Ricardo Reis é o nosso convidado dessa semana, ele é zootecnista e docente da área de forragicultura e pastagens na Unesp/FCAV. Ricardo conversou conosco e abordou sobre o desenvolvimento da pesquisa acadêmica na forragicultura, estratégias e desafios enfrentados por esse setor. Boa leitura!
Ricardo Reis possui graduação, mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. De 1982 até atualmente, atua como docente na área de forragicultura e pastagens na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/UNESP), Campus de Jaboticabal. De 1998 a 2000, desenvolveu o programa de treinamento em nível de Pós Doutorado no Agronomy Department, University of Florida. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em avaliação, produção e conservação de forragens, atuando principalmente nos seguintes temas: conservação de forragem e suplementação da dieta de ruminantes em pastejo.
Scot Consultoria – Como as universidades têm trabalhado a questão de parcerias-público-privada, principalmente para levar às indústrias e pecuaristas os avanços desenvolvidos na academia?
Ricardo Reis: Essa pergunta é pertinente e responderei com maior ênfase nas atividades que desenvolvo através de parcerias entre as empresas e a universidade, envolvendo a Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão/Funep, que funciona no Campus da UNESP em Jaboticabal/SP.
Na área de pecuária, temos a demanda por parte das empresas para a avaliação de produtos inovadores com o intuito de aumentar a eficiência de produção e utilização de forragem pelos animais. Essa demanda propicia o desenvolvimento de sistemas de produção com tecnologias de rápida adoção pelo setor produtivo, uma vez que a validação da eficiência pode ser comprovada nos testes de laboratório e de campo.
Da mesma forma, com o apoio de instituições de fomento à pesquisa e inovação, como a FAPESP, CNPq, podemos incrementar a eficiência de uso de recursos financeiros, infraestrutura e mão de obra qualificada para o desenvolvimento de pesquisas inovadoras, de rápida adoção pelo setor produtivo.
Scot Consultoria – Para o senhor, qual a melhor estratégia para driblar o problema de sazonalidade na produção forrageira e assim mantermos o desempenho zootécnico?
Ricardo Reis: A sazonalidade quantitativa e qualitativa da oferta de forragem, sem dúvida é um dos principais entraves para intensificação da pecuária com base no uso de pasto. Tem-se a possibilidade da adoção de diferentes estratégias, desde o confinamento convencional, terminação com o fornecimento de alta quantidade de concentrado a pasto, suplementação de baixo consumo, suplementação com volumosos, irrigação de pastagens em locais onde não há restrição de temperatura e luminosidade para o crescimento da forragem, diferimento do pasto no fim da estação de crescimento, integração lavoura-pecuária e uso de forrageiras de inverno.
A definição da melhor estratégia deve ser pautada nas condições climáticas da região onde está situada a fazenda, na disponibilidade de coprodutos que tenham características nutricionais e preços adequados para o confinamento ou suplementação dos animais em pastejo. Nesse cenário, temos no Brasil opções específicas em termos regionais que colocam o nosso país numa condição ímpar frente ao cenário mundial.
Scot Consultoria – Qual o maior desafio enfrentado pelos pecuaristas que optam por utilizar sistemas mais intensivos de manejo de pastagens?
Ricardo Reis: A intensificação do manejo de pastagens tem por princípio o aumento da eficiência dos processos de utilização da forragem voltado para o aumento dos ganhos de peso por animal e por área. Dessa forma, a intensificação sustentável envolve o aumento da eficiência agronômica do processo de produção do pasto, ou seja, maior produção de forragem que apresente persistência e tolerância ao pastejo e aos fatores ambientais.
A eficiência zootécnica é uma meta primordial, pois a rentabilidade do sistema está relacionada à conversão dos nutrientes da forragem em produto animal vendável, ou seja, o que realmente cobre os custos de produção.
Com base nas eficiências agronômicas e zootécnicas, teremos como consequência a almejada eficiência ambiental, uma vez que teremos maior quantidade de produto animal com menor utilização de insumos. Por fim, temos os ganhos em produtividade e lucratividade, o que propicia os benefícios sociais, devido à melhor remuneração da mão de obra da fazenda.
A intensificação sustentável tem forte associação com a qualificação da mão de obra. Um ponto interessante implícito no processo de intensificação sustentável, é que os benefícios observados em uma fase da atividade devem ser mantidos e até mesmo ampliados nas demais fases. Por exemplo, o aumento da eficiência da cria deve ser mantido e mesmo implementado nas fases de recria e terminação, sob o risco de se praticar o ganho inútil.
Scot Consultoria – As chuvas estão chegando. Na sua opinião, quais os principais critérios que devem ser levados em consideração na hora de decidir entre reformar ou recuperar as pastagens para a próxima safra?
Ricardo Reis: A recuperação das pastagens é uma prática na qual se propicia recomposição da forragem existente na área através da germinação do banco de sementes, ou a distribuição de sementes da mesma espécie. Nessa prática, tem-se considerado a reposição de nutrientes com base na análise do solo. Nesse processo, é imprescindível avaliar as causas da degradação dos pastos, principalmente os aspectos relacionados à queda na fertilidade do solo, incidência de pragas e doenças.
Por via de regra, o manejo inadequado associado à falta de reposição de nutrientes é a principal causa da degradação. A renovação dos pastos implica em preparo e correção do solo, aplicação de fertilizantes com vistas a implantação da mesma espécie ou de outra forrageira. Como relatado anteriormente, é imprescindível a determinação da causa da degradação do pasto, pois se não houver mudanças na forma de manejar o pasto e não houver avaliação e correção da fertilidade, o novo pasto também será degradado.
Muitas vezes a degradação dos pastos está associada ao manejo e falta de reposição de nutrientes e não à espécie forrageira utilizada, pois não existe o capim “milagroso”.
Scot Consultoria – Há uma visão conturbada atualmente sobre a escolha de espécies forrageiras em fazendas, principalmente em áreas de reforma. Quais seriam os parâmetros que o produtor deve levar em consideração para a escolha ideal em sua propriedade?
Ricardo Reis: Na escolha da espécie forrageira deve-se considerar as características de adaptação da espécie às condições edafoclimáticas da fazenda, bem como da eficiência do manejo do pastejo, considerando a exigência nutricional do rebanho. Pode-se destacar as seguintes características na escolha de uma espécie forrageira: produção de forragem (material verde ou material seco); valor nutritivo (composição química e digestibilidade) e aceitação pelo animal (aceitabilidade); persistência; facilidade de propagação e estabelecimento; resistência a pragas e doenças.
O manejo das pastagens tem as seguintes finalidades: melhoria da eficiência de aproveitamento da forragem; melhora da conversão alimentar; possibilidade de utilização de suplementos; aumento da produtividade; evita a degradação das áreas de pastagens; menor investimento na recuperação e reforma.
Scot Consultoria – Hoje, a sustentabilidade é pauta dos principais debates quanto ao agronegócio e, principalmente, a pecuária nacional. Os sistemas de integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF/ILP) são figurantes principais nesse sentido. Qual a sua sugestão para o produtor que pretende iniciar no sistema ILPF e não sabe por onde começar e quais cultivares melhor se adaptam a esses sistemas?
Ricardo Reis: Os sistemas de integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF/ILP) envolvem o conhecimento das atividades relacionadas à agricultura, práticas de manejo de espécies florestais e muitos pecuaristas não têm na sua rotina de trabalho o manejo dos pastos com mesmo critério dos adotados nas atividades enumeradas.
Dessa forma, entendemos que a adoção dos sistemas de ILPF/ILP tem maior possibilidade de adoção por parte de agricultores que veem oportunidades de ingressarem na pecuária. Informações disponíveis evidenciam que as espécies de braquiárias Piatã e Paiaguás são as mais adaptadas.