Final de tarde. Sentado na sacada do apartamento, sorvendo o aperitivo vespertino, eu observava distraidamente o movimento das pessoas na rua, provavelmente rumando para suas casas após um dia de trabalho.
Bandos de jovens adolescentes, com uniformes escolares e mochilas nas costas, passavam em meio a gritos, risadas, empurrões e brincadeiras. Descontraídos, despreocupados e felizes.
A cena era bonita, quase enternecedora. Eu estava em paz, tranqüilo, numa espécie de “happy hour” doméstica. De repente “não mais que de repente” (Vinícius de Morais), me baixou o espírito do “caboclo pensador”, (ou seria complicador?). E veio com uma pergunta lancinante, pontiaguda – que país você (no caso, eu) e sua geração vão deixar para esses jovens?!
E prosseguiu impiedoso – encontrarão mercado de trabalho onde possam realizar-se profissionalmente? Constituirão família ou esta instituição já terá desaparecido?
E tem mais – esses jovens estão recebendo uma educação adequada que efetivamente os qualificarão para o futuro exercício de profissões de forma competente e dentro dos princípios da ética e da moralidade?
É... as perspectivas não são nada animadoras. Há décadas nosso país
vem sendo conduzido por políticos imorais, irresponsáveis e corruptos.
O pior é que essa imoralidade não se limita a este ou aquele poder, mas, como doença contagiosa, contamina indistintamente todos os poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Escândalos como os “mensalões”, caixa dois em campanhas e fraudes em concorrências públicas, já não surpreendem mais ninguém.
Tão freqüentes são os escândalos, que de certo modo já estão incorporados à rotina nacional.
As próprias CPIs, que deveriam investigar as denúncias e punir os eventuais culpados, vêm se constituindo num escândalo endógeno, isto é, um escândalo dentro de um escândalo, na medida em que priorizam acordos interpartidários e acabam absolvendo réus confessos.
E a antiética e a corrupção, com uma capilaridade impressionante, vão se espalhando pelo país, atingido instituições públicas e privadas, contaminando a cultura nacional, tudo sobre a proteção do manto da impunidade.
Para piorar a situação, o sistema educacional brasileiro vem se deteriorando ano a ano, posto que educação só é prioridade nos discursos pré-eleitorais dos políticos.
Nas escolas públicas, apesar das repetidas greves, a classe docente continua sendo desrespeitada e mal paga. Como resultado, professores desmotivados e incapazes de se
dedicarem integralmente à tarefa de ensinar.
Nas escolas particulares, a prioridade é conservar o maior número possível de alunos pagantes, mesmo com sérios prejuízos a formação desses jovens. Questões como disciplina, comportamento ético, seriedade e aprendizado são irrelevantes.
Por tudo isso, é cada vez maior o contingente de jovens com diploma de 2° grau, que são incapazes de redigir um texto, interpretar uma leitura ou resolver problemas básicos das disciplinas fundamentais. Mais tarde, com facilidade ingressarão numa dessas faculdades caça-níqueis que se multiplicam pelo país, receberão o diploma universitário e engrossarão as estatísticas do desemprego.
Bem... de repente o Brasil se sagra hexa-campeão mundial, teremos alguns meses de euforia e ufanismo e colocaremos esses problemas todos em banho-maria. Depois vem as eleições, precedidas por campanhas vigorosas onde invariavelmente os candidatos vão enaltecer a importância da educação, da saúde, da segurança e da geração de empregos.
E os mesmos políticos corruptos e irresponsáveis que escaparam da punição serão reeleitos. Alguém duvida?
É...decididamente a minha “happy hour” não teve nada de “happy”.