A forte retração no preço do petróleo nos últimos meses e a consequente redução nos postos de trabalho disponíveis ampliou a demanda por carne de frango nos países árabes. A mudança no perfil de consumo é considerada por especialistas como típica de períodos de crise por causa do menor custo da carne de frango em comparação à bovina. Mesmo assim, as vendas para os dois mercados ainda estão abaixo das médias registradas em 2008. Representantes das indústrias foram unânimes em afirmar que é necessário empenho para manter os atuais mercados e garantir a estabilidade dos preços.
No caso da carne bovina, mais afetada até o momento, os exportadores esperam compensar as perdas com a retomada das vendas ao Chile e União Europeia a partir de março. Para garantir a regularidade em mercados importantes como o árabe, as principais empresas de carnes estiveram reunidas entre os dias 21 e 22 de fevereiro em Dubai, na rodada de negócios denominada Sabores do Brasil e promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O evento reuniu os 50 maiores importadores árabes e foi considerado essencial para reforçar contatos das companhias brasileiras.
“Percebemos que a carne de frango foi a mais procurada em relação aos outros produtos. Por esse motivo, acreditamos em recuperação para os próximos meses”, destacou Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). Após a forte queda nas exportações registrada no último trimestre de 2008, os embarques cresceram no primeiro mês de 2009. Conforme informações da Secretaria de Comércio Exterior vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Secex), em janeiro, os embarques de frango in natura para os principais países no mercado árabe cresceram 4,6%, para 65 mil toneladas na comparação com dezembro de 2008. A carne bovina, por sua vez, recuou 17% no mesmo período, para 15,5 mil toneladas.
Turra ressaltou a importância dos árabes explicando que são responsáveis pela compra de 31% dos frangos vendidos no mundo, o equivalente a US$2 bilhões por ano. Disse que Dubai é um importante pólo de logística para o acesso dos países do Golfo e afirmou que o setor não está disposto a reduzir preços. “Perdemos muito com a alta dos insumos no ano passado e não vamos aviltar os preços”.
Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), confirmou a preferência pelo frango no atual contexto. Porém disse que a redução é insignificante e, portanto, não provoca preocupação. “Nosso objetivo é manter nossa liderança entre os árabes e reforçar os contatos”, disse durante a 14º edição da Gulfood, uma das maiores feiras de alimentos da região, realizada em Dubai. Ele espera que a reabertura das vendas ao mercado chileno, que havia cancelado os embarques após o surto de febre aftosa no Brasil em 2005, seja retomado a partir de março e diminua o excesso de oferta no mercado brasileiro. A expectativa, segundo disse, é que sejam embarcadas 100 mil toneladas anuais para o Chile. “Além disso, a União Européia deve aumentar a lista de fazendas a partir de março, consumindo mais 150 mil toneladas por ano. Esses dois mercados devem reduzir a pressão de oferta no Brasil”.
Durante entrevista realizada em São Paulo, Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, acrescenta que o excesso de oferta tem ocorrido no mundo inteiro.
“Desde o início da crise nenhum mercado está consumindo com firmeza. Talvez o interno esteja em melhor situação”, explicou. Segundo disse, os preços médios da carne bovina recuaram 25% desde outubro, considerado início da crise. Na Rússia, onde a situação é mais grave, os preços recuaram 40%. “No atual cenário, os frigoríficos precisam ser agressivos e não desperdiçar nenhum mercado”.
Para Gianetti, a carne de búfalo produzida na Índia não oferece riscos aos frigoríficos no Oriente Médio. “É um nicho de mercado diferenciado. Nós somos líderes em carnes e a qualidade do nosso produto é muito superior”.
Turra disse ainda que a região poderá ganhar mais relevância nas vendas internacionais. Segundo disse, o projeto Sabores do Brasil é importante para ampliar esse espaço. “Essa divulgação ajuda a aumentar o interesse dos compradores. Por isso, não estranharia se a Arábia Saudita assumisse a segunda colocação no ranking dos principais compradores”. Disse que isso é possível graças a abertura do mercado chinês, que não comprará mais de Hong Kong. O Japão foi o primeiro colocado em 2008, com 422 mil toneladas. Seguido por Hong Kong (415 mil toneladas) e Arábia Saudita (400 mil toneladas).
O secretário estadual do Desenvolvimento e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também marcou presença na Gulfood e ressaltou a importância dos árabes. “Estamos aqui para reforçar nosso apoio aos empresários do setor, que já teve início com o drawback paulista”, explicou se referindo à suspensão do ICMS na aquisição de insumos destinados a produção de bens para exportação dos setores estratégicos para o emprego.
Fonte: Gazeta Mercantil. Finanças & Mercados. Por Roberto Tenório. 2 de março de 2009.