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Preço do boi brasileiro já não é o mais caro do Mercosul

por Equipe Scot Consultoria
Quinta-feira, 21 de agosto de 2008 -10h13
O boi brasileiro já não é o mais caro do Mercosul e voltou a se distanciar, um pouco, do valor negociado nos Estados Unidos. Desde outubro do ano passado que, em dólar, a arroba do gado no Brasil era superior a do Uruguai - tradicionalmente o mais valorizado da região.

A alta do preço no país vizinho é superior à praticada no Brasil e o câmbio teria influenciado a inversão das posições. Para analistas, a diferença pode se manter por um tempo - vai depender de fatores não só fundamentais do mercado, mas também financeiros. Esta semana, a arroba no Brasil está sendo comercializada a US$54,60 e a uruguaia, a US$57,90. Os valores consideram o preço da arroba praticada no estado de São Paulo. Durante os 10 meses em que o produtor brasileiro recebeu mais que o vizinho do Mercosul, a maior diferença chegou a US$10,00 por arroba, em dezembro do ano passado. Em 2006, o Brasil havia passado à frente do Uruguai em valor, mas apenas com o gado do Rio Grande do Sul - o mesmo não ocorreu no restante do País.

“O boi brasileiro continua caro, mas agora não está mais tão perto do topo”, afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Segundo ele, desde janeiro, o animal do Uruguai se valorizou em 80%, o dobro do que ocorreu no Brasil. Uma série de fatores explica esta alta maior naquele país. De acordo com o analista, o Uruguai está exportando muito e a oferta de gado não está acompanhando o aumento da demanda, além disso, o país teria sido um dos beneficiados com os “embargos” ao Brasil. Rosa acrescenta que, tradicionalmente, o valor do animal daquele país é mais caro porque os uruguaios atendem mercados que pagam melhor.

Entre os principais competidores brasileiros, o que tem o animal mais barato é a Argentina: US$33,81 a arroba. No entanto, segundo o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, trata-se de um valor “artificial” em função do auto-embargo e da depreciação da moeda local por questão inflacionária.

Os frigoríficos brasileiros vinham reclamando do preço do gado brasileiro, que estava próximo ao americano (por volta de US$60,00 a arroba), o que estaria tirando a competitividade do País. No entanto, o diretor da AgraFNP, José Vicente Ferraz, lembra que mais que os preços em dólar, os custos influenciam. Na sua avaliação, diante da atual situação do dólar no mundo - enfraquecido - não faz sentido fazer a comparação de preços nesta moeda. Ele acredita que a diferença entre os dois países seja mais uma questão financeira que técnica. Até ontem, o dólar valorizou 3,45% em relação ao real no mês de agosto.

Opinião semelhante tem o sócio-diretor da Agripoint, Miguel Cavalcanti. Segundo ele, o preço do boi brasileiro está alto por questão de oferta e, quando convertido em dólar, fica caro.

Rosa diz que, para o preço do gado uruguaio continuar acima do brasileiro, a valorização naquele país tem de seguir no mesmo ritmo ou haver uma mudança cambial. Apesar de prever que, em reais, o gado brasileiro ter seu preço reajustado acima da inflação por um período de, pelo menos, um ano, o analista da Scot Consultoria acredita que a diferença a favor do Uruguai pode se manter.

Molinari lembra que o mercado brasileiro deu uma “acomodada” e, ao mesmo tempo, houve a questão cambial. Além disso, segundo ele, a queda nas exportações brasileiras podem ter influenciado no preço. “No Uruguai o rebanho é pequeno e muito ajustado, qualquer repique nas exportações provoca alta no valor da arroba. E, se o Brasil está vendendo menos, alguém está vendendo mais”, avalia. Apesar da queda na diferença entre o preço praticado no Brasil em relação ao Uruguai e até os Estados Unidos, ele diz que o valor da carne brasileira pode ainda não ter chegado ao teto.

Estados Unidos

Para agilizar a reabertura do mercado dos Estados Unidos - fechado desde o último dia 1º, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) está treinando médicos veterinários da iniciativa privada e do governo, visando harmonizar os critérios de aplicação e auditoria do sistema de análises de perigos e pontos críticos de controle sanitário. O treinamento, custeado pelas indústrias, está sendo ministrado pela Hacpp Consulting Group, consultoria de segurança de alimentos, em São Paulo, na sede da Superintendência Regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Os Estados Unidos são os maiores compradores da carne industrializada brasileira. No ano, as vendas para aquele mercado atingiram US$162 milhões, totalizando 76 mil toneladas.

Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 21 de agosto de 2008.