Scot Consultoria
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Sobe e desce

por Rogério Goulart
Terça-feira, 28 de julho de 2009 -09h50
Abaixo temos o gráfico do indicador Esalq/BM&F à vista.



Gostaria de observar duas coisas nesse gráfico. A primeira é que desde março a arroba está subindo. Observe as ondas de evolução dos preços, o sobe-e-desce do mercado desde que a arroba estabeleceu seu piso em R$76,18 no dia 18 de março. A cada onda, as cristas estão mais altas e, se você reparar, os vales estão mais altos.

Isso normalmente indica mercado em alta, pois é a definição clássica de mercado subindo.

<>.“Poxa, Rogério, mas você fala em mercado subindo... o mercado futuro não está despencando?”

A queda recente da semana passada não altera esse quadro. É claro que não sou bobo, os preços do indicador ainda sugerem um quadro altista, mas ainda é altista até certo ponto. E esse ponto ocorre se pelo menos a arroba conseguir se segurar acima de R$80,00. Até aí ainda estaremos em alta.

Como assim “estaremos em alta?” Oitenta reais foi onde a arroba fez seu vale mais próximo, caro leitor. Anterior a esses R$80,95 que estão ocorrendo agora. Segurando acima de R$80,00 ainda estaremos bem.

Se furar para baixo, bom, aí é outra história...

E as escalas de abate, como andam? Bom, segundo os dados da própria Esalq, as escalas não estão das melhores não. Entre maio e junho estavam um pouco mais folgadas. Os frigoríficos tinham em suas mãos uma quantidade maior de animais disponíveis já comprados. Não sei quanto a você, mas para mim isso ocorreu lá entre maio e junho e está relacionado com a seca ocorrida no MS e a lógica desova de animais gordos por causa da deterioração do capim. Isso eu posso falar com tranquilidade, pois vivenciei isso na prática em nossas próprias fazendas aqui no sul do MS.

Observe o próximo gráfico para uma melhor clareza do que estou falando. É interessante notar o quanto essa escala de abate oscila. Se você reparar, hoje, julho, as escalas estão inferiores, mais baixas, menores, chame como quiser, estão baixas mesmo se considerado o início do ano. As escalas hoje estão com cara de entressafra.



Mas e daí? Isso quer dizer alguma coisa? Tem-se uma menor quantidade de bois comprados, isso significa que os preços irão subir, não é?

Ah, caro leitor. Se fosse fácil assim. Mas não é tão fácil. A realidade deste ano é que gera pontos contra essa visão. Eu te pergunto. Quem é que tem dinheiro para se comprometer a comprar muito boi? Qual frigorífico? Então, não há comprometimento de compra. Em outras palavras, não há incentivo em se comprar mais animais do que o estritamente necessário para atender os pedidos de fornecimento praticamente da-mão-prá-boca, se é que você me entende. Quem é que quer estocar muitos dias de carne nas câmaras frias? Com quê dinheiro?

Vamos ao gráfico do contrato de outubro-09. Observe.



Ah, vai, esse gráfico não é tão complicado assim. É só o gráfico do contrato futuro de outubro-09 com algumas informações, alguns estudos anotados diretamente nele. Olha só, acompanhe comigo. Primeiro, esqueça as linhas, os textos do gráfico. Olhe somente para a variação dos preços. É essa principal linha formada por pequenos retângulos em vermelho/verde que aparecem desde o início.

Você verá que a arroba atingiu seu ponto mais barato em dezembro-08. De lá para cá, aos trancos e barrancos ela está subindo. Ou seja, depois do pior preço em dezembro ela subiu, fez uma crista em janeiro, depois caiu e fez um vale em março (porém mais alto que o vale de dezembro). E fez novamente a última crista em maio deste ano.

Agora os preços estão caindo, mas ainda longe de invalidar a formação altista do gráfico.

No curto-prazo a história é um pouco diferente. Olhe para essa reta escrita “Suporte rompido” e você verá o volume de contratos negociados (círculo vermelho) coincidindo com o rompimento da reta. Isso significa que havia muita especulação por parte da compra. Ou seja, a ponta fraca do mercado era a ponta compradora.

Agora chegamos à parte boa da história. Com essa queda, a arroba está beliscando o que considero uma área muito interessante dos preços desse contrato. Essa faixa entre R$81,00 a R$84,00 eu acho muito boa. Boa para quê? Use sua imaginação.

Mas espera! Como cheguei em R$81,00 a R$84,00? É outra análise técnica do gráfico, mas não vou te importunar com esses detalhes, pode ficar tranquilo. Se tem uma coisa que abomino é o cara tentar capitalizar em cima de mim utilizando um vocabulário que não me é familiar só para demonstrar que ele tem mais conhecimento que eu. “Não faça com os outros aquilo que não quer que façam com você.” Aonde é que se diz isso? Foi na bíblia? Agora não me lembro.

Mas como a Carta Pecuária é um texto gratuito e o intuito sempre foi disseminar informações sobre as formas de se negociar boi gordo no mercado físico e futuro, para quem quer aprender mais sobre isso, basta correr atrás de informações sobre a utilização de Fibonacci em gráficos para buscar pontos de compra/venda. A forma de determinar esses pontos eu aprendi lendo um autor chamado Dennis Gartman.

Bom, mas voltando ao mercado físico, e talvez possa ser uma forma de explicar a razão de o mercado futuro ter caído dessa forma, é o início da entrada de bois confinados nas linhas de abate. Sim, já começou. Operadores do mercado financeiro também comentaram comigo que tem havido mais interesse em venda de boi a termo, o que também ajuda mais a pressionar a arroba futura.

No mercado físico a arroba vale aproximadamente R$81,00, e o contrato de outubro vale aproximadamente R$84,00. Três reais só de diferença.

Essa diferença é factível? Não sei. É o que veremos nesta semana.

Fique de olho nessa área interessante do gráfico do contrato de outubro que coloquei acima.

Ah, sim! Lembrei-me de outra coisa. Não comentei sobre o dólar e sua queda recente. Fica pra semana que vem.