Para uma boa saúde ruminal e bom desenvolvimento de bovinos de corte em confinamento, é preciso que, na dieta formulada, exista uma quantidade mínima de fibra. Além disso, ela deve ter uma efetividade capaz de estimular a mastigação, ruminação, a salivação e a motilidade ruminal. Na falta de estímulo de fibra no retículo, o bovino não rumina, reduzindo a produção de saliva. Esta, por sua vez, é rica em elementos tamponantes, cuja falta resulta em queda de pH que, dependendo da intensidade, pode levar à acidose. O quadro de acidose pode se desdobrar em timpanismo espumoso e laminite.
A fibra também estimula a motilidade, que é importante por aumentar o contato do substrato com as enzimas extracelulares dos microrganismos do rúmen, auxiliar na ruminação e na renovação de conteúdo ruminal, ajudando a aumentar a taxa de passagem. A taxa de passagem tem importantes conseqüências. Ela altera a eficiência da produção microbiana e, taxas de passagem mais rápidas favorecem o crescimento microbiano. Outro efeito da taxa de passagem, igualmente importante, e que pode ter grande impacto na utilização dos alimentos, é que ela pode alterar a degradação efetiva do alimento. Assim, um alimento que tenha 70% de digestibilidade com incubação por 24h, pode ter sua digestibilidade reduzida, caso ele permaneça menos que 24 horas no rúmen.
É comum haver casos de acidose subclínica, ou seja, que existe, mas não tem sintomas evidentes. Um bom indicativo de que ela pode estar ocorrendo é o consumo de matéria seca muito variável (Owens et al., 1998).
Na determinação do nível mínimo de fibra na dieta, é importante que seja considerada a porção da fibra que efetivamente estimula a ruminação. Para contornar situações em que a dieta tenha FDN desejável e que esse, ainda sim, promova efetividade, foi criada a FDN fisicamente efetiva (FDNfe).
O FDNfe foi definido como a % do FDN que efetivamente estimula a mastigação e salivação, ruminação e motilidade ruminal. O conceito utilizado pelo NRC (1996) define como a % do FDN retido em peneira de 1,18 mm após separação vertical.
O que se sabe é que zebuínos têm maior exigência de FDNfe crítico, sendo algo em torno de 25-30%. Essa exigência para demais bovinos ficaria próximo a 15%. Mas, estes valores podem ser muito variáveis, de acordo com o manejo da fazenda, maquinário existente na propriedade, qualidade de fibra e uso de ionóforos. No gráfico abaixo é visto que, com a diminuição do FDN efetivo, temos um menor pH ruminal, podendo chegar a níveis muito baixos de acordo com a dieta fornecida.
Antigamente, era muito comum encontramos dietas de confinamento com maior teor de alimentos volumosos, de 40 a 60 % na matéria seca (MS) total da dieta, tendo, na maioria das dietas, mais de 20% de FDN efetivo. Mas, recentemente, com o uso crescente de dietas de alto grão, muitas apresentam teores menores que 20% FDN efetivo, sendo preciso, então, mais atenção.
Outro item importante ao qual devemos ficar atentos é a qualidade da mistura. Caso o animal consiga selecionar alimentos concentrados no cocho, poderão ocorrer distúrbios digestivos como acidose e diarréia. Uma mistura bem homogênea é um fator de segurança para a dieta, como pode ser observado.
O uso de misturadores totais é imprescindível em dietas com maior energia. Nestes casos, onde teores de concentrado estão acima de 80% da MS total, ou mesmo em dietas menos energéticas, devemos ficar atentos ao tamanho da partícula do volumoso. Se for picado muito grosso, imaginando que desta forma seja mais efetivo, pode ser separado no cocho pelo animal, predispondo ao problema da seleção de concentrados. O FDN efetivo é somente aquele que é ingerido pelo animal, e não o que sobra.
Se o volumoso for picado muito fino, pode não oferecer FDN efetivo suficiente em dietas de alto concentrado. Quanto ao tipo de volumoso, alguns alimentos são mais efetivos. Como exemplo, o feno apresenta mais efetividade que silagens, bagaço de cana e cana picada. Assim, uma dieta com feno pode ter relação volumoso: concentrado mais baixa ou FDN total menor. Dependendo das fontes de energia, dos outros ingredientes, da adaptação à dieta, da fonte de fibra, da presença de aditivos e do manejo alimentar, valores menores podem não resultar em problema.
Isso fica claro nos dados de Leme et al.,2001, no qual bovinos Nelore consumindo dietas com apenas 15% de FDN tiveram desempenho expressivo, com ganho de peso diário maior do que 1,5 kg. Neste caso, a fonte de fibra foi bagaço de cana-de-açúcar in natura, uma fonte de fibra efetiva excelente, pois é altamente indigestível.
Quando são incluídos concentrados fibrosos ou fontes de fibra que não forragem, como caroço de algodão e casca de soja, pode-se trabalhar com níveis de volumosos mais baixos. Estes alimentos possuem elevado teor de FDN total e possuem alguma efetividade.
O NRC (1996) utiliza o FDN efetivo para predizer o pH ruminal, calcular a produção e a eficiência microbiana. As recomendações mínimas seguem critérios como o tipo de dieta, manejo de cocho e utilização ou não de ionóforos.
Para TMRs (dieta total misturada) com alto teor de concentrado, bom manejo de cocho e inclusão de ionóforos, é possível chegar a fornecer um mínimo de 5 a 8% de FDN efetivo. Estas ações previnem grandes variações de consumo e, conseqüentemente, o aparecimento de distúrbios nutricionais relacionados à acidose. A idéia é garantir que o pH ruminal não fique abaixo de 5,5, limite no qual o animal diminui drasticamente a ingestão de matéria seca. É importante salientar que este nível de FDN efetivo é muito baixo e só deve ser utilizado em propriedades com alto nível de manejo. Caso contrário, é preciso trabalhar com uma margem de segurança maior, elevando o teor de FDN efetivo mínimo para 20%. Mantendo-o acima de 20%, a fermentação de carboidratos estruturais e a eficiência microbiana são otimizadas, mantendo o pH ruminal acima de 6,2 e maximizando a digestão de parede celular.
Mesmo em dietas consideradas de alto concentrado, são comuns valores da ordem de 13 a 16% de FDN efetivo, devido à utilização de concentrados fibrosos. Com manejo adequado de adaptação, leitura de cocho e utilização de ionóforos, pode ser seguro trabalhar nestes níveis.
O importante, então, para a formulação da dieta, além de saber os ingredientes a serem usados e sua quantidade, é conhecer, realmente, o manejo da propriedade e o maquinário existente. Assim, é possível estimar o FDN efetivo mínimo a fim de trabalhar com um nível máximo de segurança.