A saída dos fundos de investimento das commodities deve continuar neste mês, com menos intensidade. Apenas entre 8 de julho e 8 de agosto, os mercados futuros de soja e milho - os que mais perderam - tiveram 116 mil contratos líquidos menos . O resultado foi uma queda nas cotações de 24,02% e 26,44%, respectivamente.
Estudo exclusivo da Link Investimentos mostra uma correlação direta entre os preços dos produtos e a entrada massiva dos fundos. Em fevereiro deste ano, por exemplo, a cotação da soja chegou a US$15,10 o bushel (27,2 quilos) e na ocasião, a posição líquida dos fundos era de 152,7 mil contratos. No último relatório da Commidity Futures Trading Commission (CFTC), do dia 8 de agosto, o volume era de 85,4 mil e o preço da soja estava a US$11,80 o bushel. “Houve uma percepção de queda no aquecimento da economia mundial e, portanto, uma demanda mais fraca. Assim, os fundos saíram”, diz Mário Frioli, diretor de Commodities da Link Investimentos. Segundo ele, ao mesmo tempo em que agora os fundos “realizaram lucros”, quando entraram, deram suporte às cotações. O mesmo movimento que ocorreu na soja também aconteceu com os demais grãos. No milho a posição líquida diminuiu em 85,8 mil contratos no período de um mês. Quando compara-se ao maior volume, a queda é de 132 mil - em 10 de junho, ocasião que havia também as enchentes nos Estados Unidos, quando a cotação do cereal chegou a US$7,59 o bushel (25,4 quilos) - atualmente está em US$5,18.
O economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, explica que com a crise das hipotecas dos Estados Unidos, no final do ano passado, o mercado de títulos e renda física daquele país passou a ter uma baixa remuneração e, então, houve uma migração de recursos de fundos, de bancos de investimentos, de investidores de maneira geral destes mercados para os futuros de commodities. “Isso provocou um processo de acelerada valorização das commodities agrícolas e do petróleo, que distorceu o mercado de preços desses produtos”, conclui. De acordo com projeção da consultoria, o índice de commodities (CRB) deve encerrar o ano com valorização de 24%. No entanto, para a empresa, em 2009, haverá desvalorização. “A estimativa inicial é de queda de 10%, mas pode ser maior”, afirma.
Silveira diz que os fundos estão saindo diante da possibilidade real de desaquecimento da economia “Eles estão se antecipando às perdas, julgando que os ganhos foram suficientes”, conclui. De acordo com ele, no ano que vem, a desvalorização dos preços das commodities se dará por “fundamentos de mercado” e não especulação, uma vez que a demanda estará menor. Na avaliação do economista, entre as commodities agrícolas, a candidata a forte queda é a soja, pois no milho a demanda por etanol diminuirá a tendência de redução nos preços.
Para Luiz Fernando Abussamra, coordenador de Agronegócio da Risk Office, a tendência é que os fundos continuem migrando para outros ativos que não commodities. Segundo ele, a saída, em agosto, pode até ser maior que a ocorrida em julho. “Porém, como são sensíveis às expectativas, isso pode se reverter. Segundo ele, o crescimento econômico da China e uma “calmaria” nos Estados Unidos poderiam reverter a situação”. Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity, diz que ainda tem espaço para os fundos saírem do mercado de commodities, pois a posição comprada ainda é grande. Por isso, na avaliação dele, no caso da soja, o mercado ainda pode cair 5%.
O analista José Amaral, da Scot Consultoria, diz que em julho os contratos dos fundos no milho foram os menores níveis desde setembro de 2006. Ele explica que parte da “revoada” do último mês ocorreu porque a CFTC teria processado alguns fundos que trabalhavam com energia, após uma investigação do uso de “laranjas”. Por outro lado, de acordo com ele, o lado “fundamental” também pesou na desvalorização do preço do produto, pois houve uma melhora nas condições das lavouras nos Estados Unidos. Amaral lembra que a tendência do mercado não é definida pelos fundos - apenas a volatilidade.
A movimentação dos fundos, em alguns mercados agrícolas, foi diferenciada. No açúcar e no café, a posição líquida em 8 de julho era negativa e, um mês depois, positiva (a diferença entre comprados e vendidos). Segundo analistas, os fundamentos do mercado influenciaram o movimento.
Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 11 de agosto de 2008.