Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Melhoramento genético e integração de sistemas: um caminho para uma pecuária produtiva e sustentável

por Antônio do Nascimento Ferreira Rosa
Segunda-Feira, 30 de Setembro de 2024 - 06h00


Scot Consultoria: O senhor pode comentar um pouco sobre o que é a seleção genômica e como ela pode acelerar o progresso genético em bovinos de corte? Sabendo das dimensões continentais do Brasil, quais são as limitações práticas que a abordagem pode encontrar no campo? 

Antônio Rosa: Basicamente, a seleção genômica é assim denominada quando se usa o suporte da genotipagem (determinação de marcadores genéticos, responsáveis pela herança dos caracteres, que se encontram no DNA - estrutura localizada no núcleo das células) dos animais submetidos aos processos de seleção. 

O primeiro impacto da genotipagem se deve à possibilidade do uso do parentesco real entre os indivíduos no sistema matricial da avaliação genética, e não do parentesco médio, como ocorria até poucos anos atrás. Com este recurso, os resultados da avaliação de animais testados podem contribuir para a estimação do valor genético genômico de outros, aparentados com os primeiros, mesmo sem terem eles participado das provas zootécnicas. 

Com o uso da genômica, os primeiros benefícios são verificados no aumento da acurácia (precisão) das estimativas dos valores genéticos, por possibilitar uma amostragem mais ampla do material genético na população, a partir das relações de parentesco genômico, o que viabiliza a seleção de animais em idades mais jovens, com mais segurança, proporcionando, por consequência, ganhos relativos à diminuição do intervalo de gerações. 

Os resultados mais impactantes da genômica se verificam em características de difícil mensuração, tais como: eficiência alimentar, ou de mensurações possíveis de serem feitas, mas em idades mais avançadas dos animais, como ocorre para habilidade maternal, idade à primeira cria e stayability (medida de eficiência reprodutiva das vacas). 

De um modo geral, esta técnica é utilizada em rebanhos de seleção, a partir dos quais os ganhos genéticos são transferidos às outras camadas da população, rebanhos multiplicadores e comerciais. À medida que a genotipagem foi sendo mais compreendida e aceita pelos criadores e por elos importantes da cadeia produtiva, as limitações práticas atuais são, praticamente, devidas aos custos das análises laboratoriais, embora, a cada ano, cada vez mais acessíveis. 

Scot Consultoria: A Embrapa Gado de Corte foi pioneira na adoção e difusão de sistema agropastoris (integração entre lavoura e pecuária e, posteriormente, floresta). Quais foram os pontos principais que, à época, levaram a Embrapa à adoção dessa prática? O senhor pode comentar como está a adoção desses sistemas no Brasil e quais são suas perspectivas para os próximos anos? 

Antônio Rosa: A princípio, por volta dos anos de 1980, a agricultura entrou no roteiro dos nossos pesquisadores como alternativa para a reforma de pastagens degradadas, tendo-se iniciado com plantios de arroz, depois sorgo e, finalmente, milho e soja. Ao longo do tempo, se percebeu o valor da rotação das culturas com a pastagem, melhorando as condições físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo no controle de pragas, doenças e invasoras e na eficiência de uso da terra. 

Atualmente, o Brasil conta com uma área de mais de 17,5 milhões de hectares com algum modelo de sistema de integração, sendo 83,0% com ILP, 16,0% com o componente florestal como ILPF ou IPF, e apenas 1,0% com ILF. 

Scot Consultoria: Quais são, no seu ponto de vista, os principais ganhos que os sistemas agropastoris e os agrossilvipastoris (integração lavoura-pecuária-floresta) promovem ao pecuarista? E, hoje, quais são os potenciais choques de realidade entre os sistemas que o produtor poderá enfrentar ao buscar tais modelos de produção? 

Antônio Rosa: Como informado na resposta anterior, o principal impacto da lavoura, ao ser inserida num sistema de rotação com a pastagem, é a melhoria das condições de solo, o que proporciona pastagens mais produtivas e de melhor qualidade. Um dos problemas enfrentados para o uso desta alternativa, é que o produtor de gado de corte, na maioria dos casos, não tem experiência e infraestrutura adequada para o trabalho na agricultura, o que costuma ser superado com acordos de arrendamento ou parceria com lavoureiros. 

Por outro lado, a incorporação do componente florestal apresenta as vantagens de maior fixação do carbono no sistema e melhor bem-estar aos animais. As dificuldades, neste caso, se devem à necessidade de arranjos espaciais e manejos adequados do componente florestal para se evitar sombreamento excessivo às forrageiras. As oportunidades mercadológicas para os produtos florestais devem ser também observadas no planejamento e durante a condução do sistema para a obtenção de produtos com características demandadas pela cadeia. Neste contexto, o uso de espécies florestais nativas em cultivos permanentes pode ser uma alternativa de diversificação e de produtos com maior valor agregado. 

No balanço dessas questões, observa-se uma tendência de mais fácil adoção de sistemas de baixo carbono, mais simples de serem conduzidos, por não dependerem do componente florestal diretamente, no sistema, e dos sistemas de produção Carbono Nativo, com uso de árvores nativas permanentes. 

Scot Consultoria: Investir em melhoramento genético e manter na adoção de sistemas ILPF, IPF e ILP dentro da propriedade é pensar também em sustentabilidade. Como essas duas tecnologias interferem em uma pecuária mais sustentável? 

Antônio Rosa: O melhoramento genético vem contribuindo, diretamente, neste contexto, de duas formas. Em primeiro lugar, pelos ganhos extraordinários em precocidade sexual e de acabamento, conformação frigorífica e eficiência alimentar dos animais, o que proporciona ciclos de produção mais curtos, com diminuição de custos e das emissões totais de gases de efeito estufa. 

Por outro lado, a seleção de animais mais adaptados às condições ambientais, numa pecuária conduzida, predominantemente, em pastagens, reduz a necessidade de uso de quimioterápicos e pesticidas, com ganhos para o meio ambiente e a segurança alimentar. 

Com relação aos sistemas integrados, destacam-se a melhoria das condições de nutrição e bem-estar dos animais e a fixação de carbono pelo sistema. 

Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens aconteceu nesta semana, o senhor pode nos contar o que foi abordado em sua apresentação? 

Antônio Rosa: Em atenção ao generoso convite que me foi feito pela equipe Scot Consultoria, em desdobramento de visita a nossa Unidade da Embrapa, em Campo Grande, MS, foi abordado um breve retrospecto da história de nossa pecuária de corte, enaltecendo nossa capacidade de resiliência e de superação de desafios que fazem dela a mais sustentável do planeta.