A atividade de confinamento não é novidade no Brasil, porém ainda há grande discussão sobre qual sistema adotar: imitar os americanos que fazem uso das rações de alto grão ou utilizar dietas com maior participação de volumosos?
As vantagens e desvantagens destas duas opções não se restringem apenas à simples formulação, como veremos a seguir. Mas, antes, vamos definir o que é uma ração de alto grão ou de alto volumoso. No nosso entender, rações de alto grão são aquelas que necessitam de aditivos para manter a saúde do rúmen, evitando o abaixamento do pH ruminal, o que limitaria o desempenho dos animais. Apesar dessa redução variar conforme a composição dos ingredientes, podemos dizer que as dietas de alto grão são aquelas que possuem acima de 65% de grãos na matéria seca da ração.
As duas opções
O confinamento de bovinos para terminação é uma atividade intensiva, pois demanda grande uso de insumos e preconiza ganhos de peso elevados. Desta forma, exige alto grau de controle para que os desempenhos necessários possam ser atingidos. As rações com alto grau de participação de forragens não atendem de maneira franca esse nível de controle. As forragens são ingredientes que, invariavelmente, sofrem algum tipo de processo mecânico de transformação na sua produção, para que sejam utilizados em dietas de bovinos confinados, tais como: fenação, pré-secado, ensilagem e forragem in natura. A interferência destas operações, ligadas ao ponto de colheita, promove muitas variações na qualidade final do volumoso, ou seja, quanto maior o número de operações necessárias maior a probabilidade de ocorrência de erros, o que acarreta alterações na qualidade do volumoso. Assim, a colheita fora do ponto ideal resulta em redução do valor nutricional.
Por outro lado ingredientes concentrados dificilmente apresentam variações em sua composição nutricional. Apesar de também sofrerem processos mecânicos, estas operações ocorrem em nível industrial, tais como extração de óleo (farelos protéicos) e secagem (grãos de cereais), o que permite melhor padronização dos produtos.
Quantidade de cortes
Existem ainda outros fatores que interferem no controle de qualidade do volumoso, tais como o período ou número de cortes. Algumas forrageiras exigem mais de um corte (capins tropicais) ou um período longo de colheita (cana in natura). Ambos levam a uma maior probabilidade de variação na qualidade do produto final.
Concentração de nutrientes
Outra desvantagem reside no fato de que volumosos são ingredientes com baixa concentração de nutrientes, o que exige um consumo de maior quantidade de matéria seca desta fonte, para que o desempenho animal desejado seja alcançado. Contudo, o tempo de digestão no rúmen, que é muito maior para os alimentos volumosos, pode limitar o consumo diário desses alimentos.
Tamanho da partícula
O tamanho da partícula do material volumoso também é muito importante, a fim de não só facilitar a compactação no silo, no caso de silagens, como permitir maior acesso das bactérias ao material fornecido no rúmen. Um tamanho reduzido de partícula agiliza o processo de digestão bacteriana, aumentando o fornecimento de proteína microbiana, ácidos graxos e, por fim, acelerando de forma benéfica a passagem do material ingerido pelo rúmen, com conseqüente aumento do consumo diário de matéria seca.
Mistura
A mistura da ração também sofre interferência do tamanho das partículas, que, quando excessivo, facilita a seleção por parte dos animais, ocasionando desempenho ineficiente e até mesmo problemas metabólicos, por conta de um consumo alto de concentrados, quando os animais não estiverem acostumados ao mesmo ou quando da falta do uso de aditivos específicos.
Equipamento
Volumosos, quando mal picados, seja por desgaste de maquinário ou mesmo pelo uso de equipamentos colhedores e picadores de baixa eficiência, exigem vagões forrageiros que, além da distribuição, sejam capazes de promover a mistura homogênea dos ingredientes de partículas longas. Além disso, devem repicar o material fibroso. Esses recursos específicos elevam o custo do maquinário, quando comparado ao utilizado para rações com alto grão ou com fibras de pequeno tamanho.
Área de produção
Sistemas de produção que são projetados para utilização de dietas com alta participação de volumosos exigem áreas próprias para produção deste ingrediente, pois devido à sua baixa densidade a aquisição externa encarece sobremaneira o custo do frete e, por conseguinte, o custo final do alimento. Evidentemente, a necessidade da produção do volumoso na propriedade está ligada ao maior investimento em maquinário (tratores, colhedoras e carretas de transbordo de forragem) e à menor área disponível para produção a pasto (cria, recria ou engorda) quando comparado com sistemas que utilizam rações de alto grão.
Adaptação
Entretanto, devido às questões de sanidade e eficiência alimentar, um uso mínimo de fibra na dieta dos ruminantes é necessário. Além disso, para que a dieta com o máximo de concentrado possa ser utilizada é necessário um período de adaptação, onde o teor de fibras é bem maior (50 a 60% de volumoso na matéria seca) que no período final (70 a 90% de grãos na matéria seca).
Uso de aditivos
Na maioria das vezes, dietas com alta participação de grãos exigem o uso de aditivos para manter a sanidade do rúmen, o que raramente ocorre com dietas à base de volumosos.
Padronização
A padronização da composição nutricional dos ingredientes concentrados permite uma melhor predição do desempenho de ganho de peso, assim como melhor controle do consumo diário de matéria seca. Estas duas características facilitam o planejamento do fornecimento de alimentos e a programação de abate, de forma mais segura do que quando do uso de dietas ricas em volumoso.
Desempenho
Dietas com alto grão dependem de desempenhos superiores em ganho de peso (>1,200 kg/cab.dia), para que seu uso seja economicamente viável. Desta forma, o sucesso deste tipo de empreendimento depende do uso de animais capazes de responder à dieta com alto teor de concentrados.
Participação nos custos
A maior participação no custo final do confinamento é representada pelos alimentos, em média 80 a 90% do custo da diária. Desta forma, o custo final da dieta é de extrema importância para que os resultados econômicos possam ser positivos. Como ocorrem grandes variações regionais em nosso país, fica difícil generalizar qual é o melhor tipo de dieta quanto ao custo/benefício.
Disponibilidade de alimento
Projetos que obrigatoriamente impõe uma maior dependência em aquisição de alimentos tornam a propriedade mais susceptível às variações do mercado de insumos. Como os alimentos comumente adquiridos são grãos e seus subprodutos, que são exportados em grande quantidade, além da grande variação dos preços pode ocorrer também falta do produto ao longo da vida do projeto.
Portanto, projetos de longo prazo devem de forma estratégica evitar a dependência da aquisição de alimentos no mercado. Também precisam avaliar muito bem as opções e o potencial de oferta dos ingredientes concentrados na região onde a propriedade está inserida, para então optar por um projeto baseado em ração de alto grão.
Já projetos que utilizarão dietas ricas em volumoso devem possuir versatilidade suficiente para que, na ocorrência de anos de custo baixo de ingredientes concentrados, saber utilizá-los de forma estratégica, diminuindo o custo de produção. Isto pode ser feito diminuindo-se a produção de volumosos (Ex: menor aquisição de adubos, redução de área plantada) ou armazenando-os para o ano seguinte, reduzindo a necessidade de sua produção no próximo ano.
Final
Para resumir, podemos dizer que o uso de dietas com alto grão é mais simples, porém mais arriscado do ponto de vista econômico. Enquanto, que o uso de dietas com alto volumoso é bem mais técnico, porém possibilita maior segurança financeira.
Por fim, ambas as opções podem ser utilizadas, tanto com sucesso técnico como econômico, porém cabe avaliação de longo prazo a fim de se observar os riscos e a rentabilidade de cada uma delas.