Falta de oferta, baixa demanda e o clima são as razões principais para a oscilação nos valores do gado brasileiro. Em 2011, a expectativa é de abates menores - São Paulo.
Os preços da arroba do boi no Brasil devem mesmo voltar a patamares mais elevados no segundo semestre deste ano. Isso porque a oferta de animais não foi recuperada como o esperado e o volume de abates deve ficar um pouco menor que o ano passado. Apesar disso, os preços não devem chegar a picos tão altos, dado principalmente à queda na demanda pela proteína no Brasil. Os preços deste primeiro semestre ficaram 28,5% mais altos que o mesmo período do ano anterior.
Desde o final do ano passado, quando o preço do boi chegou a patamares médios de R$115 a arroba, dado principalmente à baixa oferta de animais, ocasionada pelo grande volume de abates de matrizes nos últimos anos, o preço do animal seguia em patamares mais elevados no Brasil. De janeiro a maio deste ano, a arroba seguia cotada acima dos R$100, e somente ao final do quinto mês os preços começaram a recuar.
Segundo o analista da Scot Consultoria, Alcides Torres essa queda inicial foi causada por dois fatores: o primeiro foi em função do clima que trouxe o frio e a seca antecipadamente, fato que levou os pecuarista do País a antecipar a engorda e a entrega dos animais. “Com o frio e as secas, os produtores que já tinham o animal pronto resolveram comercializá-los logo para que eles não perdessem peso, e com isso os preços também recuaram”, disse ele.
A segunda razão apontada pelo analista é a menor demanda interna pela proteína, dado aos altos valores encontrados no mercado. “O consumo de carnes não está ruim e nem pequeno, ele apenas deixou de crescer. Mas já estamos em patamares bastante elevados no consumo. Entretanto, isso ajudou a deixar o mercado mais conservador em relação aos preços, que por fim recuaram ao final de maio, e no mês de junho”.
Entretanto o movimento de baixa que animava os consumidores durou pouco, pois neste mês as cotações já voltaram a ultrapassar a casa dos R$100 a arroba, novamente por conta de uma oferta ainda menor nestes primeiros dias do mês. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os poucos pecuaristas que ainda possuem lotes de animais se mostram resistentes em negociar, apostando em novos reajustes dos preços. “O pessoal sempre acaba dando uma segurada nas vendas para aproveitar o momento, pois o pico da entressafra é em setembro e outubro, e os preços tendem a ficar mais altos nessa época. Muitos pecuaristas que têm condições de manter o gado em sua propriedade nessa época esperam para vender e conseguir um lucro maior”, contou Fernando Sampaio, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec)
Para ele, a recuperação do volume de abates só deve começar de fato no ano que vem, e de forma progressiva até a adequação total do rebanho ao volume demandado. “Essa recuperação da oferta só deve começar no ano que vem. Não sabemos se ela será o suficiente para conter a alta dos preços. Hoje o poder de abate do País é menor que no ano passado, não muito menor no máximo uns 5%”, frisou o executivo.
Com isso, Alcides Torres acredita que o País poderá visualizar três cenários distintos neste segundo semestre. O primeiro é que se o consumo continuar em baixa a arroba deve ficar na casa dos R$100 a R$105. O segundo se refere à variação média dos preços do primeiro para o segundo semestre, que historicamente sobem 9%, fechando assim a valores teto de R$110 a arroba. E a terceira é um comparativo com o ano passado, que ao final os preços estavam até 20% mais altos que no primeiro semestre. Assim sendo, a cotação do boi ficaria superior a R$115. “Então mesmo o pior cenário é bom para os pecuaristas. No ano passado tivemos 15 dias com preços médios de R$115 a arroba, e isso não é impossível de acontecer de novo”. Até o dia 13 de julho a média do mês para a arroba estava em R$98,92, contra os R$84,98 vistos nos primeiros 13 dias de julho do ano passado.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Daniel Popov. 15 de julho de 2011.