Projetos sucroalcooleiros implantados entre 2008 e 2010 têm provocado a valorização das terras nas regiões de cana-de-açúcar. O quadro é reflexo da atuação de usinas ainda em fase de maturação e que mantêm, após um ano de melhora do caixa, seus investimentos em canaviais para atingir a capacidade total planejada de processamento de cana. O avanço prossegue nas novas fronteiras, localizadas principalmente nos Estados de Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Estudo feito pela NAI Commercial Properties, multinacional americana especializada no mercado imobiliário, mostra que as terras na região do município de Pedro Afonso (TO) tiveram forte alta desde 2009. As áreas já abertas para agricultura estão valendo R$3,6 mil o hectare, 33% mais do que em 2009, quando o hectare com as mesmas características valia R$2,7 mil. As áreas de mata tiveram variação menor, no entanto, pouco desprezíveis. De R$1,25 mil, o hectare desse tipo de terra subiu para R$1,5 mil, alta de 20%, segundo levantamento da NAI.
“A infraestrutura oferecida na região de Pedro Afonso é um grande atrativo e, por isso, essa valorização. A região oferece o acesso aos rios Tocantins e Sono e deve se beneficiar com a construção da ferrovia Norte Sul”, explica Aloísio Barinotti, presidente da NAI.
O principal projeto de cana de Tocantins é o da multinacional Bunge, que inaugurou neste ano uma usina justamente em Pedro Afonso, onde detém cerca de 14 mil hectares cultivados com cana-de-açúcar. A multinacional adquiriu neste ano outros 70 mil hectares na mesma região, para onde deve expandir seu projeto sucroalcooleiro.
Procurada, a empresa apenas confirmou que adquiriu mais terras na região, mas sem informar a área. Acrescentou que o objetivo da empresa é elevar o volume de cana própria em 60%.
Algumas regiões de Goiás também registraram uma das maiores valorizações puxadas pela cana. Estudo de mercado feito pela NAI na região do município de Edeia identificou que o hectare, que valia R$8,5 mil em 2009, está sendo negociado agora no mercado a R$10 mil, aumento de 17%. É no município de Edea que está o projeto da usina Tropical, sociedade entre a petroleira British Petroleum, com o grupo Maeda - agora vendido ao fundo Arion Capital - e da Santelisa Vale, agora controlada pela francesa Louis Dreyfus.
Nas proximidades estão os três projetos de usinas da ETH Bioenergia, associação da ETH, do grupo Odebrecht com a Brenco. A empresa tem planos de expandir seus canaviais de 80 mil a 100 mil hectares por ano nos próximos três anos nas unidades de Goiás, e também na de Mato Grosso (Alto Taquari).
“Em 2008, 30 novas unidades industriais foram inauguradas no Centro-Sul. Em 2009, outras 20 usinas e mais dez neste ano. Esses projetos estão em estágios de maturação, cada um em sua fase, e são os principais motores desses investimentos em novos canaviais”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica).
A busca por terras em Minas Gerais, antes limitada a pastagens degradadas do Triângulo Mineiro, deve se estender às áreas de milho, cultura que promete baixa rentabilidade no próximo ciclo, diz Pierre Santos Vilela, coordenador da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura do Estado (Faemg).
Como as 38 usinas sucroalcooleiras do Estado estão concentradas no Triângulo, as terras nessa região tiveram valorização de cerca de 3,5% de 2009 para 2010, segundo a Faemg. “A alternativa está sendo a expansão para as áreas de pecuária leiteira, no centro-oeste e noroeste do Estado”, diz.
Enquanto o preço do hectare menos produtivo no Triângulo é de R$6,6 mil, as terras mais produtivas do oeste valem R$5,2 mil, e as de pastagem, R$2,8 mil.
Em Mato Grosso do Sul, os preços de áreas vêm se mostrando estáveis no último trimestre, segundo relatório da Scot Consultoria. A maior procura é por áreas de pastagens degradadas. “Não temos muita competição pois ainda há sete milhões de hectares de pastagens degradadas disponíveis”, diz Luis Alberto Novaes, coordenador da Comissão de Agroenergia da Federação de Agricultura do Estado (Famasul).
Fonte: Valor Econômico. Agronegócio. Por Fabiana Batista. 2 de agosto de 2010.