O avanço da cana-de-açúcar sobre as áreas de pastagem tem obrigado os criadores de gado de corte a buscar saídas para manter a competitividade da atividade. Entre as alternativas estão a intensificação da pastagem, a utilização de tecnologia, o melhoramento genético e a migração da criação para outras áreas, como Norte e Nordeste.
O Grupo Jacarezinho, que há mais de 20 anos cultiva cana em Valparaíso (SP), está transferindo a parte de pecuária para o Oeste baiano. No município paulista, está construindo uma usina que entrará em operação em 2008.
A migração do rebanho começou em 2004 e deve terminar em 2010, quando todas as 40 mil matrizes do projeto deverão estar na Bahia. Segundo o diretor do grupo, Ian Hill, até o momento, cerca de 40% do rebanho já foram transferidos.
De acordo com Hill, a valorização da cana como matriz energética tornou viável a cultura em São Paulo e agregou valor às terras. “A mudança do rebanho está sendo vantajosa. Ficamos mais perto do Pará, Tocantins, Goiás e da Bahia, onde estão alguns dos nossos grandes clientes”, diz. “Nosso negócio até melhorou, mantivemos os clientes tradicionais e ampliamos a carteira.”
Pressão positiva
Segundo Leonardo Alencar, zootecnista e consultor da Scot Consultoria, não só a cana, mas a agricultura tem avançado sobre a pecuária por causa da crise que o setor passou nos últimos anos. “Além da melhor rentabilidade, o cenário interno e externo é mais favorável para a cana”, diz, acrescentando que a pressão da cana em São Paulo tem outro agravante: o aumento do custo da mão-de-obra para o pecuarista.
No entanto, Alencar observa que a pressão da agricultura sobre a pecuária tem um lado positivo. “Está incentivado o pecuarista a utilizar tecnologia e genética e a produzir de forma mais intensiva para melhorar a rentabilidade.”
Na análise do consultor, a pecuária está recuperando as perdas dos últimos anos e a pressão da cana deve empurrar a criação para regiões onde o custo de produção é mais baixo e aonde concorre menos com a cana, que deve ficar mais próxima das usinas, em São Paulo, Triângulo Mineiro, Noroeste do Paraná, Sul de Goiás e Leste de Mato Grosso do Sul. Já a pecuária, diz, está caminhando para o Norte do País, com destaque para Rondônia. “Há uma vantagem de produzir o gado no Norte, a criação é a pasto, o que está de acordo com o marketing do boi de capim”, destaca.
Para Alencar, é possível aumentar a produtividade, sem avançar sobre a floresta amazônica. “O País pode crescer em produção sem desmatar uma árvore sequer, basta aumentar a capacidade de suporte das pastagens, melhorar a tecnologia e a genética.”
Fonte: O Estado de São Paulo. Suplemento Agrícola. Por Beth Melo. 2 de maio de 2007.