O melhoramento genético
Já dissemos algumas vezes que o processo de escolha é algo que fazemos no cotidiano e que nossos gostos e afinidades nos fazem escolher o melhor ou o que mais nos agrada. Esse raciocínio de escolha ou seleção pode ser extrapolado também para a pecuária. Os animais foram selecionados ao longo dos anos conforme os critérios de cada época, até culminarmos com os padrões e a disponibilidade da tecnologia atual.
A tecnologia de antigamente era o olho humano, ferramenta bastante capaz que, somado aos conhecimentos e preferências da época, contribuíram para determinar padrões raciais e a promover os animais mais produtivos. O resultado desse trabalho é a base do rebanho de corte nacional.
O interessante, contudo, é perceber que o olho humano ainda hoje permanece como uma das principais ferramentas de seleção (mesmo com as tecnologias e critérios de seleção baseadas em avaliações matemáticas de desempenho).
Um paralelo interessante deste artigo é perceber que hoje a prática de seleção busca aliar estatística e as biotecnologias com a capacidade de elegermos os melhores animais visualmente.
Os mercados e seus objetivos
A finalidade de selecionar animais geneticamente superiores no contexto da pecuária moderna é, sem dúvida, de incorporar e disseminar qualidade aos rebanhos comerciais.
Mas, o que seria qualidade?
Na pecuária podemos talvez simplificar e resumir qualidade como a maximização do lucro. Por mais que se busque o belo e o mais produtivo, o lucro é o motivador principal das escolhas, principalmente quando o foco são os clientes (compradores de material genético sejam de touros, sêmen ou embriões).
Mas não podemos esquecer que os atributos de qualidade que interferem no lucro de um animal dependem também do mercado que estamos inseridos. Ou seja, as características de maior importância, cujo mérito será julgado, dependem dos anseios e necessidades de cada comprador (cliente).
O mercado conhecido como mercado elite tende a valorizar mais alguns atributos que podem não ser os mesmos quando comparados às necessidades diretas dos produtores comerciais. Com isso, vemos que existem dois segmentos distintos relacionados ao mercado de reprodutores: o mercado elite e o mercado de seleção comercial.
Os mercados buscam algo diferente?
Na verdade diria que as ênfases dos atributos são diferentes, mas ambos buscam o mesmo conjunto de características: produtividade, harmonia, funcionalidade e padrão racial. Por questões de mercado, um atributo é mais valorizado que outro em determinada situação e condição, o que é natural.
Diria que os mercados elite e de seleção comercial são complementares, cada qual com seu nicho e especificidades, mas com um objetivo comum: a de elevar a média de produtividade do rebanho nacional com base nas necessidades e realidades da produção comercial.
Dizer que ambos os mercados são complementares e têm o mesmo objetivo para a pecuária é um fato que pode ser empírico ou real. Ou seja, selecionadores precisam estar alinhados e buscar sintonia entre as técnicas aplicadas no julgamento de pista com as técnicas adotadas nos programas de melhoramento genético animal.
Ivan B. Formigoni é zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.