Socorro do governo americano deve amenizar a crise, recuperando também as perdas de valor dos produtos agrícolas
A aprovação do pacote de ajuda ao sistema financeiro norte-americano, votado nesta sexta-feira pela Câmara dos Deputados, deve impactar positivamente os preços das commodities. Isso porque o pacote deve melhorar a situação do mercado como um todo - ainda que nesta sexta-feira a notícia não tenha sido o suficiente para as bolsas fecharem em alta. É esta a opinião do consultor de agronegócios Silmar Müller, colunista de AMANHÃ. “As bolsas de valores mundiais terão uma recuperação e as bolsas de commodities, que estão acompanhando esse desempenho, terão performances melhores”, explica.
Mesmo prevendo um cenário de recuperação, Müller diz que o fato de a ajuda da Casa Branca ser parcelada - o aporte de US$700 bilhões não será liberado à vista - deixa brechas para novas oscilações e incertezas quanto ao desempenho do mercado. As commodities agrícolas, cujos preços estavam bastante valorizados antes da crise, acabaram por também sucumbir à série de tropeços do sistema financeiro.
Mesmo assim, José Amaral, da Scot Consultoria, avalia que o Brasil ainda pode se considerar em melhor situação quando comparado a outros países: “Há uma balança compensatória entre a desvalorização do Real e o Dólar valorizado, com queda nos investimentos, mas melhora nas exportações”. Mas ele mesmo alerta que as exportações, por sua vez, podem sofrer com o baque no consumo em economias ricas, principalmente a dos Estados Unidos. “Pode acontecer um efeito dominó devido à menor demanda americana”, alerta Amaral, da Scot Consultoria. Mesmo a China, vista por alguns como válvula de escape, deve ser impactada pela crise.
Silmar Müller explica que, como os Estados Unidos, maior mercado da China, irão diminuir suas compras, o país asiático conseqüentemente tende a encolher suas exportações. “Para a China, que vem crescendo 10%, 11% ao ano, a queda deve chegar a uma taxa de 7%, 8%. Não será muito ruim, mas as conseqüências para o Brasil serão”, diz ele.
Para o consultor, o agronegócio brasileiro está vulnerável. Isso porque é dependente direto de crédito externo e, nesse momento, os investidores estão se posicionando de maneira mais seletiva. Müller lembra que a falta de liquidez, que vinha afetando o crédito, pode agora receber uma trégua momentânea - já que os juros devem ser elevados. O fato, aliás, deixa o consultor um pouco mais otimista: “O Brasil está relativamente bem, não está blindado, mas está estruturado”, afirma.
Fonte: AMANHÃ. Agronegócio. Por Grasiela Duarte. 3 de setembro de 2008.