A demanda de alimentos para atender às necessidades da população mundial requer uma produção intensiva, sem descuidar dos aspectos sociais, ambientais e de segurança alimentar. Embora atualmente haja “sobra” de alimentos para atender a população mundial, a má distribuição da renda faz com que boa parte da população sofra de desnutrição, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Diante deste cenário, a previsão da FAO (órgão das Nações Unidas para questões de agricultura e alimentação) para a taxa de crescimento populacional mundial, a possível escassez de água e terra, e o aumento dos custos de produção, indicam que a oferta de alimentos atingirá níveis insuficientes nas próximas décadas. O cenário piora quando se considera que países desenvolvidos buscam intensificar suas importações de grãos para atendimento de seus interesses comerciais e sociais.
Diante desta condição, fica evidente que a bovinocultura de leite continuará a demandar desenvolvimento tecnológico para transformar a menor quantidade possível de alimentos em proteína de excelente qualidade, como é o leite.
Sendo assim, a busca pela melhor eficiência produtiva objetivando um maior retorno econômico da atividade leiteira, faz com que haja um crescente interesse no estudo de aditivos que possam ser utilizados nos suplementos e rações dos animais. Assim, espera-se que haja benefícios, seja através do estímulo ao consumo de forragem ou por promoverem melhor status sanitário, conferindo proteção, saúde aos animais e melhores resultados financeiros na adoção da tecnologia.
PROBIÓTICOS
Dentre os aditivos que vem sendo utilizados nos suplementos e rações para bovinos de leite, grande atenção tem sido direcionada ao uso dos probióticos, que se enquadram em funções distintas e influenciam positivamente a sanidade dos animais e, conseqüentemente, influenciam o seu desempenho.
Conceitualmente, os probióticos têm sido utilizados para designar um suplemento alimentar composto de cultura pura ou composta de microrganismos vivos com a capacidade de se instalar e proliferar no trato intestinal, inibindo as bactérias patogênicas causadoras de diarréias e enterotoxemias. Estas enfermidades são as principais causadoras de morte de animais jovens nos rebanhos leiteiros.
A principal aplicabilidade dos probióticos é na fase inicial de aleitamento dos animais, uma vez que a falta de imunidade e de adaptação ao ambiente (nutrição e sanidade), acarretam diversos transtornos metabólicos que ocasionam a instalação de microrganismos indesejáveis no trato intestinal. O avanço do processo provoca diarréia e morte.
PRINCIPAIS MICROORGANISMOS
Os principais microrganismos que compõem os probióticos são pertencentes aos gêneros
Streptoccocus, Bifidobacterium, Lactobacillus, Bacillus subtilis e Saccharomyces.
A ação destes microrganismos ocorre através da inibição competitiva das bactérias indesejáveis (
Escherichia coli, Staphilococus spp., etc.) ou pela alteração do pH intestinal (tornando-o mais ácido), através da formação de lactato. O pH mais baixo favorece o desenvolvimento dos microrganismos que são benéficos ao hospedeiro (animal), com conseqüente aumento no ganho de peso e melhoria na eficiência alimentar.
Já o
Saccharomyces promove melhor aproveitamento do oxigênio livre no rúmen e também promove maior digestibilidade da fibra, em virtude de permitir um ambiente ruminal mais ajustado, no que se refere ao pH. Essa condição favorece a atuação e o desenvolvimento de bactérias que degradam a celulose.
Além disso, o uso de probióticos na produção de bovinos tem grande expansão na alimentação animal, em função da crescente campanha, em todo o mundo, contra o uso de antimicrobianos. Por isso aumenta a necessidade de aditivos alternativos que promovam uma melhor condição sanitária do plantel, maior segurança alimentar aos consumidores e melhores resultados econômicos.
DOSAGENS
As recomendações de dosagens na dieta dos animais podem variar drasticamente de uma empresa para outra.
De maneira geral, para os probióticos que fazem uso dos microrganismos
Strepetoccocus, Lactobacillus e Bifidobacterium, as recomendações situam-se entre 1 g/cabeça/dia e 4 g/cabeça/dia.
Para os probióticos com
Bacillus subtilis, os melhores resultados são obtidos com 2 g/cabeça/dia.
Já para o
Saccharomyces, em virtude da maior variabilidade de cepas, as recomendações podem variar de 0,5 g a 4,0 g/cabeça/dia.
CONSIDERAÇÃO FINAL
É importante ressaltar que o fornecimento do probiótico não pode ser interrompido, uma vez que estes microrganismos não conseguem colonizar o trato gastrointestinal, sendo esta a grande dificuldade na adoção desta tecnologia na pecuária leiteira.
felipe do amaral gurgel é zootecnista, consultor técnico da coan consultoria.
felipe@coanconsultoria.com.br