Rotação de pasto e cruza industrial também incrementam a produtividade
Para abater o boi mais cedo, entre 20 e 22 meses e com 18 arrobas, um desempenho acima do alcançado na média das fazendas brasileiras, e ao mesmo tempo produzir uma carne saborosa, graças à gordura entremeada, a Fazenda Batovi, em Mato Grosso, faz uso das mais modernas e sustentáveis ferramentas tecnológicas. Com sede em Primavera do Leste, a Batovi faz integração lavoura-pecuária, pastejo rotacionado, cruzamento industrial (nelore e angus) e inseminação artificial com a nova IATF, como é conhecida a inseminação artificial por tempo fixo. O dono da fazenda, Inácio Camilo Ruaro, um grande produtor de sementes e grãos de soja, agrega renda com a pecuária de corte numa região de Cerrado onde a vista se perde diante do mar de soja, milho e algodão. Além de aproveitar os resíduos das lavouras para alimentar o gado, ele usa o solo fertilizado pela pós-colheita da soja para plantar em consórcio milho safrinha e capim e depois soltar as reses em cima para o pastoreio.
A Batovi, que é comandada pelo filho de Inácio, Marcelo Ruaro, de 27 anos, tem 2 mil matrizes nelore (no total, o rebanho é formado por 4 mil cabeças, incluindo bezerros e novilhas) e faz cria, recria e engorda. “A comida para o gado é farta e nutritiva graças aos sistemas de integração lavoura-pecuária e aos piquetes rotativos”, explica Marcelo.
Assim que a soja sai do chão, é plantado o milho safrinha consorciado com o capim-braquiária das variedades decumbes e ruzizienzes. O cereal foi colhido no mês passado, e as vacas nelore de descarte, além das novilhas e novilhos, entraram em campo agora em julho para comer a palhada e o capim abundante. Os animais permanecem na lavoura durante toda a época de seca. Somente em outubro, com a chegada das águas, eles vão para a engorda final no confinamento. “A fase em que os animais ficam comendo as braquiárias é uma espécie de pré-confinamento. É o diferencial em relação a outras propriedades”, afirma Marcelo. Segundo ele, o boi chega a ganhar 1,8 quilo ao dia, um desempenho excelente. “É o arranque para o confinamento”, diz. Neste ano, a Batovi plantou 2.400 hectares de safrinha, devido a problemas climáticos – costuma ser mais.
Experiências como a da Batovi estão mudando o mapa da pecuária brasileira. Com a expansão das grandes lavouras, como as de soja e milho, no Centro-Oeste, o boi seguiu atrás em busca do alimento barato que os resíduos das agroindústrias propiciam. Mato Grosso, por exemplo, há 40 anos era um vazio econômico. Hoje, além de ser o principal produtor de soja do país, abriga em seus pastos o maior rebanho bovino comercial – com mais de 27 milhões de cabeças. “O custo da engorda dos animais cai pela metade”, diz Alcides Torres, da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). “A fase ainda é de ajustes, mas a integração lavoura-pecuária, e agora a incorporação das florestas ao sistema, está inserida no rol de experiências de sucesso do agronegócio brasileiro. Essa fórmula deu certo e é irreversível, pois, além da importância econômica, é uma prática sustentável”, diz Torres.
A integração incrementa ainda a produtividade sem necessidade de abrir novas áreas. Usa terras degradadas, que somam 70 milhões de hectares no Brasil, acrescenta Torres. Até o ano passado, a Batovi fazia somente recria e engorda. Os bezerros eram adquiridos de terceiros. Diante da escassez de bezerros nos últimos anos, consequência do abate de vacas, a fazenda passou a efetuar o ciclo completo, incluindo a cria.
“É mais rentável fazer cria, recria e engorda, visto que todas as etapas desse sistema têm sua margem de lucro”, diz Marcelo. Como a experiência é nova, a Batovi é obrigada a adquirir matrizes nelore fora de suas porteiras. A bezerrada nasce e é desmamada entre seis e oito meses de idade nos piquetes. Permanece junto às mães mamando nas áreas de pastejo rotacionado e comendo braquiária consorciada com capim-guandu-anão. A rotação permite o descanso e o revigoramento do pasto, já que os animais ficam num piquete até determinado tempo e depois são transferidos para outro.
Na Batovi, o giro é feito em quatro módulos, que totalizam 800 hectares. Cada módulo é formado por dez piquetes de 20 hectares cada um. “Os bezerros recebem ainda uma alimentação proteinada e servida num cocho especial.” É o sistema denominado creep feeding (cocho privativo), outra tecnologia que chegou e está auxiliando muito a pecuária de corte. Tem como principal objetivo a desmama de bezerros mais pesados. A suplementação alimentar, sejam volumosos, concentrados ou suplementos minerais e vitamínicos, é efetuada em um cocho cercado de tal forma que permite o acesso somente dos bezerros. As vacas ficam de fora.
Desmamados, os bezerros seguem para a fase seguinte, que é a de recria, na qual se alimentam de braquiária com o milho safrinha, mais sal mineral e concentrados. De lá, saem aos 18 meses de idade, em média. Já para a terminação, o gado é fechado no confinamento e passa a comer exclusivamente no cocho. O boi sai pronto para o abate com peso de 18 arrobas e idade média entre 20 e 22 meses. “O ganho de peso é excelente diante da pouca idade do animal. É o que chamamos de precocidade”, observa Marcelo. Segundo ele, as 18 arrobas são alcançadas na maioria das fazendas quando o boi está com 30 a 32 meses de idade. “Ganhamos um ano ou até mais para engordar o bicho, poupando assim gastos com água, comida, remédio”, explica.
A Batovi vende a boiada em pé para o frigorífico. Ela retém as fêmeas para a reposição e somente os machos vão para o abate. No início deste mês, a fazenda estava recebendo R$ 95 pela arroba do animal rastreado. A Batovi rastreia o rebanho, o que valoriza o preço do animal. Além disso, segundo Marcelo, o computador controla tudo, desde a cobertura e o nascimento do bezerro, passando pela quantidade de comida e de remédios, até a data do abate. O pecuarista revela que os custos para se produzir um boi pronto estão um pouco acima da metade do preço da arroba.
A comida é o forte da engorda na Batovi, mas o melhoramento genético apurado ajuda muito. Marcelo conta que está plenamente satisfeito com o choque sanguíneo do nelore com o angus, base do trabalho. “Esse cruzamento une a rusticidade do zebu, capaz de enfrentar o forte calor das pastagens mato-grossenses, com a boa produção de carne do angus. Nascem meios-sangues prontos para o abate mais cedo, com excelente ganho de peso e bom acabamento de carcaça. Além disso, o choque sanguíneo permite que o F1 (meio-sangue) tenha a gordura entremeada na carne, o que lhe dá mais sabor.”
Fonte: Globo Rural. Por Sebastião Nascimento. 30 de julho de 2011.