A Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (ITC, sigla em inglês) acaba de lançar uma investigação sobre a competitividade global das exportações agrícolas do Brasil e seu impacto sobre as exportações americanas para terceiros mercados.
A ITC, que se diz uma agencia federal independente e não partidária, fará a investigação a pedido do Comitê de Finanças do Senado americano, vai cobrir o período 2006-2010 e focará no avanço brasileiro nos mercados internacionais de carnes, grãos e oleaginosos.
Os americanos não escondem que a preocupação é que a elevação substancial das exportações brasileiras tomou fatias de mercado dos produtores americanos em vários produtos.
Um dos alvos é inclusive o avanço de multinacionais brasileiras do agronegócio no comércio de carne bovina, com compras de ativos nos EUA, Austrália e outros países.
Na carta pedindo a investigação, o Comitê do Senado diz que as exportações agrícolas brasileiras, alegando que cresceram substancialmente na última década, sobretudo em carnes bovina, de porco e frango, além de soja e milho, todos os produtos exportados em quantidades importantes pelos EUA.
Esse crescimento (do Brasil) alterou a paisagem competitiva nos mercados agrícolas internacionais e resultou em declínio da fatia de mercado para exportadores agrícolas americanos em certos países e produtos, diz o texto.
A iniciativa de investigar a agricultura brasileira partiu do presidente do Comitê de Finanças do Senado, Max Baucus (democrata do Montana) e do republicano Orrin Hatch (Utah).
Com seu significante crescimento nas exportações agrícolas nos últimos anos, o Brasil emergiu como um grande competidor dos produtores americanos no mercado internacional, disse Hatch no Senado.
Para Baucus, os EUA e o Brasil são dois dos poucos países que podem reforçar as exportações agrícolas para atender a crescente demanda global por alimentos.
Na sua investigação, vai se concentrar em seis pontos principais.
Primeiro, um exame da produção agrícola brasileira, incluindo recentes tendências na produção, consumo e comércio.
Segundo, participação do Brasil e dos EUA nas exportações globais de carnês, grãos e oleaginosos, particularmente na União Europeia, Rússia, China e Rússia, além de mercados com os quais o Brasil negociou acordos preferenciais de comércio.
Fará um exame detalhado dos fatores competitivos do setor agrícola no Brasil, como custo de produção, transporte e infraestrutura, tecnologia, taxa de cambio, subsídios domésticos e programas do governo vinculados aos mercados agrícolas.
Em quarto lugar, fará uma avaliação do crescimento das multinacionais brasileiras do setor agrícola e seu efeito na cadeia de abastecimento global do produto.
Também analisará as medidas comerciais afetando as exportações do Brasil e dos EUA de produtos como carnes, grãos e oleaginosos em terceiros mercados, incluindo medidas sanitárias, barreiras técnicas ao comércio, etc.
O ITC fará também uma analise quantitativa dos efeitos econômicos de tarifas preferenciais negociadas pelo Brasil, sobre as exportações dos EUA e do Brasil. Além dos efeitos econômicos de medidas não tarifárias.
Para os senadores, a investigação ‘ajudará o setor agrícola dos EUA a desenvolver estratégias para se manter competitivo no mercado internacional’.
Na verdade, a investigação americana já vem tarde, diante do poderio brasileiro no comercio agrícola mundial. A China e a Índia já foram alvos do ITC.
Parece claro que, de um lado, a investigação americana mostrará que a competitividade da agrícola brasileira diminuiu nos últimos tempos, por causa do real fortemente valorizado, por exemplo.
Por outro lado, a força da moeda também ajudou empresas brasileiras a comprarem ativos no exterior para driblar barreiras comerciais. Ou seja, se não pode exportar carne bovina para os EUA, adquire companhias lá e na Austrália, por exemplo.
Fonte: Valor Online. Por Assis Moreira. 20 de maio de 2011.