Por Alcides Torres
Colaborou Hyberville Neto, médico veterinário, analista de mercado da Scot Consultoria.
Dentre as margens de comercialização na cadeia da carne bovina, a do varejo é a maior delas.
Em razão disso, frigoríficos têm feito incursões nesse elo da cadeia, em busca de abiscoitar essa diferença.
Margem não é lucro. Margem, aqui considerada, é a diferença entre os preços públicos vigentes entre cada elo, tais como produção (pecuarista), frigorífico, atacadista e varejo.
Para este estudo, consideramos as margens de comercializações médias em abril, sem os custos de produção, na praça de São Paulo.
Margem do frigorífico:
O frigorífico paga ao pecuarista valor referente ao rendimento em carcaça. Para se determinar as margens, adotamos os equivalentes correntes no mercado, identificados pela Scot Consultoria.
O Equivalente Físico, por exemplo, é o valor apurado pelo frigorífico, coma venda
da carcaça com osso no mercado interno. A carcaça é composta em média por
48% de traseiro, 39% de dianteiro e 13% de ponta de agulha.
A receita com a venda da carcaça pagou, em média, 94,7% do valor do boi. O Equivalente Físico, somado ao preço de venda do couro e sebo, é outro indicador
da receita do frigorífico, que aqui chamamos de Equivalente Scot.
A receita com a venda da carne com osso, sebo e couro, pagou em média, 99,7% do valor do boi.
Até aqui, de acordo com os preços públicos, o apurado com a venda da carne com osso, couro e sebo, não foi suficiente para pagar o boi gordo, ou empatou.
Já a venda da carcaça, com couro, sebo, miúdos e derivados, por nós chamada de Equivalente Scot Carcaça, gerou receita positiva: 15,1%superior ao valor do boi gordo.
Se considerarmos agora a venda da carne desossada no mercado atacadista (ao invés da carcaça com osso), além de couro, sebo, miúdos e derivados (Equivalente Scot Desossa), o resultado é positivo e superior ao Equivalente Scot Carcaça: a receita foi 21,2% maior do que a paga pelo boi gordo.
Vale lembrar que essas são as margens brutas de comercialização, indicadores, uma
vez que os custos não foram considerados. Esses números representam os produtos
do abate de um bovino.Vamos ver agora a margem da venda da carne no mercado
varejista.
Margens de comercialização da carne:
Consideramos o valor do traseiro, de maior valor comercial de um bovino com
16,5@, que é o peso médio do gado abatido no Brasil. Os cortes de traseiro representam 48% do peso da carcaça.
O valor do traseiro pago ao pecuarista foi de R$644,50 (48% do valor do boi gordo).
Esse mesmo traseiro, no mercado atacadista com osso valia R$ 736,50. Uma margem de comercialização de 14,3%.
Desossado, no mercado atacadista, esse traseiro valia R$ 817,82, com margem de 26,9% em relação ao preço pago ao pecuarista.
No varejo, apuramos que a carne sem osso dessa parte do boi valia R$ 1.436,31,
com uma margem de comercialização de 75,6%, três vezes maior do que a margem
do atacado sem osso em relação ao preço do traseiro pago ao pecuarista. Veja a figura 1.
É com o objetivo de abocanhar essa margem– a maior da cadeia –, é que os frigoríficos têm começado a atuar no varejo.
Observe na tabela os preços médios dos cortes de traseiro no atacado e no varejo em
São Paulo, e as margens em relação ao preço do atacado.
Trata-se de uma diferença impressionante, considerando-se a amplitude de diferença
vigente entre os elos da cadeia antes do varejo.
Sabe-se que o consumo de carne bovina é elástico; que a renda influi no consumo, principalmente de cortes de traseiro.
É de supor, portanto, que uma diminuição na margem do varejo, embora improvável, poderia estimular o consumo. Isso beneficiaria toda a cadeia, principalmente os elos que dependem exclusivamente da carne, o que não é o caso dos grandes varejistas.
Fonte: Revista
DBO Rural. Edição nº 356. Junho de 2010, pág. 32.