Os gases que mais contribuem para o efeito estufa são o gás carbônico (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). O CO2 é o que possui maior concentração no solo, em quantidade superior ao encontrado no ar e na vegetação juntos.
Em função disso, se não fosse o inevitável desmatamento para práticas agrícolas, o Brasil praticamente não contribuiria para o aquecimento global, pois nossa matriz energética comparativamente quase não queima combustível fóssil, o maior responsável pelos danos ambientais atmosféricos.
O Brasil é considerado o quarto maior poluidor do mundo, devido ao mau uso da terra em sua frente agrícola, a maior do mundo, e que avançou sobre a floresta amazônica. Mas esses números são meras suposições, estimativas.
Para avaliar o impacto ambiental gerado pelo aumento dos gases que provocam o efeito estufa, no dia 14 de maio, partiu de Piracicaba uma expedição que percorrerá os estados de Rondônia e Mato Grosso medindo a degradação do solo.
“O objetivo do projeto é quantificar a emissão de gases produzidos pelo aumento da expansão da agricultura na área sudoeste da Amazônia nos últimos 40 anos, relacioná-la com o aquecimento global e, conseqüentemente, com as mudanças climáticas neste período”, explica Carlos Cerri, pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), instituto de pesquisa e ensino da USP, localizado no Campus Luiz de Queiroz -ESALQ.
Segundo o pesquisador, no Brasil, apenas 25% da emissão de gases provém da queima de combustíveis fósseis, os outros 75% de CO2 que o país emite são originados de práticas agrícolas. Se o desmatamento for desconsiderado, o Brasil cai para a 17° lugar na posição mundial dos países emissores de GEE.
Diferente de outras regiões do país, o norte começou a se desenvolver a partir dos anos 1970 e, atualmente, a região sudoeste da floresta amazônica abriga a maior fronteira agrícola do mundo e se estende em forma de arco por Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão. “Devido a degradação do solo pelas práticas de cultivo da terra, é provável que esta área contribua de maneira significativa com as emissões. Vamos medir os dois estados onde se concentra 45% dessa expansão”.
Composta por duas equipes, a expedição passará por 22 municípios. Percorrerá mais de 15 mil quilômetros em 45 dias, cobrindo uma área de um milhão e 200 mil km2, o dobro do território da França. “Demarcamos pontos de coleta onde estaremos mapeando a vegetação nativa e medindo as quantidades de carbono e nitrogênio desprendidas pelas atividades humanas”, diz Cerri.
As amostras de solos serão analisadas no laboratório de Biogeoquímica de Solos do Cena. “A metodologia da pesquisa é simples, vamos analisar áreas de cultivo e de florestas nativas remanescentes e fazer um comparativo da quantidade de carbono existente em cada porção. A diferença existente entre as duas amostras de solo, uma intacta e outra manejada, significa a quantidade de carbono emitida na atmosfera”, conclui.
Numa etapa seguinte, serão instalados câmaras para o recolhimento gases. Ao término da pesquisa, que deve durar quatro anos, mas poderá apresentar resultados preliminares no final de 2008, a avaliação também deverá medir o estoque de carbono existente na vegetação e no solo da região sem a interferência humana.
Mais informações: Esalq - (19) 3429 4485 / 3429 4477 ou www.esalq.usp.br