Com a queda das exportações e a paralisação, ainda que temporária, de importantes players, cresce a disputa pelo mercado interno de carnes. Logo depois do pedido de recuperação judicial do Frigorífico Independência, cuja capacidade de abate é de 10,8 mil cabeças por dia, o Friboi se movimenta para ampliar sua fatia no mercado doméstico. Este mês, a companhia estará avaliando quais de suas plantas no Brasil terão sua produção ampliada e já sinaliza a contratação de 5 mil pessoas ainda no primeiro semestre de 2009. Recentemente a empresa desistiu da aquisição da norte-americana National Beef.
De acordo com levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com o fechamento das 12 plantas do Independência, que deve retomar as atividades na próxima semana, a oferta de boi aumentou em algumas regiões e isso pontualmente representou uma pressão negativa sobre os preços. O Indicador de preços do instituto aponta para o período de 25 de fevereiro a 3 de março uma queda de 1,8% no produto posto em São Paulo. Em praças onde há plantas do Independência, como na cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, a retração ultrapassa 3%.
Por outro lado, a suspensão das atividades nos frigoríficos gerou uma maior cautela por parte dos pecuaristas que, de modo geral, retraíram ainda mais sua oferta. Segundo o Cepea, a oferta continua baixa e para manter a escala de produção, os frigoríficos estão ampliando as ofertas a vista. O Friboi já está tomando medidas para contribuir com o escoamento da produção e a manutenção do abastecimento do mercado consumidor. “A companhia ainda afirma que como forma de compensar parte de possíveis perdas dos produtores, está reduzindo a taxa de antecipação do pagamento para aquisição de animais à vista de 4% para até 2% ao mês”, afirmou em nota.
“A Famato está bastante preocupada com a situação dos frigoríficos no Estado”, disse Rui Prado, presidente da entidade que na próxima sexta-feira passa a realizar reuniões com produtores das cidades-polos dos frigoríficos.
A capacidade de abate do Independência no Mato Grosso é de 7 mil cabeças por dia. Segundo Alcides Torres, diretor presidente da Scot Consultoria, ainda sobram no Estado 4,5 mil cabeças por dia. “O próprio mercado está se adequando a oferta de boi”, disse.
Torres avalia que o ajuste do número de plantas se deve em grande parte a menor oferta de boi, fruto da desvalorização do produto em 2006 quando o produtor optou por realizar o descarte de matrizes. “Aquele foi o pior preço na praça São Paulo, com a arroba a R$50. Hoje está R$80”. Mesmo com o preço em patamares ainda remuneradores, o consultor não desconsidera que o descarte avance para um novo ciclo, o que poderia gerar novos períodos de escassez.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Priscila Machado. 5 de março de 2009.