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Crise acelera consolidação no setor de carnes

por Equipe Scot Consultoria
Quinta-feira, 17 de setembro de 2009 -18h15
A crise financeira mundial acelerou a consolidação no setor de alimentos no Brasil e acabou levando à criação de três gigantes globais. Depois de perder bilhões com operações de derivativos financeiros, a Sadia não teve outra saída a não ser se unir à Perdigão, associação que levou à criação da segunda maior empresa de alimentos do País, a Brasil Foods.

O grupo nasceu com um faturamento de R$22 bilhões, atrás apenas do Friboi.

A Marfrig, que em 2008 registrou faturamento de R$6,2 bilhões, deve encerrar o ano com receitas superiores a R$12 bilhões - crescimento impulsionado por aquisições. A maior foi anunciada no início da semana, quando o grupo adquiriu os ativos da Seara, empresa que pertencia à americana Cargill, por US$900 milhões. A crise e a queda nas exportações de alimentos transformou a Seara em um ativo pouco interessante para a Cargill, que havia adquirido a empresa da Bunge em 2004 por US$130 milhões, com o objetivo de atender ao mercado externo.

“Essas fusões e parcerias são medidas para que a rentabilidade dessas empresas continue crescente mesmo com um mundo em recessão, onde as vendas não deverão registrar aumentos significativos no longo prazo”, disse o sócio diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. Para Silveira, a união do JBS Friboi e Bertin em uma holding é uma adaptação aos novos tempos pós-crise. “As empresas ligadas ao mundo real, como o setor de alimentos, têm de ser pragmáticas porque elas vão demorar mais para se recuperarem mesmo que o mercado financeiro tenha uma recuperação mais rápida.”

Para o sócio da Scot Consultoria, Alcides Torres, não há dúvidas de que as fusões são uma consequência direta da crise. “Melhor termos uma consolidação do que empresas em concordata”, disse ele, que considera as fusões positivas para o País. “Os frigoríficos estão se transformando em grandes companhias de alimentos e esse é o caminho natural, uma vez que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos.”

Na sua avaliação, a criação de grandes empresas globais vai contribuir para aumentar a competitividade do Brasil. “Isso vai ajudar na briga por novos mercados e para o aumento das exportações”, afirmou Torres. Entretanto, ele acredita que a união de dois grandes frigoríficos, como JBS Friboi e Bertin, poderá ter consequências ruins para a pecuária. “A perspectiva é de preços deprimidos, com os pecuaristas ganhando menos.”

Já José Rezende, líder na área de agronegócios da consultoria PricewaterhouseCoopers, acredita que a consolidação no setor “não deveria” assustar os produtores. “Esse é um processo no qual eles também vão ganhar se forem competentes.”

Para Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, a união de JBS Friboi e Bertin vai gerar ganho de escala e um aumento da competitividade. “Com ganhos de escala, investimentos em tecnologia são mais prováveis, o que abrirá mais portas em relação à competitividade no mercado internacional”, disse ela.

João Sampaio, secretário de Agricultura de São Paulo, considerou a associação entre ambos “inevitável”. O secretário avaliou que a fusão “fortalece o mercado, a indústria nacional”, mas alertou que “o governo terá de seguir atento à concentração para que não haja um efeito danoso aos produtores”.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, evitou manifestar uma posição taxativa a respeito da associação entre Friboi e Bertin. “Como ministro da Agricultura, que tem a função de olhar para o produtor rural, sem desconhecer a grande importância da agroindústria, não posso defender a concentração”, disse. Ele avaliou, porém, que o negócio tende a ampliar a atuação das empresas no mercado externo e suprir algumas ineficiências que as companhias possuem separadamente. “Pode ser uma solução.”

Mais tarde, o ministro disse não acreditar em uma grande mudança no mercado interno ou em relação aos produtores por conta da associação. “O Bertin (Fernando Bertin, diretor-presidente do frigorífico) deixou claro que tem bom relacionamento com fornecedores e que manteria isso a todo o custo”, relatou.

Fonte: Ultimo Segundo. 17 de setembro de 2009.