Manejos de produção e interações: indústria, quebradeiras e governo
Em 2008 ainda era pouco expressivo a industrialização do coco de babaçu, na época o trabalho era conduzido pelas famosas quebradeiras de coco do Maranhão.
Este trabalho exercido por elas, que foi matéria de inúmeras reportagens nacionais e internacionais, consiste em apanhar o coco no pé da palmeira, transporta-lo até perto de suas casas e quebrá-lo com machado para separar as amêndoas da casca, ambos os produtos são de fácil comercialização na região dos cocais.
A venda das amêndoas é incentivada pelo governo que repassa as cooperativas das quebradeiras à diferença entre o preço pago pelo comprador final (empresas de óleo) que hoje é de R$1,10/kg e o preço tabelado de R$1,46/kg.
A casca (epicarpo, mesocarpo e endocarpo) é vendida a granel para a queima e pouco se aproveita a farinha (mesocarpo) para outros fins. Enquanto que, quando industrializado o aproveitamento da farinha, inclusive para alimentação humana, é alto.
Algumas famílias ainda optam pela produção caseira do carvão do babaçu, ora do coco inteiro, ora do coco sem as amêndoas.
Todo este comércio movimenta toneladas de coco anualmente e na grande maioria das vezes é a única renda para as famílias carentes do estado.
Hoje no Maranhão e Tocantins já existem empresas que processam milhares de toneladas por ano. Tal tecnologia mecânica ainda vem sendo aprimorada. Os testes já perduram mais de 10 anos.
No início o coco era levado ao Rio Grande do Sul onde foram desenvolvidos os primeiros protótipos das máquinas e após algumas evoluções nos equipamentos estes foram trazidos para a região norte do país.
Hoje as duas maiores empresas, sendo uma a detentora da tecnologia de máquinas em eficiência da quebra do coco, processam anualmente mais de 500 mil toneladas de babaçu.
Para chegar a estes volumes, mas de maneira economicamente viável, o primeiro passo é identificar a melhor logística para coleta, assim são importantes voos nas áreas de babaçu para encontrar concentrações de palmeiras e comunidades nas proximidades. É importante que o catador esteja próximo ao babaçu e se desloque por conta própria para o trabalho.
Depois de identificadas as melhores regiões, outro passo é o trabalho persuasivo nas pessoas que vivem do coco, a fim de que eles vendam o produto inteiro invés de quebrado.
Antropólogas, pedagogas, engenheiros agrônomos e florestais foram contratados para manejos de originação do coco de babaçu na região dos cocais. O trabalho consiste em identificar as comunidades próximas as extensas áreas de babaçuais, convencer os moradores a vender o coco inteiro, além de programar a coleta e a logística.
Esta abordagem onde as especialistas tem a difícil tarefa de convencer os moradores em vender o coco inteiro antes de quebra-lo, é demorada e pouco eficiente uma vez que a tradição fala mais alto.
As quebradeiras entendem que ao venderem cascas e amêndoas separadamente são remuneradas por dois produtos, enquanto que vendendo o coco inteiro recebem apenas por um, contudo não contabilizam o tempo para a quebra e valem-se da tradição vinda através das gerações e perpetuam-na para filhas e netas, tanto que é comum encontrarmos três gerações debaixo da mesma árvore quebrando coco de babaçu.
Para fugir da concorrência, as indústrias arrendam fazendas para explorar o babaçu e implantar seu sistema organizacional de coleta dentro da propriedade.
Estes arrendamentos são fazendas de pecuária extensiva com grande stand de palmeiras. No Maranhão vigora a lei do babaçu livre, a mesma possibilita o catador entrar na propriedade rural mesmo sem autorização dos proprietários. Isto para os fazendeiros pode ser uma dor de cabeça caso eles tentem inibir a entrada dos catadores.
Com esse contexto é muito interessante uma parceria de arrendamento com as indústrias que, com alta tecnologia e valendo de expertise na coleta, pagam aos fazendeiros porcentagem pelo coco de babaçu extraído das áreas.
Estas empresas processadoras têm vultosos investimentos em equipamentos para logística interna e externa da fazenda. No entanto a forma mais comum de se transportar o coco é ensacado.
No pátio das indústrias esse material permanece por 90 dias secando para se chegar ao ponto ideal de processamento. Depois é processado para a produção dos subprodutos.
A quantidade de babaçu que o Maranhão tem a oferecer é muito maior que o consumo atual, no entanto a demanda pelos subprodutos vem aumentando. Hoje a Europa é ávida pela biomassa de babaçu, mas a produção é tão pequena que não compensa iniciar as exportações. Existem também empresas de explorações subterrâneas, instaladas no Maranhão que veem no óleo de babaçu uma econômica alternativa para lubrificação de sondas. Ou seja, existe sim uma demanda crescente pelo coco.
Quando houver uma política onde as empresas não sejam prejudicas pelo apoio que o governo federal oferece a população em forma de bolsa família, reduzindo assim a mão de obra disponível para manejos com o coco, uma vez que as famílias maranhenses optam a sustentar até cinco pessoas com o auxílio federal ao invés de trabalhar no campo para aumentar a renda, o volume processado de coco deve aumentar a ponto de viabilizar atender países com alta demanda de biomassa, gerando assim renda pró ativa aos trabalhadores e projetando o estado como grande produtor de biomassa sustentável.