Um valor nunca antes imaginado pelo boi gordo está muito próximo de ser alcançado. A expectativa de analistas de mercado, remota no início do ano, agora fica cada vez mais evidente: de que a arroba chegue a R$100. O produto vem em consecutivos recordes desde o final de abril, ultrapassando os valores de dezembro do ano passado, quando também eram históricos. E, como o mesmo ocorre com o bezerro, que teve a maior alta mensal (16% em maio) desde 2000, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), o mercado se "alvoroça" com esta perspectiva. No futuro, a arroba chegou a R$100 para novembro, na segunda-feira, mas recuou para R$ 98.
"Neste ano, o mercado sempre acreditava que no período seguinte a oferta apareceria. E estamos entrando em junho e não ocorreu. Uma safra difícil desta forma só tende a indicar uma entressafra mais difícil ainda", afirma o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Na sua avaliação, no pico da entressafra - na segunda quinzena de agosto - o animal alcançaria a marca dos R$ 100 a arroba. Para isso, teria de subir todos os dias R$0,30 por arroba.
Ontem, a alta foi de R$1,30 por arroba, de acordo com o Cepea/Esalq, com a arroba avaliada em R$87,13. Molinari lembra que o Índice Esalq tem se mantido em altas com patamares superiores aos R$0,30 por arroba nos últimos dias.
O analista lembra também que apenas em maio a cotação subiu R$10 por arroba, em um mês considerado o pico da safra. Tradicionalmente, o mês de maio é considerado o "vale da safra", ou seja, o de menor valor. Mas não foi o que ocorreu neste ano. A valorização do boi gordo, no mês passado, segundo a Scot Consultoria, foi de 12%. "Se o mercado repetir isso neste mês, chegaríamos a R$100 em julho", diz Maria Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria. Mas ela acredita que a "alta se arrefeça". Isto porque, no acumulado do ano já são 22%. Acrescenta, no entanto que, se chegou a R$100 no futuro, chega no físico.
Confinamento
O pesquisador do Cepea/USP, Sérgio de Zem, coloca algumas variáveis. Segundo ele, o número de animais confinados pode ser maior que o esperado. Só em Mato Grosso, de acordo com ele, o aumento esperado é de 50%. "E isso pode ocorrer nas outras regiões também", diz. Além disso, de acordo com o pesquisador, apesar do preço alto do bezerro (por volta de R$700, mas que só será boi gordo no ano que vem), o valor de R$90 a arroba remuneraria um confinamento de boi magro (comprado a R$1,2 mil) e vendido com 17 arrobas. Zem lembra que, como está difícil a reposição, muitos produtores estão vendendo os animais mais pesados.
Mas Molinari diz que uma oferta de 3 milhões de animais vindos do confinamento não será suficiente para enxugar o mercado, que está com falta de bovinos. "Se o mercado tivesse pago caro, mas comprado volume, se acomodaria. Mas cada dia paga mais e não aparece boi".
Consumo
"O limite quem vai dizer é o consumidor. Com a arroba a R$100, o traseiro teria de estar a R$7 o quilo. Hoje é de R$5,80 o quilo", afirma Molinari. Opinião semelhante tem Zem. "Eu duvido que a demanda continue aquecida desse jeito", diz. E lembra que o consumidor pode buscar outras fontes de proteínas.
O cenário de R$100 a arroba pode trazer problemas aos frigoríficos. Para Molinari, o segundo semestre, com a baixa oferta de animais, pode fazer com que as indústrias que não conseguirem ser competitivos tenham de parar plantas, demitir ou dar férias coletivas. "Isso é quase que natural para o segundo semestre, pois hoje a ociosidade já é grande", afirma. Ele lembra que a solução do problema não é política, é basicamente de oferta, que não tem como aumentar de uma hora para outra. Segundo levantamento da Safras & Mercado, por exemplo, no primeiro trimestre deste ano os abates de animais já foram 18% inferiores aos do mesmo período de 2007.
O diretor de Relações com Investidores da recém-criada Uni Alimentos (ver matéria abaixo), Carlos Gradim, duvida que a arroba chegue a R$100. "Na nossa cabeça ele (boi gordo) chegou onde tinha que chegar e agora vai estabilizar em nível próximo ao atual", afirma.
Segundo ele, os valores cobrados pelo animal já estão chegando ao limite máximo de repasse ao consumidor. "Se isso acontecer (arroba a R$100) , os frigoríficos vão operar abaixo do ponto de equilíbrio. Vão perder dinheiro", afirma. Segundo Gradim, o fato de o boi gordo alcançar este valor no mercado futuro não significa que chegará no físico. Além disso, de acordo com o diretor, o ano de 2008 é atípico, com uma "entressafra o ano todo".
Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócios. Por Neila Baldi. 5 de junho de 2008.