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Alta do leite anima produtor gaúcho, que volta a investir

por Equipe Scot Consultoria
Sexta-feira, 24 de agosto de 2007 -08h59
Depois de pelo menos três anos de baixa, a alta dos preços do leite trouxe novo ânimo aos produtores do setor no Rio Grande do Sul. Puxadas pelo aumento da demanda nos mercados internacional e doméstico, pela queda da produção em países importantes como Austrália e Nova Zelândia e pelo corte de subsídios na União Européia, as cotações estão levando os criadores a investir na renovação e na ampliação de plantéis, na melhoria das pastagens e no reforço da infra-estrutura operacional para ganhar escala, reduzir custos e aumentar a rentabilidade.

Segundo Cristiane de Paula Turco, da Scot Consultoria, o preço médio pago aos produtores gaúchos subiu 53% desde janeiro, para R$0,69 por litro entregue em julho, mas criadores de maior porte como Nelson Kussler, dono da Agropecuária Sol Nascente, de Ibirubá, a 300 quilômetros de Porto Alegre, chegam a receber R$0,84 bruto hoje. Ele entrega 3 mil litros por dia para a cooperativa Cotribá, fornecedora da Eleva, com custo de R$0,40 a R$0,45 por litro, incluindo gastos com preparação e estoque de silagem para até um ano e meio de alimentação do rebanho.

Para Kussler, a situação atual é a melhor desde que ele ingressou na atividade, em 1982. Em 2004 e 2005, quando os preços começaram a cair e a seca destruiu duas safras de soja, ele chegou a pensar em largar o leite e vendeu 30 dos 90 animais para cobrir os prejuízos da lavoura, mas mudou de idéia e não se arrepende. Hoje cultiva em média 90 hectares de pastagens e tira, com o leite, R$10,1 mil por hectare/ano, o equivalente a 7,5 vezes o que ganharia com a soja, considerando uma produtividade de 45 sacas/hectare.

Com um rebanho de 300 animais, dos quais 98 já em produção e os demais a caminho da ordenha, Kussler espera ocupar, dentro de seis meses, a capacidade instalada de resfriamento de 3,5 mil litros implantada na propriedade em 1997. Só neste mês ele comprou 48 bezerras, mas teve que buscá-las em Saldanha Marinho, no norte do Estado, e em São Gabriel, no sudoeste, devido à escassez de oferta na região. As aquisições servem também para repor o descarte de uma ou duas vacas mais velhas por mês e manter a produtividade média na faixa de 30 litros/dia por cabeça.

Outros produtores, como Marcos De Bortoli, sócio da Agropecuária Tangará, de Salto do Jacuí, a 290 quilômetros de Porto Alegre, foram até o Uruguai buscar 150 animais desde janeiro por US$1,1 mil a US$1,2 mil a unidade. Conforme a Delegacia Federal da Agricultura, desde o início do ano produtores, cooperativas e indústrias do Rio Grande do Sul receberam autorização para trazer 5,1 mil bovinos do país vizinho, ante 728 nos oito primeiros meses de 2006.

Apesar do esforço, De Bortoli não reclama. Com 329 vacas em produção, de um plantel de 750, ele entrega 8,5 mil litros por dia para a Eleva com margem bruta de 25% (ele não revela quanto recebe da indústria). O empresário entrou no ramo há pouco mais de dois anos com a intenção de cobrir os custos fixos da família e da fazenda, que produz soja, milho e trigo. "Quando começamos pensávamos que o leite representaria de 15% a 20% do faturamento da Tangará, mas neste ano deve chegar a 30%", calcula. A agropecuária tem capacidade para resfriar 11 mil litros por dia, que deve ser preenchida nos próximos meses quando cerca de 500 animais estarão em produção, prevê o empresário.

Mesmo pequenos criadores, como Gilberto Zwicker, de Ibirubá, estão rindo à toa. Com 27 animais em produção e 15 hectares de pastagens, tira 650 litros por dia que entrega para a Cotribá e comemora o "melhor momento" dos seus 20 anos na atividade. "Sobra de R$6 mil a R$7 mil por mês", diz o produtor, que recebe R$0,80 por litro, e trabalha apenas com a esposa. "Há 120 dias eu recebia R$0,47", diz. O custo por litros fica na faixa dos R$0,37 porque ele não tem funcionários e não faz silagem.

Em compensação, Zwicker capricha na adubação das pastagens, com 750 quilos de fertilizantes por hectare/ano, volume 50% superior à média da região, calcula Marcelo Debortoli, veterinário da Cotribá. O próprio produtor faz a melhoria genética do rebanho, com inseminação artificial e descarte de vacas menos produtivas, e já investiu na ampliação da capacidade do resfriador de 1 mil para 1,5 mil litros pensando em expansões futuras. Ele também aproveitou a onda favorável para trocar o Santana 1999 por um Focus 2005, está reformando a casa e até construiu uma piscina para enfrentar o calor de 40 graus no verão.

Há 13 anos no leite, Ari Ângelo Formentini, também de Ibirubá, não se lembra de outro período tão bom. Ele produz 1,7 mil litros por dia com 59 animais em ordenha e pretende chegar a 100 vacas em produção em mais dois anos. Para ele, o leite também está rendendo R$0,80 por litro, com custos equivalentes à metade deste valor, e banca as contas das lavouras de milho, soja e trigo. O produtor já aumentou pastagem de inverno de 30 para 40 hectares desde 2005, tirando espaço do trigo, e o próximo passo será ampliar o resfriador.

Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Sérgio Bueno. 24 de agosto de 2007.