Os frigoríficos brasileiros estão exportando para a União Européia apesar do embargo imposto no final do mês passado. As indústrias trocaram posições do País por outras, de suas plantas no Mercosul e até em outros continentes. Segundo analistas de mercado, há indícios de que a Argentina e o Uruguai já aumentaram suas vendas para a Europa.
O Brasil é o principal fornecedor de carne para a Europa. Do total importado pelo bloco, 46,4% saem das indústrias nacionais. A Argentina representa 30%; o Uruguai, 8,8% e a Austrália, 5,1%, de acordo com dados da Scot Consultoria. "Os frigoríficos brasileiros estão trocando posições", diz Paulo Molinari, da Safras & Mercado. A estratégia dos frigoríficos brasileiros têm sido a de realocar a produção em suas unidades. A JBS afirma, por meio de nota, que a sua produção está normal. A empresa está exportando para a Europa por meio de suas unidades na Argentina e Austrália. No Marfrig o mercado europeu tem sido abastecido com carnes da Argentina e do Uruguai. Em nota, a empresa afirma que as nove unidades destes dois países trabalharão em plena capacidade.
"A informação que se tem, lá da Europa, é que a demanda aumentou para a Argentina e o Uruguai", afirma José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP. Ele acredita que parte desta demanda deve ser absorvida pelas indústrias brasileiras que têm posição importante no mercado internacional por meio de unidades nestes países. Ferraz diz que ainda não existem números fechados sobre as exportações dos vizinhos do Mercosul, mas comenta-se que elas teriam aumentado desde que havia a suspeita do embargo. Segundo ele, primeiro os europeus formaram estoques com carne brasileira e depois buscaram a Argentina e Uruguai. "Mas eles estão exportando no limite do que podem", acrescenta. O diretor da AgraFNP lembra, no entanto, que os dois países não têm como suprir todo o volume brasileiro. No caso da Argentina, há um auto-embargo por causa da inflação - desestimulando a venda externa. No Uruguai, os abates foram recordes e deve começar haver uma restrição de oferta. Outros dois possíveis fornecedores apontados por analistas de mercado são a Austrália - que vive há alguns anos problemas de oferta devido às secas - e os Estados Unidos - estes, usam hormônios na produção, proibidos pelos europeus.
Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, lembra que apesar de poder haver este movimento agora, no curto prazo - de até três anos - não há como os principais concorrentes passarem à frente do Brasil por causa da oferta de bois.
Fonte: Gazeta Mercantil. Caderno C. Por Neila Baldi. 27 de Fevereiro de 2008.