
Total | 341,4 | 369,3 | 360,4 | 378,6 | 394,7 | 425,4 |
*estimativa em dezembro/24.
Fonte: USDA
A demanda global por soja, com destaque à China, também cresceu. Mas, o ritmo de crescimento não foi em igual proporção ao da oferta.
Com isso, os estoques finais aumentaram e, para a safra 2024/25, com o atual recorte – a se confirmar, pois ainda há muito desenvolvimento de safra na América do Sul adiante – a expectativa é do maior estoque global da história, 131,7 milhões de toneladas (figura 3).
Figura 3.
Estoques* finais de soja no mundo, em milhões de toneladas (eixo da esquerda), e relação (%) entre o estoque final e o consumo global estimado (eixo da direita).
*estimativa em dez/24.
Fonte: USDA
A perspectiva de oferta global sustenta um cenário de preços com pouco espaço para altas. E, para que uma reversão ocorra, alguns pontos devem ficar no radar:
• uma quebra expressiva no Brasil e na Argentina, o que, até o momento, não se desenha;
• a possibilidade de uma nova guerra comercial entre Estados Unidos e a China, a partir do momento em que Donald Trump assumir o governo estadunidense. Neste contexto, o comprador chinês poderia migrar para a soja brasileira, estimulando alta ou ao menos limitando o viés de baixa nos prêmios de exportação – há de se destacar, porém, que no primeiro mandato de Trump, o mercado de soja esteve com um balanço entre oferta e demanda muito mais apertado e com a pandemia de covid-19 em andamento;
• a manutenção do dólar acima dos R$6,00, com o atual contexto de preços em Chicago (CBOT), parece ter indicado até onde o dólar sustentaria os preços da oleaginosa em reais, por isso vemos o dólar muito mais como um fator de manutenção à baixa, em caso de valorização do real ante a moeda norte-americana (o que, em curto prazo – primeiro trimestre de 2025 – também não está no radar);
Em resumo, o ano deverá ser bem ofertado, o que deverá manter os preços de estabilidade à queda, mas, com alguns pontos que poderão dar sustentação ao longo da temporada, conforme comentamos.
Com relação à demanda, espera-se um bom quadro global para 2025, mas, não o bastante para liquidar a oferta esperada.
Para o próximo ano, a expectativa é de que o Brasil exporte 100 milhões de toneladas. Com o aumento do teor de biodiesel para 15% a partir do próximo ano e a perspectiva de crescimento da produção no setor de aves e suínos, o mercado interno também deverá manter a demanda firme.
Por fim com estoques de passagem confortáveis, há pouco espaço para que a cotação suba, como as ocorridas entre 2020/21 e 2021/22 – ao analisarmos o cenário de preços no mercado internacional (CBOT), o quadro é de estabilidade à queda para os preços lá fora.
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