Será inaugurada hoje a unidade produtiva do Minerva Down Farms (MDF), em Barretos, São Paulo, em meio a uma crise sem precedentes no setor de carne bovina, que tem atingido principalmente as grandes empresas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é aguardado e deve se posicionar em relação a polêmica sobre um possível pacote de ajuda que o governo estaria preparando para os frigoríficos e que tem dividido as opiniões mesmo dentro do setor. A medida foi confirmada ontem pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
Com foco no potencial de crescimento do setor de Food Services, a nova unidade produtiva, uma joint venture entre o Minerva S.A. e a Dawn Farms, será uma das maiores do País no processamento de carne para produtos industrializados, produzindo de 240 a 360 toneladas de carne processada por dia. O investimento inicial é de R$80 milhões e a expectativa de faturamento é de US$200 milhões por ano.
A planta apresenta estrutura flexível e poderá produzir alimentos a base de carne bovina, suína e de aves ao mesmo tempo e em escalas diversas.
Mesmo em um momento difícil para o setor de carnes, especialmente no que diz respeito às exportações, o MDF aposta no mercado externo para onde deve destinar cerca de 70% dos produtos. “Como teremos produtos diferenciados, nossa atuação será bem pulverizada em diversos mercados”, explica o CEO da indústria, Roberto Denuzzo.
Como alternativa para driblar a crise de demanda no setor de carnes a companhia irá apostar no food service, a exemplo do que o Marfrig e a Friboi fizeram nos últimos anos, inclusive com aquisições de empresas. Denuzzo ressalta que o crescimento desse segmento acontecerá mesmo diante da turbulência da economia internacional e o aponta como uma opção segura para investimento e expansão. “Os mercados estão sendo impactados pela crise, mas o mercado de food service será afetado em menor grau por ser uma opção segura e, em alguns casos, mais acessível”, diz.
Em relação aos animais vivos, o preço das exportações caiu mais de US$5 nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro. “Em reais, o preço da arroba dos animais exportados vivos passou de R$87,12 para R$102,41 - uma valorização de 17,55% entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009”, diz Maria Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria.
O setor continua pleiteando ajuda do governo, mas sem um consenso entre as lideranças. Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo, não concorda com a intervenção do BNDES, ao menos que o recurso seja imediatamente repassado para os pecuaristas os quais os frigoríficos estão inadimplentes no pagamento pelos animais. “Sob esse ponto não vai existir consenso”, disse. O presidente da entidade - que agrupa 670 frigoríficos e representa 70% do abastecimento nacional - reiterou que desde que ocorreu o pedido de recuperação judicial as empresas deixaram de pagar os produtores.
“Não podemos aceitar que o dinheiro público venha socorrer essas empresas. O Independência, por exemplo, enquanto ganhou dinheiro privatizou o lucro e agora que pediu concordata quer socializar o prejuízo”, afirma Salazar.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), espera que o governo envie uma medida provisória específica para tratar do assunto ou mesmo incorpore uma emenda em uma da MPs que já tramitam no Congresso.
Independência na mira
Acionista dos principais frigoríficos de carne bovina do País, o BNDES já recebeu sondagens de empresas interessadas em uma eventual compra de ativos do Independência. “Com relação ao Independência, o banco agora financiaria apenas compradores, grupos com estrutura de governança adequada”, diz uma fonte do BNDES sob anonimato.
Fonte: DCI. Agronegócio. Por Priscila Machado. 20 de março de 2009.