Em mais um dia de pânico nos mercados financeiros, as commodities agrícolas voltaram a despencar ontem nas Bolsas de Chicago e de Nova York.
O bushel da soja e do milho caiu ao maior nível aceito pelas bolsas, ou a “limite de baixa”, e fecharam o dia a US$9,22 (-7,05%) e US$4,24 (-6,6%), contratos futuros de novembro e dezembro (2008), respectivamente. O trigo fechou em queda de 6%, US$5,95/bushel (contrato de dezembro). O algodão também alcançou o limite de baixa e o contrato de dezembro fechou o dia cotado a US$0,5441 por libra-peso (-5,22%). Açúcar e café não chegaram a bater o limite mínimo, no entanto, os contratos de março (2009) e dezembro (2008) de cada produto, nessa ordem, registraram baixas de 6,66% e 6,55%, cotados a US$0,1177 por libra-peso e US$1,145 por libra-peso, segundo a Safras&Mercados.
“O mercado não está trabalhando com base em fundamentos. A proporção é 90% emoção e 10% fatores fundamentais”, diz Steve Cachia, analista da Cereal Par. Os investidores em índices referenciados em commodities retiraram US$10,2 bilhões dos contratos futuros agrícolas no terceiro trimestre, divulgou ontem o UBS.
Miguel Biegai, da Safras, diz que a valorização do dólar cumpriu papel importante para o movimento de queda livre. Para o analista, os investidores fugiram das rendas variáveis (commodities, moedas e ações) com o objetivo de comprar dólares e adquirir títulos federais americanos. “Esses títulos não remuneram, mas o dinheiro está seguro ali”, explica.
Cachia, da Cereal Par, lembra que os fundamentos são mais otimistas a médio e longo prazo. “Há forte demanda asiática para grãos e os Estados Unidos ainda têm estoques historicamente baixos de soja e milho”, reforça. Embora a demanda na Ásia possa arrefecer com o reflexo da crise, não trará impactos graves aos exportadores, acreditam analistas e empresários. O continente asiático é importante destino para os embarques brasileiros de grãos, sobretudo da soja.
Na opinião do empresário Juan Quirós, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ex-presidente da Agência de Promoção de Exportações (ApexBrasil), embora a demanda asiática possa reduzir, o exportador não deve deixar de fechar novos contratos. “O exportador não deve deixar de atender a esses mercados. Parar de comercializar é perder o cliente”, orienta. O Japão, acredita Quirós, é um dos países da Ásia que vão sofrer duros reflexos da crise, pelo volume de investimentos dos bancos do país que foram aplicados nos Estados Unidos.
O empresário complementa que esse é o momento chave para testar se os fundamentos do Brasil estão realmente equilibrados.
Apesar da incerteza sobre os reais efeitos da crise financeira, em reunião ontem do Conselho Superior do Agronegócio, na Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, vice-presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, afirmou não acreditar que os planos de médio e longo prazo das empresas brasileiras sejam alterados. “Não acredito em mudanças de planos por causa de uma crise que, até o momento, é de curto prazo”. Giannetti, também presidente da Abiec (entidade que representa os frigoríficos exportadores), lembra que a demanda física por alimentos ainda existe e que o Brasil hoje é menos dependente dos mercados norte-americano e europeu.
As exportações têm crescido em ritmo mais forte para países emergentes como China e Índia - cujas economias embora sofram impactos, devam continuar crescendo em ritmos similares. Giannetti também falou sobre crédito aos exportadores, nesse momento essencial. As empresas solicitaram ao Banco Central (BC) que ofereça uma linha de US$20 bilhões em Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) para financiar operações.
Carnes
O pecuarista Constantino Ajimasto Júnior, afirmou ontem que, apesar do cenário ainda nebuloso, por enquanto não está preocupado com os efeitos da crise. Ele vê efeitos positivos e negativos, que levam à compensação. Se por um lado a alta do dólar é bom fator para quem exporta, pode haver, por outro lado, certa retração no mercado interno. “Há reflexos emocionais por conta dessas notícias de falta de crédito. As pessoas começam a reduzir consumo”. Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, diz que a crise pode agravar o cenário previsto de preços altos da arroba e da carne bovina no mercado interno para 2009. Dólar atraente para exportadores e a demanda dos emergentes explicam.
As commodities agrícolas voltaram a despencar nas bolsas. Os empresários, porém, devem continuar fechando contratos de exportação para não perder mercado, diz Juan Quirós, vice-presidente da Fiesp.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Érica Polo. 7 de setembro de 2008.