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A manutenção da fertilidade do solo é a chave para uma pecuária produtiva

por Neivaldo Caceres
Terça-Feira, 09 de Abril de 2024 - 06h00



Scot Consultoria: Neivaldo, quais práticas você recomenda para um pecuarista que está buscando iniciar um sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) em sua propriedade?



Neivaldo: Primeiramente o entendimento de qual melhor cultura deve compor a integração com a pastagem, tanto do ponto de vista edafoclimático, como do econômico para a região. Não adianta plantar uma cultura que não terá acesso a maquinário necessário ou cadeia local de comercialização da produção. Depois, ter um perfeito mapeamento da fertilidade do solo, através de análise de solo, e estar seguro da análise financeira dos custos e receitas que estarão envolvidos no processo de integração.



Eu vejo as integrações Lavoura-Pecuária (ILP), Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Pecuária-Floresta (IPF), estas últimas onde entram o fator florestal, como uma prática interessante de diversificação de receita que vai além da pecuária e onde se eleva o patamar tecnológico da propriedade, mas não se deve buscar essas alternativas por “modismo”, mas sim embasado em sólidos parâmetros técnicos e econômicos, onde profissionais capacitados podem, e devem, amparar o pecuarista nesta tomada de decisão.



Scot Consultoria: Qual a diferença entre reforma e recuperação de pastagens?



Neivaldo: Na reforma, ou renovação da pastagem, ocorre a destruição da pastagem existente com preparo de solo, nova semeadura, e todos os tempos envolvidos nesse processo, até a retomada do pastejo posteriormente. Na recuperação, a pastagem é preservada, devendo-se fazer uma recomposição da fertilidade do solo, principalmente através de calagem e fertilizantes fosfatados. Em conjunto, deve ser feito o controle das plantas daninhas, pois seguramente no ambiente de recuperação ocorre intensa infestação por plantas indesejáveis.



As principais vantagens da recuperação em detrimento da reforma são os menores custos envolvidos, por vezes, um terço a até um quinto dos custos de uma reforma e o tempo que a área fica impedida para pastoreio, onde na reforma pode ficar entre 4 e 6 meses sem uso, desde aração, gradagem, semeadura, até início do pastejo, e na recuperação algo em torno de dois meses, entre a aplicação do herbicida e a recuperação da pastagem. Ou seja, o pecuarista pode ganhar até 4 meses de pastejo optando pela recuperação, a custos menores que os envolvidos na reforma.



O parâmetro fundamental para essa escolha deve ser baseado na presença de capim, a área candidata a ser recuperada deve ter uma população mínima de plantas que permita que, uma vez eliminadas as plantas daninhas, haverá plantas da forrageira suficientes para recompor a cobertura do solo. Para se ter uma ideia, no caso das braquiárias, havendo 2 a 3 plantas por metro quadrado, mesmo que sofridas pela competição com as daninhas, a pastagem fecha, uma vez eliminada a competição com as invasoras.



Só se recomenda a reforma nas áreas onde ocorram muitas clareiras com ausência de capim, ou se queira substituir a espécie da forrageira existente.



Scot Consultoria: Em relação ao manejo e intensificação de pastagens, quando seria o momento ideal para o pecuarista começar a planejar a reforma das pastagens em sua propriedade? E qual insumo representa o maior custo nesse contexto?



Neivaldo: Interessante esse ponto porque, lembrando que a pastagem é uma cultura perene, num pasto bem manejado nunca se faz reforma, a menos que se queira substituir a espécie forrageira, como falamos anteriormente. Mas, na realidade, é natural que numa propriedade de pecuária ocorram áreas que ficaram degradadas e necessitem reforma. O ideal é que a propriedade tenha um mapeamento total e nesse mapeamento se identifique as condições de cada pasto, classificando os que estão em ótimas condições; os que possuem boa população de forrageiras, mas necessitam adubação; os que necessitam controle de plantas daninhas; ou áreas que necessitam as duas coisas; e os pastos que não têm mais retorno e necessitam reforma. Deste mapeamento se faz um plano de investimento, respeitando a capacidade financeira da empresa, mas seguramente o planejamento das reformas são feitos com, no mínimo, um ano de antecedência, para adequada programação das operações e aquisição dos insumos sem atropelos. Na composição de custos da reforma, o mais significativo é referente a corretivos e fertilizantes, chegando a próximo de 50%, outros relevantes 25% referem-se a operações mecanizadas e 25% os restantes estão relacionados a mão-de-obra, sementes e defensivos. Especificamente os herbicidas, na composição de custos, giram na ordem de 5 a 7% do montante, um investimento essencial para um retorno bastante significativo que, literalmente, pode definir o sucesso ou não de todo o investimento, onde perdas de até 50% na produtividade podem ser observadas caso não se faça o controle das plantas daninhas nessa fase de implantação da pastagem.



Scot Consultoria: Quais práticas de manejo de solo você recomenda para melhorar tanto a produtividade quanto a sustentabilidade das operações agrícolas? Qual o papel dos fertilizantes orgânicos/alternativos neste contexto?



Neivaldo: A manutenção da fertilidade do solo é chave para uma pecuária produtiva. O pasto é um sistema vivo de reciclagem de nutrientes onde, por vezes, o profundo sistema radicular do capim bombeia nutrientes de subsuperfície para superfície. Dejetos dos animais: fezes e urina, são fertilizantes naturais, entretanto, o pecuarista deve considerar que há grande extração no sistema, onde o capim se converte em carne, leite e bezerros ao longo do processo produtivo.



Fertilizantes organominerais e alternativos, como aminoácidos e biofertilizantes, estão em grande evolução de conhecimentos técnicos nas grandes culturas, onde já se maneja com excelência a adubação. No caso das pastagens, eu vejo o uso desses insumos como um refinamento da adubação tradicional. O pecuarista deve se perguntar se já está com os níveis de cálcio e magnésio de seus solos adequados através da calagem. Se está fazendo as reposições adequadas, principalmente dos macronutrientes nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre, tudo isso amparado por análise de solo. A partir do momento que o pecuarista responda “sim” a todas essas perguntas, ele pode partir para a nova etapa, que eu chamo de refinamento na fertilização de suas pastagens, utilizando-se destes insumos diferenciados.



Cabe reforçar que antes do emprego de fertilizantes, a pastagem deve estar livre da infestação por plantas daninhas, caso contrário o pecuarista estará também adubando as plantas que competem com sua pastagem.



Scot Consultoria: Com a crescente demanda por produção sustentável, como integrar práticas de manejo de pastagens para bovinos que promovam produtividade, conservação ambiental e rentabilidade econômica?



Neivaldo:  Produtividade, conservação ambiental e rentabilidade econômica são hoje fatores inseparáveis. O emprego de tecnologia se caracteriza como essencial para a permanência na atividade pecuária atualmente, e cada vez mais será diferencial no futuro. As ferramentas de administração e planejamento são recursos com amplo acesso e auxiliam o empresário rural nas melhores tomadas de decisão. Dentro da tecnologia disponível destacamos avanços na genética, na sanidade e na nutrição do rebanho, e no aspecto da nutrição, lembramos que o capim representa aproximadamente 95% do alimento do rebanho brasileiro, dadas as benesses de nosso clima tropical, assim, pecuária sustentável e econômica, em nossas condições, se traduz em pastos produtivos, que exploram o máximo do potencial de clima e solo do local. O pecuarista eficiente é um bom cultivador de capim, que trata seu pasto como lavoura, como já falo há décadas, e hoje é um conceito amplamente defendido por pesquisadores e consultores respeitados, e o manejo da pastagem, traduzido pela correta entrada e saída dos animais em cada pasto, com adequada carga animal introduzida, é um dos fatores mais importantes para determinar o sucesso da atividade.



No quesito ambiental, já se tem cientificamente estabelecido que um pasto de alta produção forrageira fixa mais carbono que áreas com vegetação natural, e o pecuarista, em sua maciça maioria, é um aliado do meio ambiente, que respeita nosso rigorosíssimo Código Florestal e hoje até colhe frutos das práticas ambientais adotadas em favor da comercialização de sua produção, cada vez mais cobrada pela sociedade e seus parceiros comerciais.



Scot Consultoria: Atualmente estamos em fase de baixa do ciclo pecuário, qual o impacto deste período no investimento de tecnologia para pastagens? Quais estratégias o pecuarista pode adotar para contornar este cenário?



Neivaldo: Justamente nos períodos de baixa, como o que passamos atualmente, é que o pecuarista deve investir em tecnologia. Logicamente dentro da capacidade de investimento de cada empresário, mas tenha em mente que esse ciclo se reverte, e quem estiver mais bem posicionado na retomada econômica terá produtos para entrega para o mercado com preços favoráveis do momento, se diferenciará e ganhará dinheiro. Sábio o empresário que na época de alta soube investir recursos para atravessar o previsível período de “vacas magras” que viria, hoje presente.



Invista na limpeza das pastagens. Recentemente houve um realinhamento dos custos dos insumos, fruto de abalos na produção no período da pandemia, e que apenas agora foram equilibrados, assim, muitos insumos, particularmente falando dos herbicidas, estão mais bem equacionados e podem proporcionar ao pecuarista aquisições sob condições mais favoráveis que as disponíveis a um ou dois anos atrás.



Sempre o pecuarista que adota tecnologia ganha mais que o que não adota, neste período de baixa o diferencial entre um e outro diminui, mas sempre existe. Infeliz o pecuarista que está negligenciando cuidados às suas pastagens atualmente, o esforço para retomada da atividade, quando as condições forem favoráveis, será maior, e em muitos casos, o forçará a abandonar a atividade, sendo “engolido” por quem está investindo agora com eficiência.



Scot Consultoria: Neivaldo, mais um ano presente no evento da Scot Consultoria, o Encontro de Confinamento e Recriadores. O que podemos esperar para a palestra deste ano?



Neivaldo: Uma grande honra participar dessa “Copa do Mundo” da pecuária brasileira, onde sempre estão presentes os mais importantes integrantes do segmento, desde empresas, consultores, jornalistas, pesquisadores e pecuaristas. A Scot Consultoria mais uma vez se diferencia tornando realidade esse importante fórum de debates, de troca de informações e network.



Estou muito feliz em participar de mais essa edição, e em nossa apresentação, no bloco de abertura do evento, trarei pontos para reflexão sobre as plantas daninhas que infestam as pastagens, onde e como o pecuarista está perdendo com este convívio. Também discutiremos práticas, ou princípios, que sem custo, levam a fazenda a contornar, ou minimizar, esses problemas. Por fim, faremos uma breve análise de como estamos manejando as plantas daninhas em nossas pastagens, os problemas já solucionados, avanços próximos que vislumbramos, e novos desafios a serem enfrentados num breve futuro. Até lá.