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Está fraco

por Rogério Goulart
Segunda-feira, 9 de novembro de 2009 -11h25
Deixe-me passar para você o que venho pensando ultimamente.

Nos últimos dias o mercado tem estado curioso. Sabe aquele olhar vidrado de adolescente quando vai fazer travessura e não tem ninguém à vista para lhe botar a culpa? Comentei sobre isso no Twitter umas duas semanas atrás. “Vamos testar até aonde essa arroba pode cair?”, parece ser a pergunta juvenil da moda. Todo mundo voltou a ser irresponsável, imediatista e míope.

É que evito seguir a moda, caro leitor. É meu estilo. Prefiro as coisas conhecidas, testadas com o tempo. Acho que sempre fui meio “velho” nesse sentido. É por isso que gosto de olhar tanto a história, para o que ocorreu no passado. “Não há nada de novo debaixo do sol”, diz a bíblia, não é verdade?

A gente pega o histórico de preços da arroba e observa que nesses dezesseis anos a maior queda contínua da arroba foi 20,4% em 1996. Hoje estamos perto disso aí; voltamos ao redor da pior queda de mais de uma década atrás. Em outras palavras, se o seu filho tivesse nascido na ocasião anterior em que a arroba tinha caído dessa forma, hoje ele seria um adolescente de 14 anos de idade.

É por isso que o mercado hoje é irresponsável — ele é um adolescente. Não tem lembrança do que ocorreu lá atrás.

Só a título de curiosidade 1: a arroba subiu 25% nos doze meses após o piso de 1996.

Só a título de curiosidade 2: pelos meus custos de produção, agora sim! Agora a engorda está dando prejuízo.

Para você ver como é séria a queda atual. A arroba caiu muito mais agora do que a queda ocasionada pela aftosa em 2005-2006.

O pico foi em junho de 2008 a R$94,41. Agora em novembro de 2009, dezessete meses depois, a arroba vale R$75,09. Dezessete meses enverga mais do que o suficiente para baixo todas as expectativas de que o mercado, algum dia, poderá subir novamente. Subir. Como é que é isso mesmo? Hoje se olha para os preços em alta de anos atrás com saudosismo. “Será que isso um dia realmente ocorreu ou foi um sonho?”

Sim, o mercado está fraco. Está vindo fraco há bastante tempo. A arroba só faz cair, então é de se esperar essa queda sendo respaldada no restante dos elos da pecuária. Tipo assim, se a arroba está caindo é porque o mercado consumidor e as exportações estão fracos também. Essa é a premissa detrás da evolução dos preços da arroba. Ou seja, como diz um ditado do mercado financeiro: “É o mercado a moldar
opiniões.”


Mas as premissas são essas mesmo? Quero dizer, o mercado como um todo está fraco? Tenho minhas dúvidas. Não é o que estamos vendo atualmente. Tenho a impressão que essa pressão baixista da arroba está vinculada com a sobre-oferta momentânea (de outubro para cá) de bois, e não é uma fraqueza estrutural do sistema.

Eu pergunto: os fatos da pecuária hoje são os mesmos do ano passado? Este ano é igual ao ano passado? Vamos conferir.

O mercado interno está reagindo. Segundo a Abras, Associação dos Supermercados, as vendas subiram 4% em agosto e 6% em setembro. Até os subprodutos, como o couro, já subiram mais de 100%, e sebo mais de 20% desde seus pisos recentes. O mercado externo também não está dos piores — outubro nos trouxe boas notícias nesse campo.

A economia voltou a se aquecer. Rapaz, hoje fui visitar uma exposição de plantas ornamentais e mudas aqui em Dourados – MS. A feira está aqui há uma semana. Não tinha mais nada. Os consumidores limparam o estoque. E olha que estamos falando de plantas, flores, ornamentos, coisas que são acessórios estéticos, e não comida.

Pensando assim, hoje o fluxo do consumo é de recuperação — para cima. A economia voltou a aquecer. Ano passado o fluxo era de redução, de esfriamento — para baixo.

Então você chega a ter a sensação de que a premissa baixista à qual está sendo submetido o mercado nos últimos tempos é falsa e passageira. Se é falsa, a lógica seria fazer o contrário do que todo mundo está fazendo.

Ou não. Posso estar errado. Melhor ainda, o meu timming pode estar errado. Sou mineiro, sabe como é. Mineiro tende a ser apressadinho. O mercado ainda pode estar descontando o excesso de bois e poderá cair mais. Entretanto, há certa resistência em entregar animais abaixo dos valores atuais nos frigoríficos, dizem os analistas, então fico aqui na dúvida. Sobre esses dezessete meses de queda, estamos no início do segundo tempo ou próximos do final do jogo? Ou estamos nas prorrogações?

Como diz Galvão Bueno: “Haja coração!”