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Custo cai e pecuarista amplia investimento

por Equipe Scot Consultoria
Sexta-feira, 30 de janeiro de 2009 -10h50
O preço da vaca continua acompanhando o do boi, indicando que o pecuarista está deixando de abater a fêmea para deixá-la procriar. Em janeiro, a arroba da vaca até entrou em vantagem. Começou o mês valendo R$79,00 e, agora recuou para R$77,00 (-2,5%), enquanto a do boi desvalorizou-se 3,4% no período em São Paulo. O indicador mostra que a tendência de, pelo menos, reposição do rebanho no País, se mantém. Apesar do preço da arroba do boi gordo ter recuado, os custos para engordá-lo também estão em queda forte, inclusive em uma curva mais acentuada.

Desde junho, o valor da arroba do boi caiu 8%, de R$91,76 na média do mês em São Paulo, para R$84,00. Neste mesmo período, o custo de produção ficou 13% menor para a pecuária de alta tecnologia, segundo levantamento da Scot Consultoria. Fabiano Tito Rosa, da consultoria, explica que até outubro, os insumos para pecuária estavam em alta. A reversão iniciou em outubro, principalmente, dos insumos feitos a partir de derivados de petróleo, como a uréia, usado na produção de fertilizante e também na de suplementos minerais. “Esses suplementos, que foram os vilões de 2008, recuaram 5,8% somente em janeiro”, acrescenta Rosa.

A pecuária de baixa tecnologia, que tem um peso maior do custo com mão-de-obra, sofreu uma inflação de 5% entre junho de 2008 e janeiro de 2009. “Esse tipo de pecuária, caracterizada pelo boi de pasto, usa menos insumos, por isso, vai sentir menos o impacto da queda desse tipo de produto”, justifica o especialista.

“O que estimula o pecuarista a aumentar o rebanho é o lucro e, portanto, se há redução de custo maior do que o preço, a lucratividade está, pelo menos, preservada. Acredito que neste cenário, os pecuaristas vão manter investimentos, apesar de em um ritmo menor do que se esperava antes da crise”, avalia José Vicente Ferraz, diretor-técnico da AgraFNP.

Os dados mais atualizados sobre abate de vacas no País são de setembro de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos nove meses de 2008 foram abatidos 3% menos boi gordo do que em igual período do ano passado, enquanto que o descarte de vacas foi 9% menor, segundo o instituto. “Se formos considerar apenas terceiro trimestre de 2008, na comparação com o mesmo período de 2007, o abate de vacas caiu 12%”, diz.

Desde o início de 2006 - pico do descarte de matrizes - o preço da vaca em São Paulo subiu 61%, enquanto o do boi, no mesmo período, valorizou-se 57%. A arroba da vaca valia R$48,16 e foi para R$77,65 e do boi R$53,79 para R$84,65, segundo a Scot Consultoria.

Esse movimento de retenção de matriz para reprodução vem sendo percebido nos últimos dois anos, segundo Tito Rosa. “Há sinais de que os planos do pecuarista de investir no rebanho não mudaram. Os dados oficiais de descarte de matrizes é um deles. O outro é a valorização do preço da vaca em relação ao boi”, explica Rosa.

O pecuarista Marcos Reinach, que detém um rebanho de 4 mil cabeças em Aparecida do Taboado (MS), comprou 70% do seu gado para reposição até setembro do ano passado e suspendeu novas aquisições depois que o mercado começou a sinalizar queda. Agora ao final de janeiro ele retomou as ordens de compra e está pagando 15% menos. “Paguei em setembro R$650,00 por um bezerro, valor que agora está em R$550,00”, compara Reinach, que vai manter seus investimentos.

O bezerro representa em torno de 50% do custo de produção da atividade de recria e engorda. A maior oferta, resultado da retenção de vacas, está há alguns meses provocando a desvalorização do novilho. Segundo dados da Scot Consultoria, em junho do ano passado, um bezerro de 12 meses com 7 arrobas valia R$750,00, valor que hoje está em R$650,00 (São Paulo), queda de 13,3%, mais acentuada que a do boi gordo, de 8,5%.

Crescimento

Apesar de os preços da vaca e do bezerro indicarem certo movimento positivo na formação ou reposição do rebanho, ainda é cedo para projetar crescimento em 2009, segundo Ferraz, da AgraFNP. A incerteza em relação à demanda mundial por carnes e o pessimismo nos mercados apenas permitem que analistas se limitem a prever produção igual ou mesmo inferior a 2008, que já foi menor do que no ano anterior.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, os abates bovinos no País (com inspeção federal) foram de 22,03 milhões de cabeças, queda de 12% na comparação com os 25 milhões de 2007. O volume só é maior do que a de 2004, quando foram abatidos 20 milhões de cabeças. “A situação dos frigoríficos não está nada fácil. Antes da crise mundial, o setor já vinha de margens apertadas por causa da alta da arroba, que representa 90% do custo na indústria. Agora, temos uma crise de crédito que afeta a demanda. Isso deve dificultar ainda mais”, avalia Rosa. Em janeiro, as exportações de carne repetiram a queda de dezembro e novembro. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) na média semanal, janeiro de 2009 registrou embarques 23,2% inferiores ás médias semanais de janeiro de 2008.

Fonte: Gazeta Mercantil. Finanças & Mercados. Por Fabiana Batista. 30 de janeiro de 2009.