A suspensão das exportações de carne bovina enlatada para os Estados Unidos não deve virar o “imbróglio” que se tornou a questão com os europeus. Na avaliação de analistas de mercado, diferente da crise com a União Européia - que exigiu mudanças no sistema de rastreabilidade, com certificação das fazendas - no caso americano, o governo agiu de forma rápida.
Na última sexta-feira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou que suspendeu a emissão de certificados sanitários dos frigoríficos exportadores para aquele mercado - são 22 plantas - e irá auditar as unidades. A estimativa é que em três semanas o comércio seja retomado. O analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, diz que foram as próprias indústrias que pediram a suspensão da emissão dos certificados depois que duas plantas (do IFC e do Friboi) tiveram as exportações canceladas. “Elas queriam ter tempo para se adequar às exigências burocráticas dos Estados Unidos”, diz. De acordo com ele, os Estados Unidos estão solicitando que na documentação conste todos os procedimentos porque passa o produto - o registro da entrada, dos cortes, até a saída.
”A gente nunca pode confiar, mas se for verdade o que o governo disse, as exportações estão suspensas apenas por um mês”, afirma José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP. Ele lembra também que o produto enlatado vale menos que o in natura e o volume comercializado com os Estados Unidos é bem menor que com a União Européia (que respondia por 25% a 30% do total). Portanto, para efeito de resultado na balança comercial, seria pequeno. Ferraz acrescenta que o problema, diferente do europeu, é apenas nas indústrias, não em todo o sistema produtivo.
Para Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, o governo brasileiro se antecipou à uma possível sanção. “Os Estados Unidos são mais liberais que os europeus e o nosso produto é muito mais barato. Vale a pena para eles comprar”, conclui. Torres não acredita também que a suspensão da venda do produto industrializado possa afetar as negociações sobre a abertura de mercado in natura - que têm emperrado sistematicamente por causa de surtos de aftosa (primeiro no Rio Grande do Sul, em 2000 e 2001, depois em Mato Grosso do Sul, em 2005).
Em comunicado, o Marfrig informou que seguirá comercializando carne industrializada por meio de suas unidades no Uruguai e Argentina. Segundo a empresa, no primeiro semestre, 4,2% das exportações das plantas do Brasil foram para os Estados Unidos. As ações da empresa caíram 7,63% ontem na BMF&Bovespa, enquanto as da JBS tiveram queda de 8,64% e as do Minerva, 2,92%.
Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 5 de agosto de 2008.