O período de safra e as restrições da União Européia à carne bovina brasileira não conseguem segurar o preço do boi, que atinge valores históricos. Ontem, em São Paulo, houve registro de negócios a R$80,00 a arroba (a prazo para descontar o funrural), apuraram a Scot Consultoria e o Instituto FNP. O valor é o maior, em termos nominais, desde o início do real. Na BM&F, o contrato com vencimento este mês alcançou R$79,16. O contrato de outubro - que reflete a entressafra - atingiu R$87,37. Em dólar, os preços do boi também são recordes, por conta, em parte da valorização do real.
A razão para a alta em plena safra é a escassez de animais para abate, em decorrência da tão falada mudança de ciclo da pecuária de corte após um período de preços desfavoráveis aos criadores, que estimulou o descarte de matrizes e culminou com menor produção de animais para engorda.
"Não tem boi e o mercado está firme", diz Fabiano Tito Rosa, da Scot. Segundo ele, grande parte dos frigoríficos trabalha com escala de abate típica de entressafra, de três a cinco dias. A ociosidade nas empresas também é alta, entre 30% e 40%.
José Vicente Ferraz, do Instituto FNP, afirma que a retenção de fêmeas para produção de bezerros é uma das razões para a menor oferta de animais para abate. "Há retenção de gado porque se tornou um bom negócio produzir", observa. O incentivo são os preços do bezerro, que já subiram mais de 30% desde o início do ano. Segundo Ferraz, hoje, um animal de 6 meses é negociado por R$630 a R$640. Estava em R$480 no início do ano.
O especialista acrescenta que a retenção não é especulativa. "Os pecuaristas vão recompor o rebanho", afirma. Em sua análise, a oferta de bois e de vacas de descarte existente hoje é insuficiente para atender a demanda.
A recomposição do rebanho agora levará a uma maior oferta de bovinos em dois a três anos. Mas isso não significa forte queda de preços, reconhece uma fonte da indústria. O motivo, avalia, é que a demanda deve seguir firme.
A valorização do boi gordo ocorre de forma generalizada no país sustentada pela oferta apertada. No Mato Grosso do Sul, já houve negócios a R$76,00 a arroba, segundo a Scot e em Cuiabá, a R$73,00. No Pará, bateu R$69,00.
Tito Rosa, da Scot, chama a atenção para o preço da arroba paraense, tradicionalmente o mais baixo do Brasil. Em dólar, o valor no Estado já supera o da Austrália, que sempre foi um dos mais elevados do mundo. Este mês, o preço na região de Redenção equivale a US$41,72 a arroba. Na Austrália, está em US$37,95, segundo o levantamento da Scot.
O preço médio da arroba em todo o Brasil equivale US$46,88, de acordo com a consultoria, também superando Austrália, Argentina (US$32,92), Uruguai (US$39,39) e Paraguai (US$42,30). A alta dos preços em dólar, explica o analista, se deve ao aumento das cotações - por causa da oferta menor - e também à valorização do real ante a moeda americana.
Quando a União Européia impôs restrições à carne brasileira em fevereiro deste ano, a expectativa era de que os preços do boi recuassem, já que o bloco respondia por 20% das vendas brasileiras. Sem esse grande cliente, o mercado de boi seria pressionado. Isso, no entanto, não aconteceu, surpreendendo os próprios pecuaristas, como admitiu um deles ao Valor.
O atual comportamento dos preços deve levar Ferraz, do Instituto FNP, a rever sua previsão de preços para o pico da entressafra, que era de R$90,00 para arroba em São Paulo. Agora, ele já acredita que pode ficar acima disso.
Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Alda do Amaral Rocha. 7 de maio de 2008.