Na segunda-feira 9/8 participei do 9º Congresso da ABAG, a Associação Brasileira de Agronegócio.
Um dos painéis do Congresso era apresentado pelo jornalista Joelmir Beting, que foi encarregado de elaborar um panorama político para os presentes. O que vai abaixo é uma síntese do que foi dito pelo jornalista.
Joelmir começa contando um causo, quando em certa ocasião chegava de viagem em Curitiba. O taxista, reconhecendo a celebridade pelo retrovisor falou:
- Ah, seu Boris, é um prazer ter o senhor aqui...
- Eu não sou o Boris, sou o Joelmir.
- Ah, o senhor é que fala lá de dívida, calote, essas coisas?
- É, é por aí sim.
- Então doutor, tem uma luz no fim do túnel para a gente?
- Olha, eu tenho duas notícias para você, uma boa e uma má.
- Ah é? Qual é?
- A má é que não tem luz no fim do túnel.
- E a boa?
- A boa é que ainda tem túnel.
E pelo menos para o agronegócio, o túnel é o maior do mundo.
Então façamos um balanço da economia nacional.
São 16 anos de real. 16 crises (Rússia, México, Ásia, “.com”, risco Lula, 11/9, etc. etc. etc até a crise financeira de 2009). Média de 1 por ano.
E o real sobreviveu, e o país cresceu.
Dólar entre R$1,90 e R$1,70 em média há anos quer dizer economia estabilizada.
Sem estabilização, não há crescimento.
O PIB (Produto Interno Bruto) crescerá este ano 7% (sobre 0 do ano passado) e 4,5% no ano que vem, sendo que 4,5% sobre 7% é bem melhor do que 7% sobre 0...
A crise foi anunciada como sendo a pior desde 1929, e o próprio FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou que a mesma duraria até 2012. Na verdade, das 16 crises que o real atravessou, nenhuma durou mais do que 9 meses.
Se há uma regra que serve à economia é a de que toda previsão pessimista é levada a sério. A expectativa da crise acaba gerando ou piorando a crise, o que sanciona a expectativa.
Então é melhor ser otimista, porque este pelo menos só sofre no fim.
O cenário econômico é o pano de fundo do plano político. No plano político a verdade é que os grandes partidos não têm programas, e estão divididos em rachas internos.
Não há metas, e quando as há não há meios para implementá-las, o que é o DNA do populismo e da demagogia.
O PT também não tem um projeto de país, tem apenas um projeto de poder.
Que passa por Dilma em 2010 e 2014, Lula em 2018 e 2026 e quem sabe Zé Dirceu em 2030 e 2034. São 48 anos de expectativa de perpetuidade.
A campanha eleitoral brasileira tem uma jabuticaba única no mundo, chamada horário eleitoral gratuito.
A inclusão social da TV é maior do que a do fogão, 97% dos lares tem acesso à televisão, que tem seu efeito multiplicado na banda larga via celular, e nas redes sociais, a comunicação da massa pela massa.
Para um povão não escolarizado, não politizado, dos quais 2/3 não compreendem um enunciado simples, escolhe-se um candidato como escolhe-se o vencedor do Big Brother: pela empatia.
No quesito empatia na TV, Serra e Dilma estão como nas pesquisas em empate técnico, ambos são igualmente rejeitados.
No debate da BAND, Joelmir Beting perguntou à candidata Dilma com réplica de José Serra: "Até quando pagaremos impostos de 34% sobre alimentos e remédios, e juros de 55% na produção e 238% no cartão? Dá para baixar sem reduzir os gastos do governo?"
Nenhum dos dois respondeu ao que foi perguntado.
Destacou-se no debate a questão da violência, mas ninguém fez a ligação entre violência e corrupção. Violência pode vir em 30% da miséria econômica, mas 70% vem de miséria moral, que não faz distinção nem de classe e nem de instituição.
O debate ignorou a política externa, que só virá à tona na campanha em virtude de eventos externos (como a iraniana apedrejada). O Itamaraty hoje é refém do PT.
Serra por sua vez prometeu congelar Irã e Chavez e insistir em acordos bilaterais de comércio, a começar pelos EUA.
O debate também ignorou questões básicas para o agronegócio, como o Código Florestal, políticas agrícolas e o MST.
Na área econômica, ninguém ligou os juros altos do país com a dívida pública, os gastos do governo e o câmbio, que anda fora de lugar. O dólar era para valer hoje R$2,27.
A partir do dia 19, uma guerra de 40 dias será travada no horário eleitoral. Dilma, que tem 40% do tempo colará sua figura à de Lula. Serra insistirá na biografia. Marina vai se colocar como a 3ª via.
O PT tem 30% de eleitorado histórico. O lulismo tem o dobro do petismo. Se o petismo morrer, o lulismo sobrevive.
Dilma tentará sugar os votos do lulismo não se comparando a Serra, mas se mostrando como a continuidade do lulismo.
Sérgio Guerra, chefe da campanha de Serra diz saber que Lula é um mito e, portanto, acima do bem e do mal. Mas diz que um mito sempre pode ser substituído por outro.
De qualquer maneira, no fundo, no fundo, seja quem ganhar, as reformas tão necessárias e urgentes ao país: trabalhista, tributária, monetária, política, eleitoral, etc. não serão feitas. São tecnicamente possíveis e viáveis, mas impossíveis politicamente.
E por isso a mensagem final vem do Barão de Itararé: "O Brasil é feito por nós. Chegou a hora de desatar os nós".
Quanto ao agronegócio, Joelmir conta outro causo. Nos anos 70 foi à Nova York entrevistar um futurólogo americano que havia predito que no ano 2000 o Brasil estaria na lanterninha de uma lista dos países mais desenvolvidos.
Joelmir perguntou porque. O americano respondeu:
- Vocês são um país tropical, terra do sol, da doença, da indolência, da preguiça...
- Ah é?
- É, a humanidade surgiu nos trópicos e teve que fugir de lá para se desenvolver em zonas temperadas.
- Então vamos ficar assim?
- Mas espere aí, tem algumas novidades aparecendo em computação, bioquímica, biotecnologia, engenharia genética...
Joelmir que nunca ouvira falar nessas coisas (eram os anos 70 afinal) perguntou:
- E o que isso quer dizer?
- Quer dizer que vocês terão ferramentas para se desenvolver, e a bioquímica lhes ajudará a dominar os trópicos e suas pragas e doenças. E então a humanidade voltará ao sol, de onde nunca deveria ter saído.
Nós somos o sol.