Apesar dos esforços de alguns frigoríficos para tentar boicotar as exportações de gado em pé, no primeiro semestre do ano, as vendas externas nesse recente nicho continuam a todo o vapor.
Entre janeiro e julho deste ano, as vendas externas de bovinos vivos para engorda e abate aumentaram 124,2% em valor, para US$183,2 milhões, e 22% em volume, alcançando as 216,9 mil cabeças, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os principais destinos foram a Venezuela e o Líbano, sendo que o país latino aumentou as importações em 159% em volume na comparação com os sete primeiros meses do ano passado. Até julho, os venezuelanos importaram 79,4 mil cabeças, o que gerou receita de US$153,1 milhões para os exportadores brasileiros.
O motivo de a Venezuela aumentar as importações do gado vivo, explica Maria Gabriela Tonini, consultora da Scot Consultoria, é o fato de o país querer incentivar sua indústria frigorífica, gerando mais empregos e agregando valor ao produto em seu mercado interno. “A exportação de gado em pé é um mercado firme para o Brasil e tudo indica que vai deslanchar bem mais. Só não está maior porque a oferta está ajustada no Brasil”, comenta Gabriela.
O aumento de exportações nesse nicho novo de negócios para o Brasil, em uma época de oferta ajustada de gado, foi motivo que preocupou representantes de alguns frigoríficos no primeiro semestre, pela possibilidade da elevação de preços dos animais no mercado interno.
A pressão nos preços chega a existir, mas localmente, diz Gabriela. Pela necessidade de carregar o navio, o exportador acaba oferecendo um pouco mais do que o preço de mercado e gera uma certa inflação local. A principal saída de gado vivo exportado é o Pará. Mas, lembram consultores, o volume exportado é baixo se comparado ao que o Brasil abate por ano. A previsão para 2008 é de 38,8 milhões de cabeças.
Segundo José Vicente Ferraz, diretor do Instituto AgraFNP, existe certa pressão por parte de representantes da indústria no Pará, para dificultar as exportações. “Houve uma tentativa para criar problemas para os exportadores, e ainda estão tentando, mas os embarques estão normalizados”.
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, confirma que as exportações estão ocorrendo normalmente e lembra que houve tentativa de sobretaxar o gado exportado no primeiro semestre. “O governo do estado chegou a criar uma sobretaxa de R$20,00 por animal embarcado, mas não está sendo aplicada”.
Carne bovina
A economia aquecida na Venezuela, o que leva ao maior consumo de carne pela população, além de ajudar a alavancar as exportações brasileiras de gado vivo também influencia nas vendas da carne in natura brasileira.
Segundo divulgou a Abiec (entidade que reúne os frigoríficos exportadores) ontem, a Venezuela foi a segunda no ranking dos países importadores no período de janeiro a julho. O país importou o equivalente a US$204 milhões, ou seja, 77 mil toneladas em volume. A Rússia manteve a liderança na compra em volume, com 352 mil toneladas e em valor, com US$863 milhões.
No acumulado até o mês passado, a receita cambial dos frigoríficos brasileiros com as exportações totais de carne bovina foi de US$3 bilhões, o que representou crescimento de 18,21% em relação ao mesmo período de 2007. Com relação ao volume embarcado, houve queda de 16,62% nos primeiros sete meses de 2008 quando comparamos com janeiro a julho de 2007. As expectativas da Abiec com relação à receita cambial de 2008 permanecem no patamar de US$5 bilhões. A Abiec acredita que, em relação aos Estados Unidos, em setembro as exportações estarão normalizadas.
O frigorífico Marfrig é um dos que ampliou exportações, segundo resultado financeiro divulgado ontem. No primeiro semestre, o Marfrig registrou R$1,2 bilhão com exportações, expansão de 43,9% quando comparadas ao primeiro semestre de 2007. A empresa teve aumento de 152% no lucro líquido no segundo trimestre de 2008, atingido R$66,4 milhões, na comparação com igual período do ano passado.
Os embarques de boi vivo para engorda e abate aumentaram 124,2% em valor, para US$183,2 mi, e 22% em volume, para 216,9 mil cabeças, nos sete primeiros meses de 2008.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Érica Pólo. 14 de agosto de 2008.