Nada como um dia após o outro. Exatamente um mês atrás o contrato de outubro na bolsa valia ao redor de 99 reais. Hoje ele vale ao redor de 108 reais.
Descontando o funrural que ainda incide sobre esses contratos de 2011, significa que o vencimento de outubro saiu de 97 para 105 reais. Alta de 8 reais.
Como se comportou o mercado dos frigoríficos neste último mês? Livre do funrural, a arroba saiu de 95 reais trinta dias atrás, para ao redor de 99~100 reais que vale hoje. Alta de cinco reais. Todos esses preços tanto do contrato futuro, quanto do físico são preços à vista. Hmmm, me parece que o contrato de outubro “andou” mais rápido que o mercado físico, então.
Repare no gráfico abaixo a vida deste contrato de outubro. Desde janeiro até recentemente, ele acompanhava lado a lado o indicador. Com o início da queda dos preços da safra nos frigoríficos, ele resolveu cair também. Foi nesta fase que em vários momentos comentamos que isso não fazia sentido, e que o contrato de outubro estava distorcido da realidade.
Mas hoje o contrato de outubro não está mais distorcido. Ah, não. Os valores atuais podem não ser os maiores da história — a arroba à vista, já chegou a valer no ano passado, bem mais que os 108 reais de hoje, como demonstrado no gráfico — porém não são valores para a gente menosprezar.
Repare no gráfico seguinte. Este é um gráfico chamado ponto e figura desde 1994. Um gráfico “PeF” não possui uma escala de tempo como no gráfico anterior. O sobe e desce é desenhado somente a cada variação de 2% nos preços, e somente uma variação acima de 6% é colocada aqui. Quando sobe é desenhado “x”, quando cai se desenha “o”. Simples assim. Este gráfico é excelente para eliminar o excesso de zigue e zague que os gráficos costumam fazer e por isso foca no essencial do movimento.
Por focar no essencial, ele é especialmente útil para nós hoje. Dezoito anos já é maturidade, caro leitor. Já podemos usar essas informações sem medo. O que este gráfico mostra? Ele mostra o quanto a arroba está valendo acima ou abaixo da inflação. Quanto mais a arroba está valendo acima da inflação, melhor.
Os contratos da entressafra estão em alta, certo? Coloquei esta alta aí neste gráfico. São estes “x” em vermelho. O pico da entressafra em outubro está esperando uma arroba valendo 16% acima da inflação.
Esqueça os 28% do pico de 2010 por um momento. Repare no essencial. Os preços que a bolsa indica para esta entressafra se equiparam ao que ocorreu no pico de 2008 e estão entre os melhores da história do plano real. Ou seja, não é pouca coisa já ir pensando em aproveitar estes valores atuais, e se tiver boi à termo, ou negócios de trava pelos contratos futuros com os frigoríficos, fica aí a sugestão de começar a mexer o doce e garantir alguma coisa.
Para quem não trava nada com os frigoríficos e vai de peito aberto para o mercado, a sugestão é fazer negócios com opções de venda.
Você pode fazer esses negócios em qualquer corretora que opera mercado futuro na bolsa. É só perguntar para seu corretor, mas acho que já falei para você ver isso com o seu corretor antes, não é mesmo?
No mais, a geada que ocorreu há umas semanas aqui no MS, PR e SP realmente fez um estrago nos pastos e nas lavouras de milho. Em uma frase, os pastos do sul do Mato Grosso do Sul estão parecendo os pastos de Goiás agora. Só que lá é por causa da seca, aqui, pelo frio. Dos oito anos que moro aqui, isso nunca ocorreu nesta intensidade. Não creio que o mercado precificou o impacto disso corretamente.
Isso pode se desdobrar em duas coisas. Atraso na entrega dos bois à pasto nesta entressafra e uma safra a partir de dezembro mais intensa.
“Ah, Rogério, não tem boi de pasto no segundo semestre! Isso não é importante!”
Será que não tem mesmo, caro leitor? Pois em pesquisas informais que pude levantar, a oferta de bois semi-confinados é no mínimo o dobro da oferta de bois confinados e a grande maioria destes animais se encontra no MS. Não feche na idéia que o confinamento é tudo na entressafra. Não é.
Seguindo em frente, vamos dar uma olhada novamente no desenrolar do mercado de frango. Da última vez que olhamos ele tinha encostado no boi. Dissemos que isso era altista para a pecuária. Vamos atualizar esta história.
Repare aqui acima. De fato, o frango bateu no boi e subiu. Depois de uns dias o boi subiu também. Só que a alta do frango foi bem mais forteaté agora que a do boi, caro leitor. O frango desde seu piso em junho já subiu 10%, enquanto o boi 5%, e enquanto esta alta das duas carnes pesa no bolso do consumidor, por enquanto o susto está mais no frango que no boi.
Então, para resumir. Os preços dos contratos futuros não estão mais distorcidos e a partir de agora, abre-se a temporada de bons preços para a entressafra. Apesar de bons, pelo frango e pelos fatos recentes relativos ao clima no MS e PR, talvez a coisa ainda traga um pouco mais de surpresas no decorrer de agosto, no que tange uma possível continuação desta alta por mais um tempo.
Para quem não sabe normalmente o que acontece no Rio Grande do Sul é um aperitivo do que poderá ocorrer no Brasil Central. Este ano o quilo do boi e o quilo do bezerro, por algumas semanas permaneceram no mesmo valor, segundo um pecuarista que tem fazenda nos pampas e escreveu para mim. O boi foi buscar o bezerro, em outras palavras.
Poderemos ver isso novamente no Brasil Central este ano? Não sei. Já ocorreu antes? Já, sim.
Aliás, isso é muito corriqueiro de ocorrer nos picos das entressafras. Atualmente a arroba do bezerro vale R$114,00.