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A arroba não está nem cara nem barata

por Rogério Goulart
Segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012 -14h36
Abaixo temos o desconto médio da arroba no Brasil Central sobre o preço da arroba de São Paulo. Esse período de janeiro/fevereiro dos anos anteriores está parecido com o que está ocorrendo agora, um desconto de 11%. Isso significa que, baseado na história, fora de SP a arroba não está nem cara nem barata. Está dentro do normal para essa época do ano.



Que pena. Seria bom que estivesse bem barata, daí a gente poderia ficar mais animado. Toda vez que qualquer preço fica dentro da média é que nem você ir na casa daquele parente que você não gosta — o que dizer no dia seguinte para os amigos?

O engraçado é que ainda estamos em um mercado de alta para a arroba. Esse mercado está subindo vacilante, indo e vindo aos poucos desde junho do ano passado quando a arroba bateu seu pior preço, ao redor de 94 reais. Depois disso ela subiu e tornou a cair, batendo um pior preço em 95 reais. Tornou a subir, tornou a cair, e essa última queda é a atual que estamos passando com um pior preço ao redor de 98 reais.

A arroba pode cair em SP até 97 reais que a coisa ainda está em alta, tecnicamente olhando para o gráfico. Ou seja, tá ruim, mas ainda tá bom.



Para o mercado futuro, a situação vai piorar. Pelo menos é o que se extrai olhando para os preços de sexta-feira. O contrato de maio, por exemplo, fechou abaixo de 95 reais por arroba. Lembra-se quando foi ficou definitivamente acima de 90 reais? Foi no final de agosto de 2010. Um ano e meio atrás. Parece que faz tanto tempo.

De um modo bem, bem geral mesmo, a arroba move seu preço de 10 em 10. Estamos na casa dos 90 agora. São esses um ano e meio falados acima. Os custos de produção vão ficar nessa casa também esse ano. O bezerro já está na casa dos 110 reais fazem três anos.

O que move a arroba, caro leitor? Oferta? Demanda? Qualidade da carne? Isso tudo move. Mas são os principais fatores? É a raiz, o cerne? Não. Isso tudo é a parte visível da placa tectônica se movendo. A energia que faz a placa tectônica se mover é outra.

O que move a pecuária é a inflação. Ou a variação dela. É uma particularidade da pecuária. Por ser um produto que serve ao mesmo tempo como reserva de valor e como linha de frente na venda ao consumidor, o boi é extremamente sensível e antenado. Pode ser visto como um indicador para inflação. Não é à toa que fundos de investimento acompanham o boi e operam o mercado futuro buscando exatamente essa função da pecuária. Não é à toa que a carne aparece tanto nos jornais.

Veja como exemplo o breve período dessas quase duas décadas de preço de arroba comparadas com os períodos de aquecimento ou esfriamento da inflação. Quando a inflação se aquece, a arroba tende a subir. Quando esfria, a arroba patina.

Isso nos leva a olhar a inflação nos dias de hoje. Olhe para a linha vermelha. Repare que o momento é de esfriamento nas pressões inflacionárias, o que nos sugere que poderíamos colocar as barbas de molho para um cenário mais otimista para 2012? Talvez. Há avisos de analistas questionando se essa desaceleração será duradoura. Uma possível retomada no segundo semestre não está descartada, dizem.



Para mim, é o que basta. Qualquer retomada na inflação muda o cenário para o boi, caro leitor. Se estamos falando do segundo semestre, então a coisa se torna ainda mais explosiva, dado o resultado ruim que chegou aos meus ouvidos do resultado geral dos confinamentos do ano passado, especialmente em Goiás.

Fica aí a dica e vamos ficar de olhos abertos. A inflação é mais importante que aparenta para o pecuarista. É por isso que acompanho isso daí permanentemente na “Movimentação do Mercado”.

Mudando de assunto. Em grãos é comum o comprador ficar dois, três dias sem abrir preço. No boi é difícil disso ocorrer. Não me lembro. Mas começou a ocorrer isso agora. É a lógica dos grãos entrando na pecuária. Primeiro foi com o mercado a termo, agora com as estratégias de compra. Vá se preparando, caro leitor. A negociação de boi está ficando mais difícil.

Isso só me diz que comercializar bem o gado, compra e venda, quero dizer, será tão ou mais importante nos próximos anos que saber produzir bem.