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Problemas no metabolismo de bovinos confinados
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Problemas no metabolismo de bovinos confinados

Sexta-feira, 9 de junho de 2006 -17h30
  • O confinamento caracteriza-se por ser um sistema de produção em que lotes de animais são agrupados em piquetes ou currais com área restrita, tendo acesso aos alimentos e água através de cochos e bebedouros. Diante dessa condição, o confinamento pode ser utilizado estrategicamente para todas as categorias do rebanho, embora, seja mais comumente aplicado para a terminação de bovinos de corte.

  • Como qualquer outra tecnologia adotada visando o incremento dos níveis de produção animal (ganho de peso), o confinamento possibilita a ocorrência de problemas inerentes a sua própria condução, estando estes normalmente relacionados ao animal, às instalações e, a maioria deles, ao próprio manejo da alimentação imposto pelo produtor e/ou técnico.

  • Geralmente, o problema tem início na formulação da ração, na escolha dos ingredientes, onde muitas vezes a falha ou falta de critério técnico na adequação dos níveis nutricionais da ração às exigências dos animais, bem como devido à não utilização de aditivos tamponantes (bicarbonato de sódio e/ou óxido de magnésio) e aqueles melhoradores da eficiência alimentar (ionóforos), acabam repercutindo nos chamados distúrbios ou problemas metabólicos.

  • Outras falhas de manejo, tais como a não adaptação dos animais às dietas, principalmente as de elevada proporção de concentrado, falhas no processo de mistura dos ingredientes, área restrita de cocho, são também fatores

  • predisponentes aos distúrbios metabólicos. De maneira geral, existe uma correlação muito estreita entre esses distúrbios, e um deles pode desencadear vários outros. Com isso, aumenta a dificuldade no diagnóstico preciso do problema e, conseqüentemente, a tomada de medidas que minimizem a sua ocorrência.

  • Dentre os distúrbios metabólicos de maior incidência nas nossas condições, podemos citar os seguintes: acidose metabólica, timpanismo, laminite e intoxicação por uréia.

    ACIDOSE METABÓLICA

  • Distúrbio conhecido também por sobrecarga ruminal, impactação do rúmen ou indigestão por carboidratos, geralmente em conseqüência do consumo excessivo de grãos e farelos (milho, farelo de soja, farelo de trigo...) ou concentrados com elevado teor de carboidratos (polpa cítrica peletizada, promill 21, etc.).

  • É caracterizada pelo aumento na produção do ácido lático no rúmen. Inicialmente ocorre um decréscimo do pH ruminal em função da produção excessiva de ácido lático. O ácido lático produzido é então absorvido pela parede do rúmen e chega à corrente sanguínea, caracterizando, assim, a acidose. Como conseqüência, tem-se a paralisia da movimentação ruminal, desidratação, diarréia, perda do apetite e quando não é efetuado o tratamento curativo, o animal pode chegar à morte.

    TIMPANISMO

  • Caracterizado como sendo uma superdistensão do rúmen, decorrente da produção excessiva de gases da fermentação. O animal é incapaz de expulsar os gases produzidos através dos mecanismos fisiológicos normais (eructação – arroto do boi), acarretando um quadro de dificuldade respiratória e circulatória, com asfixia e até morte do animal.

  • Diversos alimentos, como algumas plantas leguminosas, resíduo da pré-limpeza do grão de soja, entre outros, podem favorecer o aparecimento do timpanismo. Outros fatores que também favorecem a ocorrência do timpanismo são: freqüência da alimentação inadequada, alternância de super e subfornecimento de concentrados, em especial os finamente moídos e, mudanças bruscas na alimentação. Os animais com timpanismo apresentam distensão do flanco esquerdo, inquietação manifestada pelo bater anormal da pata no chão, micção e defecação freqüente, extensão para frente da cabeça e do pescoço e, na seqüência, a morte.

    LAMINITE

  • Processo inflamatório agudo das estruturas sensíveis da parede do casco, que resulta em manqueira e deformidade permanente do casco. Os cascos afetados apresentam-se quentes, com crescimento excessivo e com sinal visível de inflamação acima deles, caracterizado por hemorragia e edema. O animal apresenta relutância em se mover, permanecendo deitado a maior parte do tempo. Isso ocorre devido à dor provocada pela inflamação dos cascos.

  • A laminite é uma situação decorrente da ingestão excessiva de grãos, embora também possa estar associada a fatores genéticos, idade, falta de exercícios e umidade. Além de altas proporções de concentrado na ração, a laminite está associada à baixa qualidade e quantidade de fibras, que tem efeito de estimular a produção de saliva no animal e de neutralizar os ácidos produzidos no rúmen. De maneira geral, a literatura relata que a acidose e a laminite parecem estar estatisticamente relacionadas, mas nem toda a laminite é decorrente da acidose.

    INTOXICAÇÃO POR URÉIA

  • A uréia é utilizada freqüentemente como fonte de nitrogênio não protéico (NNP) na alimentação de bovinos e, geralmente, proporciona redução nos custos das dietas. Entretanto, quando utilizada de forma errada, a uréia deixa de ser uma aliada e passa a se tornar uma grande vilã, acarretando intoxicações e até a morte dos animais.

  • A maioria dos casos de intoxicação por uréia ocorre em função do consumo em quantidades acima da recomendação e/ou em curto período de tempo, decorrente do excesso de uréia na formulação ou da falta de homogeneização da uréia com o alimento fornecido. A dose de 40 a 50 g de uréia/100 kg de peso corporal em um curto período de tempo pode ser fatal para os animais não adaptados; já os animais adaptados toleram duas ou três vezes essas quantidades. A adaptação deverá ser realizada em um período de sete a dez dias, onde inicialmente será fornecida metade da recomendação máxima de uréia para o animal. Como exemplo, se foi preconizado por um técnico que um animal deve ingerir 150 g de uréia/dia; no período de adaptação, o mesmo animal receberá somente 75 g de uréia/dia e, somente após estar adaptado, é que o mesmo receberá as 150 g de uréia/dia. Com isso, os riscos de intoxicação por uréia deixam de existir

  • No caso do funcionário ou tratador cometer algum erro, desencadeando na intoxicação de algum animal e este apresentar inquietação, perda da coordenação motora, agressividade, salivação excessiva, tremores musculares, convulsão, defecação e micção freqüente, o tratamento recomendado é forçar a ingestão de quatro a oito litros de vinagre imediatamente. O tratamento deverá ser repetido após 1 hora, dependendo da quantidade de uréia ingerida. O fornecimento de vinagre ao animal visa o abaixamento do pH ruminal, de forma que a absorção de amônia pela parede do rúmen seja diminuída.

  • É valido lembrar que a presença de um Médico Veterinário é de fundamental importância na condução do adequado tratamento de todos os distúrbios apresentados anteriormente, uma vez que em quadros clínicos mais graves, as vezes é necessária a hidratação do animal com soro, além de infusão e “lavagem” ruminal.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

  • Por fim, pode-se inferir que os problemas metabólicos que ocorrem no confinamento de bovinos podem ser evitados quando os princípios básicos de manejo alimentar são respeitados, bem como as observações dos momentos críticos, como: início do fornecimento dos alimentos, elevação dos níveis de concentrado na dieta, mudanças nas condições do tempo e, quando os animais estão extremamente famintos, devido à problemas da alimentação (quebra do vagão forrageiro) e outros.

  • O “respeito” aos princípios básicos dessa atividade, alguns deles apontados nesse breve artigo, permitem que o confinamento seja uma etapa favorável nos sistemas de produção de bovinos de corte. Esse respeito não é só relativo ao manejo alimentar, como também ao manejo do próprio animal, visando mantê-lo o mais confortável possível e com um mínimo de estresse, de forma que o mesmo possa expressar todo o seu potencial genético para o ganho de peso desejado.