O setor de higiene e limpeza e as indústrias de biodiesel têm disputado matéria-prima, o sebo bovino, e isso já eleva o preço de produtos ao consumidor. O valor do insumo vendido por frigoríficos subiu mais de 30% em um ano. Fabricantes de sabonetes e produtos de limpeza (sabão em barra) repassaram, em março e abril, os aumentos dos últimos meses. Empresas como Química Amparo, Bombril e Bertin Higiene e Limpeza constataram o aumento - com pedidos de reajuste de fornecedores que chegaram a superar os 50%.
“Não dá para arcar com essa alta toda. E não vamos abrir mão de margem por conta disso, então estamos fazendo aumentos escalonados”, conta Moacir Sanini, presidente da Bertin Higiene e Beleza. De acordo com ele, os frigoríficos chegaram a solicitar reajustes de 53% pela matéria prima no acumulado dos últimos seis meses. “O sabonete que custava R$0,60 está indo para R$0,75. Não é tanto, mas são os 25% de aumento que precisamos fazer para proteger nossa rentabilidade”, disse.
De acordo com Marco Aurélio Guerreiro de Souza, diretor-presidente da Bombril, por conta da pressão de insumos como sebo e aço (usado na palha de aço), a empresa fez aumentos de 5% a 6% nos preços nos últimos dois meses, e ele explica que podem ser feitos novos reajustes a conta-gotas. “Estamos vendo como o mercado reage para voltarmos a pensar em novas altas”, afirma.
Com mais de 130 marcas no portfólio, a Hypermarcas reajustou em 6% a 8% as linhas de produtos em abril. Higiene e limpeza foram segmentos afetados pelo aumento, que foi reflexo de mudança na política comercial e efeito dos maiores custos de produção com a alta de insumos e fretes, segundo analistas. “Com a inflação batendo na porta, e uma política de juros maior, nós temos que garantir um crescimento rentável”, disse Claudio Bergamo, presidente da Hypermarcas, em teleconferência com analistas na semana passada.
“Para este ano, eles (os aumentos) vieram para ficar”, disse ele, que confirmou a postura da empresa de proteger as margens da operação ainda que em detrimento da participação de mercado.
Segundo analistas e indústrias, a elevação no insumo decorre não só da demanda maior pela matéria-prima nos setores de higiene e biodiesel, como também pela oferta mais restrita. É que os abates de bovinos no país não têm crescido de forma significativa.
O sebo também se valorizou por meses consecutivos - em abril e maio os reajustes perderam um pouco a força - por conta de um efeito dominó. Desde que passou a ser usado para fabricação de biodiesel nos últimos cinco anos, o subproduto bovino tem sofrido a influência dos preços do óleo de soja, outra matéria-prima para essa indústria. Quando o consumo pelo óleo cresce, a elevação acaba puxando também o valor do sebo. O preço do óleo subiu 47,5% na Bolsa de Chicago nos últimos 12 meses.
“Se o óleo de soja sobe, existe migração para o sebo, o que acaba pressionando (a cotação”, diz Hyberville Neto, analista da Scot Consultoria, que acompanha preços do subproduto junto a frigoríficos, indústrias de higiene e limpeza e de biodiesel. Para ele, o aquecimento da economia, que eleva a demanda por bens de consumo, e a obrigatoriedade da mistura de 5% de biodiesel ao diesel, o chamado B5, explicam a alta do sebo.
Segundo o último relatório da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), referente ao mês de fevereiro, um percentual de 12,4% do biodiesel produzido no país usou o sebo como matéria-prima. A maior parte do biodiesel ainda é produzida com óleo de soja (83,97% do total).
César Abreu, diretor industrial de biodiesel da JBS, reconhece que há concorrência maior pelo sebo entre o setor e a indústria de higiene e limpeza, mas ele aponta sobretudo a influência dos preços do óleo de soja. Conforme Abreu, o sebo colocado na indústria hoje (com ICMS) está na casa dos R$2,00 a R$2,10 o quilo, 50% acima do que custava há um ano.
Apesar da recente escalada, Abreu acredita que os preços do sebo devem perder força no curto prazo, pois a entrada da safra de soja deve reduzir a pressão sobre o óleo de soja. As cotações desse produto já começaram a recuar, afirma. “Na semana passada, o óleo de soja degomado estava a R$2.360 a tonelada. Agora está em R$2.310", disse ele, quatro dias atrás.
Fonte: Valor Econômico. Empresas. Por Adriana Mattos e Alda do Amaral. 16 de maio de 2011.