por Ivan B. Formigoni
Há diversos motivos que justificam o estudo do temperamento em bovinos de corte, principalmente quando o manejo requer maior proximidade humana com o rebanho, como em sistemas de confinamento e nas rotinas de identificação, pesagem, vacinação entre outras.
Para os animais inclusos em programas de seleção, acostumados com as pistas de exposição, leilões e daqueles em coleta de sêmen e embrião, a importância do temperamento calmo é ainda mais valorizada.
Certamente que além dos riscos aos funcionários de campo, técnicos etc., há o aumento dos custos operacionais das empresas que manejam animais de temperamento mais arredio.
Contudo, além da facilidade de manejo e a busca de maior segurança na lida, entender os mecanismos de ação do temperamento bovino pode contribuir para otimizar sistemas de produção e o alcance de melhores índices de produtividade do rebanho.
Reconhecidamente, medo e ansiedade resultam em estresse e na redução do bem-estar animal. E, uma das justificativas para o temperamento agressivo dos animais é o medo.
A definição para temperamento pode ser entendida como decorrente de reações dos animais em relação ao ser humano e, está diretamente relacionada com a forma e intensidade de manejo do sistema de produção. Em um sistema com manejo eficiente e regular, que estabelece maior contato do animal com o ser humano, os animais são mais dóceis, principalmente se o contato for promovido desde os primeiros meses de vida do bezerro(a).
Contudo, não podemos esquecer a existência de um componente genético que contribui para indicar o nível de agressividade do animal.
As referências da literatura sugerem ser o temperamento uma característica herdável, ou seja, passível de seleção e melhoramento genético. Embora os estudos sejam incipientes, os valores de herdabilidade encontrados variam e oscilam, em geral, entre 0,15 a 0,25.
Tais valores sugerem ser o temperamento de baixa à média herdabilidade, mas, ainda sim passível de seleção e com perspectivas favoráveis para inclusão como critério de seleção.
Vale ressaltar que além dos aspectos de qualidade do ambiente produtivo, o temperamento apresenta importância econômica relevante, pois a lida com animais nervosos implica na maior demanda de tempo para as operações de manejo, necessidade de maior número de trabalhadores, maior risco à segurança dos mesmos, necessidade de melhor infra-estrutura e manutenção da mesma, além de prejuízos em características produtivas, como ganho de peso, rendimento de carcaça e qualidade de carne devido a contusões e estresse no manejo pré-abate e diminuição da eficiência na detecção de cio em sistemas que utilizam inseminação artificial.
A relação entre o temperamento e o desempenho produtivo foi avaliada por pesquisas que indicam serem os animais de temperamento mais calmo os que obtiveram melhores desempenhos nas provas de ganho de peso. Segundo essas referências os animais mais nervosos ganharam 10 a 14% menos peso médio diário quando comparados com animais mais calmos. Ou seja, os animais classificados como de pior temperamento são mais excitáveis, ingerem menor quantidade de alimentos, são mais agitados e não se adaptam facilmente a novas situações.
Desse modo, caracterizar e medir o temperamento são desafios relevantes e atuais. A maioria das pesquisas avalia o temperamento por meio de escores, medindo o grau de perturbação do animal quando submetido a uma determinada situação de manejo, como por exemplo, a pesagem. Geralmente, na literatura, encontram-se escalas variando de 3 a 10 níveis de escore. Há também estudos que utilizam medidas quantitativas da velocidade ou do tempo que os animais gastam para percorrer determinada distância, relacionando a maior velocidade com maior agitação e maior reatividade dos animais.
Contudo, o importante é estarmos cientes da importância econômica do temperamento e que animais podem ser selecionados para esta característica visando maior facilidade de manejo e ganhos de produtividade.
Ivan B. Formigoni é zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.