As perspectivas para o mercado de terras, apesar de favoráveis, também apontam dificuldades. Em certas regiões, a falta de infra-estrutura como estradas e acesso adequado à distribuição da produção é motivo de preocupação. Em outras, o clima também impõe obstáculos. A falta de chuva em determinados locais esbarra no alto custo de irrigação. "São dois pontos, no entanto, que se resolvem se houver planejamento de investimentos", afirma Jacqueline Bierhals, analista do Instituto FNP (iFNP).
Como o investimento para a compra de terras não costuma ser de curto prazo, quem adquire áreas em regiões consideradas distantes muitas vezes projeta, para o momento da eventual venda, uma infra-estrutura de que ainda não dispõe, diz Alcides de Moura Torres Junior, diretor da Scot Consultoria. As perspectivas são positivas quando a referência é o mercado das commodities, afirma João Beltrame, sócio da Céleres Consultoria.
O cenário permanece de alta até 2012 para a produção de grãos e fibras, principalmente algodão. A terra para esses cultivos deve se valorizar.
Beltrame afirma que certas regiões têm potencial de valorização de 25% a 30%. Entre elas, cita o oeste baiano, as áreas agrícolas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da região de Rio Verde, em Goiás.
Para a cana, projeta-se equilíbrio entre oferta e demanda até 2010. O custo da terra deve permanecer estável até lá.
Nessa lavoura também existe o efeito de uma correção da valorização muito grande que houve até há três anos. Segundo Bierhals, do iFNP, o fim da euforia canavieira tem o mérito de "selecionar o setor, pela saída dos aventureiros".
Para a exploração de madeiras, em especial do eucalipto, a cotação das áreas deve variar da estabilidade à ligeira alta, afirma Beltrame, da Céleres.
A alta dos valores da terra em 2007 foi precedida de dois anos de estagnação "tanto nos preços quantos nos negócios", diz Bierhals. Em 2004, a cotação do hectare começou a cair depois da desilusão com o desfecho do boom, hoje considerado uma "bolha", do setor de soja no início desta década.
Diferença
Em relação a 2004, Beltrame aponta uma diferença fundamental. Naquele ano, houve negócios com áreas equivalentes ao tamanho de cidades, na faixa de 200 mil a 300 mil hectares. Agora, as maiores áreas ficam entre 15 mil e 30 mil hectares. Ele afirma que também não há profissionais liberais que compravam de 500 a 1 mil hectares como investimento.
Outra diferença do mercado atual para o do início da década: Bierhals, do iFNP, diz que "o comércio de terra caminha com sustentabilidade". Segundo ela, os negócios se lastreiam por "empresas com bons projetos e fundos de investimento que transferem capitais para ativos mais seguros".
A reação do mercado de terras surgiu a partir de 2006, quando os EUA reduziram em 15% a área da soja em favor do milho para a produção de biocombustível. No Brasil, a febre pelo álcool se intensificou pela alternativa da cana-de-açúcar, conhecida desde a época do Proálcool. A corrida pegou firme as terras de pastagens em São Paulo, no leste de Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro e no sul de Goiás.
Desde 2006, o mercado de grãos não foi o mesmo. Com a demanda dos emergentes asiáticos em ascensão, o mercado de soja voltou a ganhar força, batendo recordes sucessivos nas Bolsas.
Os negócios com milho, direcionado pelos EUA para o álcool combustível, também não pararam de registrar altas.
Fonte: Folha de S. Paulo. Dinheiro. Por Gitânio Fortes. 10 de fevereiro de 2008.