Scot Consultoria: A quinta edição do Confina Brasil, pesquisa-expedicionária realizada pela Scot Consultoria, começou em 3 de junho. Após três rotas, quais estados e quantas propriedades já foram visitados pelo projeto em 2024?
Resposta: Foram três rotas de lá para cá, com a equipe tendo a experiência de passar por nove estados (SP, PR, MS, MT, RO, GO, MG, TO e PA) e mais de 120 propriedades que se dedicam à engorda intensiva e semi-intensiva.
Scot Consultoria: Durante a segunda rota, a equipe passou por Mato Grosso, Rondônia e Goiás, o que podemos destacar dessa rodagem?
Resposta: Um dos pontos que mais chamou a atenção durante as visitas, principalmente em Rondônia, foi o contrato a termo firmado entre muitos confinamentos com os frigoríficos, tendo como um dos principais objetivos trazer previsibilidade ao preço do boi gordo e garantir parcialmente a escala da indústria em um momento de ofertas menores. Além disso, em busca do melhor momento para o abate, produtores se beneficiam também de tecnologias de gestão, como softwares que geram previsões e ajudam a construir estratégias para terminar o gado confinado. A busca pela intensificação tem sido crescente no estado, além de confinamentos, muitos semiconfinamentos estão iniciando suas atividades este ano. Em Mato Grosso, podemos destacar a mudança do olhar do pecuarista para os boitéis. Os produtores estão vendo viabilidade na engorda terceirizada, já os confinadores, enxergam como uma oportunidade de rentabilizar ainda mais o seu negócio. Não podemos deixar de falar das fazendas que tem apostado na integração lavoura-pecuária (ILP), rotacionando pastagem com lavoura e no uso de resíduos da agroindústria na nutrição do gado.
Scot Consultoria: E na terceira rota? Acompanhando a rodagem do último mês, vimos que o Pará desempenha um papel de destaque na exportação de gado em pé. O que o Confina Brasil pode observar durante as visitas na região norte do estado?
Resposta: O Pará se consolidou mais uma vez como o maior exportador do Brasil, com 51,41% das exportações de gado em pé em 2024 (238.582 cabeças embarcadas), destacando-se como um polo estratégico da pecuária. Atendendo a esta demanda, muitos confinamentos do estado atuam como estações pré-embarque (EPEs), onde os bovinos passam por um período de quarentena e são monitorados em relação à sanidade e ao peso.
Scot Consultoria: Quais os desafios enfrentados pelos pecuaristas na preparação do gado para exportação? As condições logísticas influenciam na viabilidade desse mercado?
Resposta: Os principais desafios das estações de pré-embarque (EPEs) incluem o cumprimento de rigorosos protocolos sanitários e de bem-estar animal, o manejo nutricional adequado para atender às exigências de peso dos países importadores e a necessidade de estruturas adequadas, como sombreamento e espaçamento dos currais. A alta rotatividade de lotes e a distância limitada até os portos também exigem uma logística eficiente. Além disso, a realização de exames adicionais, especialmente para mercados mais exigentes, aumenta a complexidade do manejo e da operação logística. No que diz respeito à logística, um dos pontos de destaque é a proximidade com os portos do Norte, como o Porto de Vila do Conde, em Barcarena.
Scot Consultoria: Quais são os principais destinos para o gado exportado pelo Pará?
Resposta: A comercialização é forte entre mercados do Oriente Médio, Norte da África e Ásia, que possuem uma demanda significativa por gado em pé. Segundo o que a pesquisa evidenciou durante sua passagem pelo estado, e confirmado por dados oficiais da Secex, Iraque e Egito são os principais compradores do Brasil em 2024, até o momento.
Scot Consultoria: Fora as estações pré-embarque, também é possível notar avanços na agropecuária tradicional do estado paraense?
Resposta: Além da relevância das EPEs, o Pará tem se destacado pela intensificação da agropecuária como um todo. O confinamento bovino no estado tem surgido como uma importante estratégia para intensificação da pecuária de corte, acompanhando o crescimento do setor na região Norte do Brasil e respondendo à pressão ambiental sobre as áreas produtivas em biomas amazônicos.
Com o desenvolvimento da lavoura, como a produção de milho e a expansão da soja, tem se viabilizado o uso de subprodutos agrícolas na dieta dos bovinos. Trazendo alguns dados para demonstrar, nos confinamentos visitados pela expedição esse ano, 43,0% já realizam a prática de integração lavoura-pecuária, enquanto 86,0% produzem sua própria silagem, o que mostra uma maior autonomia das propriedades em relação à nutrição.
Scot Consultoria: A expedição ainda está em andamento, mas qual é a impressão geral deixada até aqui? Quais são os próximos estados a serem visitados?
Resposta: A impressão deixada até aqui é que a pecuária intensiva tem evoluído muito e ainda tem muito para crescer. A leitura e o acompanhamento do mercado pecuário feito pelos produtores está mudando. A forma de olhar para a produção está mudando. Não é mais só “engordar boi”, mas sim gerir dados, buscar estratégias, integrar áreas, produzir alimento e deixar sua marca na pecuária. Com um mercado cada vez mais oscilante, e uma perspectiva de virada de ciclo, fica evidente uma busca desses produtores por aumentar a produtividade por área, reduzir custos de produção e ter mais autonomia dentro da operação.
Estamos iniciando nossa quarta rota e ainda passaremos pelo Maranhão, Piauí e Bahia.
Scot Consultoria: Alguma mensagem para deixar para os leitores?
Resposta: É evidente que a pecuária intensiva e a integração lavoura-pecuária estão em plena expansão, reforçando cada vez mais o profissionalismo e a busca por produtividade pelos produtores brasileiros. Para quem deseja se aprofundar em estratégias de intensificação de pastagens, manejo e oportunidades de mercado, convido todos a participarem do evento de Intensificação De Pastagens da Scot Consultoria, nos dias 25 e 26 de setembro, em Ribeirão Preto-SP. Será uma excelente oportunidade para discutir essas tendências, aprimorar os conhecimentos e ampliar sua rede de relacionamentos!