As empresas de saúde animal aproveitaram o período de vacinação de febre aftosa para reajustar os preços dos produtos. Levantamento da Scot Consultoria mostra que a vacina mais consumida – anti-aftosa - teve valorização de 5,5%. Mas a campeã foi a de clostridiose: 42%. As altas, no entanto, ficaram abaixo da registrada para a arroba do boi (em relação a maio do ano passado): 52%. E também está inferior a outros insumos da atividade. As vacinas respondem por cerca de 2% do custo total da produção. "Foi um dos poucos itens que não teve reajustes significativos. Os demais estouraram", afirma Paulo César Ferreira, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Pelos dados da instituição, as vacinas tiveram reajuste, até abril, de 4,7%. O valor é superior a de outros produtos de saúde animal: os antibióticos aumentaram 3,3% e os antiparasitários, 3,1%.
Apesar de o ano ser de preços pecuários mais elevados, o que teoricamente deixaria o produtor mais capitalizado, as estimativas do setor não são de um "boom" de vendas. Pelas projeções do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o mercado deve crescer entre 5% e 7% neste ano. O setor de saúde animal movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões, sendo R$750 milhões em vacinas. "O aumento deve ser maior em volume do que em receita", argumenta o presidente do Sindan, Emílio Salani. Na avaliação dele, a alta do valor cobrado é um ajuste do setor em relação ao impacto de algum insumo.
A analista da Scot Consultoria, Lygia Pimentel, acredita que o reajuste tenha ocorrido porque o mês de maio é o de maior demanda - pois há campanha anti-aftosa em vários estados - e, geralmente, o pecuarista aproveita a ocasião para fazer outros controles sanitários. Uma das explicações do mercado em relação ao aumento maior para a vacina de clostridiose é a menor concorrência (menos empresas fabricam). O produto é o segundo mais consumido, junto com a anti-rábica, atrás da vacina de febre aftosa. O gerente Nacional de Vendas da Fort Dodge, Bruno Menetryer, diz que as empresas podem até ter tentado aproveitar o bom momento da pecuária para aumentar os preços, mas que na prática, não aconteceu pela lei de mercado. Ele acredita que o reajuste médio fique entre 2% e 5%. Menetryer acrescenta ainda que, em alguns casos, como o da anti-rábica, os preços caíram: a dose custava há dois anos R$0,30 e hoje sai a R$0,10. Menetryer diz que as vendas estão melhores que no ano passado. Segundo ele, talvez pelo "otimismo de o produto do pecuarista valer mais". No entanto, segundo ele, o mercado não está superaquecido.
Para o assessor-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Paulo Mustefaga, não é possível fazer uma correlação direta entre o preço mais alto da arroba e a venda de vacinas, pois o "pecuarista brasileiro já é bem consciente em relação a isso, do contrário o País não tinha recuperado o seu status sanitário". No entanto, ele acredita que, a comercialização pode aumentar em 2008. Mas reclama que, apesar de um reajuste menor em relação a outros insumos, o custo da pecuária, como um todo, está subindo mais que o da valor do boi. Os dados da instituição, de fevereiro deste ano, mostravam alta de 7,72% no custo efetivo da produção, enquanto a arroba do boi gordo teria se valorização, no acumulado do ano, apenas 0,26%. A pesquisa foi realizada em 10 estados.
Fonte: Gazeta Mercantil. Por Neila Baldi. 30 de maio de 2008.