Na edição anterior foi abordada a questão do balanceamento de dietas para vacas leiteiras com foco no resultado de análises totais do leite, no caso, visando o incremento do teor de gordura do leite.
Nesta segunda parte, o objetivo é discutir as práticas e medidas visando o incremento do teor de proteína no leite.
BALANCEAMENTO DE DIETAS VISANDO INCREMENTO DO TEOR PROTÉICO DO LEITE
Existem vários objetivos a serem alcançados quando se formula dietas para vacas leiteiras, como a saúde do animal, incremento ou manutenção da produção de leite, aumento da persistência da produção, correção do escore corporal, dentre outros.
Com este objetivo, as dietas devem maximizar o aporte de aminoácidos e energia para a glândula mamária. Os aminoácidos serão fornecidos diretamente pela dieta, na sua porção protéica e também na síntese de proteínas microbianas no rúmen. Estas proteínas (proteína microbiana e proteína não degradável no rúmen) chegam diretamente no duodeno, resultando em um maior aporte de aminoácidos absorvidos e disponíveis para a glândula mamária.
A qualidade da proteína fornecida na dieta influencia o teor de proteína do leite, sendo que os aminoácidos lisina e metionina são os mais limitantes. Em dietas à base de silagem de milho ou suplementadas com seus co-produtos, a lisina tende a ser o aminoácido mais limitante.
Estratégias que utilizam suplementação de aminoácidos protegidos são onerosas, diminuindo sua eficiência econômica de utilização. Como podemos visualizar o perfil de aminoácidos mais próximo do ideal para a produção de leite, disponíveis e permitidos para utilização na dieta de ruminantes, é a proteína microbiana do rúmen, produzida naturalmente em grandes quantidades em dietas equilibradas, sendo também, com certeza, a mais econômica em dietas para vacas leiteiras.
Segundo o NRC (2001), tanto a produção de leite, como a produção de proteína do leite será maximizada se a quantidade de proteína degradável no rúmen (PDR) na ração ficar em torno de 12% da MS total, valor considerado ótimo para a síntese de proteína microbiana, desde que o
suprimento energético também seja adequado. Como regra geral, de 60% a 65% da proteína da dieta deve ser PDR e 35-40% deve ser proteína não degradável no rúmen (PNDR).
Segundo Reis (2008), o incremento de um ponto percentual de proteína em dietas com teor protéico de 9% a 17% resulta em aumento de apenas 0,02 ponto percentual da proteína do leite. No entanto, o mesmo autor comenta que quando a proteína da dieta estiver deficiente, a proteína do leite tende a aumentar com a utilização de fontes de PNDR.
Segundo Colmenero e Broderick (2006), o teor de 16,5% de proteína bruta (PB) foi suficiente para maximizar a produção de leite e de proteína, quando se utilizam dietas à base de silagem de milho e alfafa e milho moído com alta umidade, como a principal fonte de carboidratos não fibrosos, e o farelo de soja como fonte de suplemento protéico, conforme detalhado na tabela 1.
Dietas com maior quantidade de concentrados aumentam o teor protéico do leite. Existem limitações para as dietas com grande quantidade de concentrado, uma vez que o pH ruminal cai e diminui a digestibilidade da fibra, reduzindo o percentual de gordura do leite e aumentando a ocorrência de laminites, prejudicando a saúde dos animais.
Os co-produtos ricos em fibra (casca de soja, polpa cítrica, farelo de algodão de alta energia), são largamente utilizados em dietas, os quais, devem ser utilizados sempre em conjunto com concentrados ricos em amido (fubá ou milho), para assegurar uma fonte energética eficiente para incrementar a fermentação ruminal e, assim, aumentar a produção de proteínas microbianas no rúmen.
O fornecimento de gordura suplementar é uma ótima forma de aumentar a densidade energética das dietas, mas a gordura fornece energia para a vaca e não para os microorganismos do rúmen. Há trabalhos de pesquisa que mostram até reduções no teor de proteína do leite com o fornecimento de gordura, principalmente se for em excesso.
Dessa forma, é preciso atenção ao utilizar alimentos ricos em gordura, ainda mais se essa gordura for insaturada. Caroço de algodão e soja em grãos são alimentos excelentes, que via de regra contribuem para aumentar a produção de leite e a eficiência alimentar, mas seu uso deve ser criterioso.
Muitas vezes quando se consegue um aumento de produção com o fornecimento desses alimentos, não é raro haver queda no teor de proteína do leite. Mas isso normalmente se deve a um efeito de diluição, pelo maior volume de leite, e não a uma redução na síntese de proteína na glândula mamária.
Normalmente os ganhos que se tem em produção são economicamente mais interessantes do que as possíveis perdas em proteína com o uso de alimentos ricos em óleo.
O uso de ionóforos, bicarbonato de sódio e óxido de magnésio auxiliam no correto equilíbrio do ambiente ruminal, contribuindo para um constante aporte de proteínas microbianas, mesmo em condições adversas (estresse térmico, alto concentrado, baixa fibra efetiva).
Deste modo, os técnicos e produtores devem estar bem informados das principais práticas de alimentação e de manejo que podem maximizar a produção de leite corrigido para sólidos totais, que são as seguintes:
1. Controle de mastite com um programa efetivo de manejo.
2. Uso de testes eficientes para análise de forragem para a utilização de programas de balanceamento de rações.
“Dietas com maior quantidade de concentrados aumentam o teor protéico do leite.”
3. Maximizar o consumo de energia proveniente de carboidratos, enquanto se estabelece o atendimento do requerimento mínimo de fibra. O conteúdo mínimo de fibra nas rações de vacas no início de lactação deve ser 18% a 20% de FDA, e de 27% a 30% de FDN. Cerca de 75% do FDN da dieta de ser proveniente da forragem.
4. Rações no início de lactação devem conter 35% a 40% de CNF, a fim de fornecer carboidratos disponíveis para estimular síntese de proteína microbiana.
5. As rações devem ser balanceadas considerando ambos, proteína total e as frações protéicas. Orientações para o início da lactação são: 17% a 18% de proteína na ração. Cerca de 60% a 65% do total da proteína deveria vir de fonte degradável no rúmen (PDR), e 35% a 40% de proteína não degradável (PNDR), enquanto 30% a 35% refere-se a proteína solúvel de alta degradação ruminal (PSR).
6. Recomenda-se o uso de misturas de fontes protéicas na formulação de rações. Tal procedimento decrescerá as chances de imbalanço de aminoácidos.
7. Considerar os cuidados na adição de gordura, pois tal procedimento pode diminuir os teores de proteína do leite. Contudo, pode-se obter aumento na produção de leite e decrescer o balaço negativo de energia. As respostas na produção de leite e condição corporal são normalmente mais importantes em termos econômicos do que o potencial decréscimo no conteúdo de proteína do leite.
8. Desenvolver estratégias de manejo para maximizar o consumo de matéria seca. Tal fato é de especial importância no início da lactação, permitindo que a vaca minimize as perdas da condição corporal observada após a parição.
9. Fornecer forragem antes dos grãos para minimizar os problemas relativos ao decréscimo do pH ruminal e mudanças no padrão de fermentação.
10. Envidar esforços para o fornecimento de fontes de energia antes ou no mesmo tempo da fonte de proteína. Tal procedimento permitirá a maximização da utilização da proteína e estimulará a síntese de proteína microbiana.
11. Avaliar o consumo de matéria seca do rebanho, e dessa forma estar atento às seguintes questões: Quanto de forragem e de grãos as vacas estão realmente consumindo? Os nutrientes consumidos estão suprindo o requerimento das vacas?
“Caroço de algodão e soja em grãos são alimentos excelentes, que via de regra contribuem para aumentar a produção de leite e a eficiência alimentar, mas seu uso deve ser criterioso.”
Diante do exposto, seria de grande importância que a adoção do pagamento por sólidos do leite seja utilizada para recompensar aqueles que produzem leite de qualidade a partir de vacas produtivas e melhores com o passar das gerações, e que não seja apenas uma ferramenta para penalizar aqueles que não atingem critérios industriais mínimos e que penalizam a eficiência de transporte de leite pela indústria.