O governo argentino decidiu retomar as exportações de carne bovina. A liberação foi anunciada no fim da tarde de ontem após reunião com membros do setor. Buenos Aires havia sinalizado, no último sábado, a suspensão temporária de embarques e anunciado na manhã de ontem a proibição. A medida seria uma tentativa de reduzir preços no mercado interno, que chegaram a registrar, este ano, alta de 40%.
No entanto, mesmo com a retomada, o equilíbrio do setor na Argentina só será recuperado em pelo menos dois anos, já que os efeitos da redução dos rebanhos nos últimos anos são sentidos apenas agora. A previsão para o país é de oferta apertada para 2010 e 2011.
Para o Brasil, segundo Otávio Cançado, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o ideal seria que os argentinos passassem a suprir a demanda interna com importação, o que beneficiaria o País. “O governo tinha de colocar em prática o discurso de livre mercado que tanto pratica e não estabelecer limites. A Argentina está com oferta restrita. O Brasil pode mandar a quantidade de carne que eles precisarem”, afirma.
As intervenções do governo têm desanimado os pecuaristas. Para os criadores, as limitações vêm prejudicando a produção desde 2006.
No ano passado, a Argentina só produziu o montante de 3,54 milhões de toneladas porque os produtores praticamente dizimaram o gado dos pastos.
Desde dezembro do ano passado a Argentina vem limitando os embarques de carne, exceto os que se referem à Cota Hilton, que permite exportação anual de 28 mil toneladas de carne de alta qualidade, com tarifas mais baixas à União Europeia (UE).
No entanto o Brasil, dentro da Cota Hilton, tem permissão de mandar para o mercado europeu apenas 10 mil toneladas.
Segundo Cançado, se Buenos Aires deixasse totalmente os embarques internacionais, as exportações brasileiras poderiam se beneficiar com o mercado europeu. “Mas seria pouco. Cerca de US$100 milhões”, calcula.
No caso de fechamento provisório, de acordo com o diretor, para o Brasil representaria um acumulo de vendas, por exemplo, de junho deste ano a junho de 2011, algo em torno de US$70 milhões. “Isso se abrissem a cota Hilton, mesmo assim esse montante não é representativo”, afirma.
Por enquanto, Cançado considera positiva apenas a estabilidade jurídica brasileira diante da instabilidade dos argentinos. “Com essas intervenções do governo, o país todo acaba sofrendo, não só o exportador. Quem vai querer investir lá?”, questiona Cançado, que lembra ainda que o Brasil também possui frigoríficos em território argentino.
Dados da Abiec apontam que a Argentina responde por 25% de toda a exportação à Europa.
Segundo Alex Lopes da Silva, analista de mercado da Scot Consultoria, Argentina sempre foi um grande player do setor, mas com as intervenções do governo que vem ocorrendo há alguns anos não seria novidade se o país abrisse importação de carne bovina. “O problema maior enfrentado pelos frigoríficos hoje são essas limitações impostas”, afirma.
Silva explicou que antes de 2009, os frigoríficos eram obrigados a dispor de seu estoque estático 75% para o mercado interno e apenas 25% podia ser enviado a outros países. Em meados do ano passado, este cenário mudou e passou a favorecer aparentemente um pouco a indústria processadora: o montante limitado à demanda doméstica caiu de 75% para 35%. “Mas, se de um estoque de 100 mil toneladas, o frigorífico produzir 40 mil, por exemplo, com a limitação de 35%, só restará 5 mil toneladas para exportação”, afirma o analista.
Silva disse ainda que para o Brasil crescer em exportações para a Europa precisaria ampliar o número de frigoríficos habilitados. “O volume enviado atualmente para a União Europeia, apesar de ter registrado aumento de janeiro para fevereiro é um dos menores resultados dos últimos cinco anos”, diz.
Em fevereiro de 2009, o País enviou pra os europeus 18 mil toneladas, no mesmo período em 2010, 19,8 mil toneladas. “Em maio de 2006 chegamos a mandar 66 mil toneladas.”
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Alécia Pontes. 17 de março de 2010.