Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
Se alguém esperava alguma notícia vinda do exterior que pudesse fornecer alguma força às cotações internas de milho no Brasil, elas estão cada vez menos animadoras. Os Estados Unidos estão em vias de colher a segunda maior safra de milho de sua história, com a produtividade das lavouras alcançando um novo recorde. Os estoques monumentais da China (cerca de 50 milhões de toneladas) garantem o abastecimento interno e afastam os temores que poderiam surgir a partir de notícias de uma possível redução na produção. A Europa e vizinhança colhem uma safra que, apesar de ser cerca de 15 milhões de toneladas abaixo do ano passado, ainda dá segurança para o ano de 2009/10.
Os estoques continuam caindo? Isto é um problema para a próxima safra no hemisfério Norte, durante o ano de 2010. No curto prazo, e este é o horizonte das especulações relevantes que podem afetar os preços, a situação está confortável. Muito diferente do primeiro semestre do ano passado e independente das perspectivas de aumento na produção de etanol a partir do milho, de redução da área plantada na Argentina e no Brasil etc. As necessidades mais próximas estão atendidas e, como resultado, nos últimos três meses o preço da Bolsa de Chicago tem oscilado dentro do intervalo US$3,20 – US$3,40 por bushel, nem tão baixo como os US$2,00 nos anos anteriores a 2006 nem tão alto como os US$4,00 que se verificaram ao longo do ano de 2007. O ano de 2008 foi outra história e não serve de base para qualquer análise.
Com relação à safra cujo plantio se inicia no hemisfério Sul, o fator relevante é a contínua redução da área plantada com milho na Argentina (de 2,46 milhões de ha em 2008/09 para uma estimativa entre 2 e 1,9 milhão de ha na safra que está sendo plantada).
Situação Interna
No Brasil, o décimo segundo levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) praticamente confirma a produção de cerca de 50 milhões de toneladas para a safra de 2008/09. Na safra de verão de milho, as informações estão definidas: apenas se verificaram pequenos ajustes na produção esperada para o Nordeste, confirmando uma expectativa de produção em cerca de 33,6 milhões de toneladas. A safra do Nordeste é cerca de 7% superior à safra do ano passado, que já havia sido uma safra recorde. A quantidade colhida de 4,1 milhões de ton garante o abastecimento local.
No caso da safrinha, os dados ainda são provisórios. Informações coletadas pelo Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) em agosto evidenciam um grande crescimento da produtividade das lavouras de milho safrinha no estado em relação às disponíveis anteriormente, que foram coletadas em julho. Este crescimento ainda não foi captado pelos levantamentos da Conab. Em resumo: ainda poderão ocorrer revisões com relação à produção da safrinha, tendo em vista que o Mato Grosso é o principal produtor de milho nesta época.
De qualquer forma, estas informações somente confirmam o que o mercado já captou, ou seja, a existência de um grande excedente de produção que tem pressionado os preços para baixo e criado uma situação desanimadora para os agricultores do Sul do país, que estão no início do plantio da safra.
Ainda sob efeito da colheita da safrinha, os preços continuam a apresentar movimentos de baixa no Sudeste e no Sul e, em estados como o Mato Grosso, começa a se estabilizar, talvez como resultado de um grande esforço do governo federal para sustentar o mercado do milho na região Centro-Oeste (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho – www.cnpms.embrapa.br/cimilho).
Estes movimentos de preços, em um ano de safra recorde, mostram a importância do suporte que o mercado externo pode dar à queda de preços em safras de maior porte, como a que estamos colhendo. E é justamente isto o que está faltando nesta safra. Em suas previsões, a Conab reduziu a expectativa de uma exportação para cerca de sete milhões de toneladas de milho. Os dados referentes às exportações de milho no mês de agosto continuam não animadores, embora o quantitativo exportado (371 mil toneladas) tenha sido superior ao verificado no mês anterior e também ao mês de agosto de 2008. Do total exportado, cerca de 208 mil toneladas foram do Mato Grosso, o que pode ser resultado dos leilões da Conab efetuados na região. Entretanto, para atingir a previsão da Conab, seria necessária uma exportação média de 750 mil toneladas em cada um dos quatro meses até o fim do ano.
Para agravar a situação, estão crescendo as importações de milho do Paraguai, que pode colocar seu produto com um menor custo na região Sul do Brasil. No mês de agosto, foram importadas deste país 123 mil toneladas e, durante o ano de 2009, foram importadas 570 mil toneladas. O próprio fortalecimento do real frente ao dólar pode ter favorecido estas importações, ao mesmo tempo em que dificulta as exportações. Outro problema está na produção de trigo de baixa qualidade nesta safra. Devido a fatores climáticos que estão ocorrendo na colheita do trigo neste ano no Brasil, parte do trigo colhido não apresenta padrão para o consumo humano e será utilizado na alimentação animal, concorrendo com o milho no Sul do Brasil.
Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue firme. Segundo o portal Avisite, a produção de carne de frangos vem se recuperando e somente é inferior à de novembro de 2008 (ajustado para mês de 30 dias). O alojamento de aves vem crescendo, principalmente no Paraná e na região Nordeste. Este crescimento encontra suporte nos baixos preços do milho no mercado interno.
No que diz respeito ao mercado, o aspecto dominante são os grandes estoques de milho disponíveis. Enquanto esta situação não for contornada (principalmente pela exportação destes excedentes, o que tem se mostrado problemático), os cerca de 10 milhões de toneladas de milho existentes (segundo estimativas da Conab) continuarão afetando os preços do milho, inclusive até meados do próximo ano, se nenhum grande problema ocorrer.
Nesta situação, foi dada a partida para o plantio da nova safra. Como a produção agrícola tem períodos fixos para acontecer, as decisões têm que ser tomadas com poucas opções. As estimativas preliminares de área plantada indicam retrações no Rio Grande do Sul (cerca de 8%) e no Paraná (cerca de 20%, segundo a secretaria estadual de Agricultura). Consultorias privadas têm apontado também a redução da área plantada de milho na safra de verão. Caso estas reduções se confirmem, o abastecimento de milho a partir da produção regional, na região Sul, estaria na dependência da produtividade a ser obtida. No início de outubro, será divulgada a primeira estimativa da Conab em relação à área plantada para a próxima safra e uma melhor figura estará delineada sobre o próximo ano, com reflexo ainda neste segundo semestre.
Aparentemente, os produtores estão ainda sob o efeito das condições de produção e comercialização vigentes na safra 2008/09. Esta safra foi implantada com insumos a preços elevados e comercializada com milho a preços deprimidos. O ambiente de desânimo é compreensível.
Entretanto, no que diz respeito aos preços dos insumos, estes já retornaram a níveis civilizados. Levantamentos efetuados pela Scot Consultoria, pelo Deral (Secretaria da Agricultura do Paraná) e pelo Instituto de Economia Agrícola indicam que os principais insumos utilizados na produção de milho (fertilizantes, em especial) estão a preços similares aos de 2007 e em queda. A exceção está por conta das sementes, que, devido à introdução de eventos transgênicos, estão com os preços mais elevados.
Isto significa o retorno a condições normais de produção, com uma safra nem tão favorável como a de 2007/08 (comercializada com preços de milho mais elevados) nem tão desfavorável como a de 2008/09 (implantada com preço de insumos nas alturas e comercializada com preços de milho reduzidos). Entretanto, como a última experiência é a mais marcante, pelo menos esta safra de 2009/10 será realizada sob o impacto das condições vivenciadas na safra de 2008/09, embora tais condições já sejam passado.
Nestas condições, a procura pela melhor eficiência no uso dos insumos e na condução das operações de campo, principalmente no que diz respeito à utilização da forma e época correta, é essencial. A condução criteriosa dos componentes do sistema de produção - tais como a observação da época do plantio adequada e de operações com pouca influência nos custos, mas que, se realizadas de forma adequada, podem contribuir para a manutenção do potencial produtivo - é da maior importância em um ano como este.
Fonte: Safra News. Por João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte. 1 de outubro de 2009.