Diante do atual cenário de suspensão de exportação da carne brasileira para Rússia e Estados Unidos, a Irlanda, mais uma vez, inicia uma movimentação na tentativa de barrar o produto brasileiro. No entanto, de acordo com especialistas do setor, a iniciativa não deve ser bem-sucedida e também não deve ter impacto nas vendas nacionais. No entanto, a crise europeia assusta a pecuária brasileira, mesmo sem ter números concretos.
“A Irlanda sempre que pode se opõe ao Brasil. Mas é normal. Eles (irlandeses) não gostam da concorrência de países da América do Sul”, afirmou Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. “O que pode, de fato, alterar os números da exportação brasileira é essa nova onda de crise”.
O especialista Alex Lopes da Silva, especialista da Scot Consultoria, assegura que, até agora, não houve sinais de que outros países possam suspender o produto brasileiro por algum tipo de influência dos irlandeses, ou até mesmo por causa da Rússia e dos Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), as exportações do Brasil podem subir para 15%, até o fim deste ano, diante o último ano - quando as exportações foram, aproximadamente, de 1,8 mil toneladas.
Para Molinari, o País não consegue alcançar essa estimativa. Até abril de 2010, foi embarcado 1,1% a mais, em volume, contra o mesmo período do ano passado. De janeiro a maio deste ano foram exportadas 764 mil toneladas - Tonelada Equivalente Carcaça (tec) -, perante 744 mil toneladas da mesma temporada de 2009, contou. E completou: “Analisando o panorama atual, se conseguir aumentar para 5%, está bom”. A média nacional de produtividade é de 0,8 unidade animal a uma cabeça por hectare.
A Rússia suspendeu oito plantas industriais brasileiras de carne bovina dos grupos (e frigoríficos) JBS e Marfrig. “Esse fato não influencia, pois a Marfrig, por exemplo, tem outras plantas habilitadas e pode redirecionar as vendas para outros lugares”, disse Ronei Lauxen, presidente do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul, que afirmou que os russos restringiram uma planta industrial no estado. Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), acredita que a suspensão é em função de uma concentração de vendas no mercado da Rússia. “Eles querem diversificar as empresas (do Brasil) para que os preços não fiquem encarecidos. É provável que o País acate”, opinou o presidente, que esteve em Moscou, em 2008, contou que havia reclamações por parte do setor quanto ao valor da carne.
Outros estados também receberam restrições dos russos: Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Segundo Molinari, a Marfrig não será prejudicada, já que São Paulo assume a lacuna de outros estados por ser produtor e exportador.
Segundo Lopes da Silva, o Brasil exporta cerca de 30% de carne para a Rússia. Por isso, para Lopes da Silva, é “difícil eles suspenderem a carne para procurar novos mercados. E mesmo com a última crise, apesar de redução por parte deles, o Brasil conseguiu enviar um grande volume”.
Estados Unidos
Os Estados Unidos alegaram um motivo concreto para suspender a commodity brasileira: questão sanitária. O nível de Ivermectina, um vermífugo utilizado na criação de bovinos, está acima do permitido. O congelamento na exportação, contudo, partiu do Ministério da Agricultura brasileiro. “As vendas foram bloqueadas para os níveis serem ajustados”, afirmou Salazar.
De acordo com o analista da Scot, cabem, agora, às empresas brasileiras de medicamentos reverem certos conceitos para evitar piores consequências. “Mas isso não deve mexer na imagem do Brasil”, comentou. Ainda segundo o especialista, o Irã e países do Oriente Médio aumentam a demanda pela pecuária do País.
“A questão americana é inteiramente de procedimento. Os frigoríficos se bloquearam porque não querem perder vendas”, disse Molinari. Por mês, o Brasil embarca cerca de 6 mil a 7 mil toneladas de carne.
Diante do cenário de suspensão da exportação da carne brasileira para Rússia e EUA, a Irlanda, mais uma vez, inicia movimentação para barrar o produto brasileiro no exterior.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Diego Costa. 9 de junho de 2010.