O consumidor de leite deve esperar por novas altas do produto, após a disparada em junho, que trouxe a recuperação no valor pago ao produtor. Especialistas ouvidos pela Agência Estado apontam que o mercado continua firme, com 85% das indústrias prevendo novos aumentos e com um verdadeiro leilão pelo leite nas principais regiões produtoras. "A tendência é de alta, porque ainda falta leite no mercado interno e as exportações, apesar de representar apenas 3% da produção nacional, seguem firmes", disse Cristiane de Paulo Turco, da Scot Consultoria.
A exportação para cobrir um déficit de leite em pó da Austrália e Nova Zelândia, tradicionais players do mercado e que sofreram com longos períodos de seca, é um dos principais motivos apontados para a alta. No mercado internacional, a tonelada do leite em pó saltou de US$2 mil a US$2,5 mil para até US$5,5 mil. Mas dois outros fatores também explicam a disparada no preço do leite: a estiagem em regiões produtoras do Brasil - que gera a entressafra do produto - e o aumento consumo de derivados, graças ao aumento de renda.
De acordo com a Scot Consultoria, o preço médio nacional do leite pago ao produtor em junho aumentou 7,7% e atingiu R$0,609 o litro, valor mais alto nos últimos três anos e dez meses. "Mas, se analisarmos os valores médios acumulados dos cinco primeiros meses do ano, o que existe é apenas uma recuperação, já que, em valores atualizados, em 2005 e em 2001, por exemplo, os preços foram maiores que em 2007 neste período", explicou Cristiane.
Outro instituto de pesquisa, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea/Esalq/USP), aponta uma alta de quase 25% no preço do leite entre fevereiro e junho, valores recebidos pelas produções de janeiro e maio. De acordo com o Cepea o preço recebido pelo produtor saltou de R$0,5005 o litro em fevereiro para R$0,6244 o litro no mês passado.
Nesta semana, no entanto, o leite tipo B já tem como piso os R$0,70 em diversas regiões produtoras, como a Alta Mogiana Paulista e o Sul de Minas Gerais, onde é difícil encontrar o produto. "Foram 12 anos de desmotivação, o que levou muito produtor a abandonar a pecuária leiteira e contribuiu para essa pouca oferta", afirmou Marcelo Barbosa Avelar, vice-presidente da Cooperativa Nacional Agro-Industrial (Coonai).
De acordo com o executivo, a cooperativa produtora de leite pasteurizado estima pagar entre R$0,72 e R$0,75 o litro em junho, apesar das férias escolares reduzirem a demanda pelo leite servido na merenda e também nas residências. "Nas férias a criança acorda tarde e nem sempre toma leite", explicou Avelar. Já o mercado spot, o do leite comercializado entre as indústrias, o produto é negociado acima de R$1,00 o litro e o longa vida, nas prateleiras dos supermercados, já atingiu R$2,00 o litro, aumento de até 35% nos últimos dois meses.
De acordo com o Valter Roberto Santos Pereira, consultor da Targ Milk, a alta no varejo fez com que muitos produtores exigissem o pagamento do produto indexado ao do leite longa vida. "O produtor que tem leite pede 45% do preço vendido no supermercado", afirmou Pereira, que admite a dificuldade na compra do produto. "É uma guerra e um leilão. Você fecha uma compra por um valor e o produtor te liga em seguida pedindo mais porque ofereceram um outro preço pelo leite", concluiu.
Fonte: Agência Estado. Por Gustavo Porto. 3 de julho de 2007.