São Paulo - O principal destaque no acordo de permuta de ativos entre BRF Brasil Foods e Marfrig, anunciado ontem, é a distribuição dos dois pacotes envolvidos no negócio, segundo participantes do mercado. “O sistema de distribuição da Sadia e Perdigão eram os melhores do País. Com a fusão, poderia haver uma sobreposição e foi um dos fatos que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) utilizou para forçar a venda do bloco de ativos. A Marfrig vai poder levar a sua carne bovina a lugares que não alcança hoje”, disse o professor da Esalq/BM&F, Sergio De Zen, no evento “Pecuária de Corte - O primeiro ano de uma nova década”, promovido pela Scot Consultoria. Segundo ele, esse processo de “rearranjo” da indústria no País é uma tendência para os próximos anos.
Já o gerente de Pesquisa de Mercado do Frigorífico Minerva, Fabiano Tito Rosa, ressaltou que para o setor de carne bovina não muda. “Há uma tendência de os frigoríficos migrarem para outras proteínas. Ser uma empresa multiproteína. Não é a estratégia do Minerva. Não víamos sinergia do abate de suínos e frango com bovinos”, declarou. “Também tínhamos interesse, mas somente nos ativos de distribuição e venda. Mas como teria de ser negociado em bloco, se tornou desinteressante”, completou.
Para o analista e diretor da Scot, Alcides Torres, a distribuição negociada foi o “calcanhar de Aquiles” do negócio tanto para a BRF quanto para a Marfrig, pela possibilidade de expansão nos mercados envolvidos. “Tanto que o Minerva queria também só a distribuição. E achei interessante, porque no fim a Marfrig vendeu os ativos de logística da Keystone e “comprou” uma parte de distribuição da BRF no País. Houve uma compensação”, declarou.
“Foi bem sucedida para os dois”, disse o analista da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht. Para ele, a produção argentina de frangos vem crescendo e está bastante competitiva. “Lá eles têm uma grande disponibilidade de grãos. Além disso, há potencial de a Argentina ser um grande exportador de carne de frango”, explicou.
Mesmo com a troca de ativos, a Marfrig continua atuando na Argentina no abate de bovinos. A JBS também tem unidades no país vizinho. “Estamos vendo na Argentina uma queda brutal de rebanho, por conta de política interna e que afetaram as exportações. Com o tempo essa situação tende a se inverter. Já está ocorrendo a recomposição de rebanho argentino, mas é um problema de curto prazo para as empresas que estão lá”, conclui.
Fonte: Agência Estado. Por Suzana Iniesta. 9 de dezembro de 2011.